O Governo utilizou o canal oficial do Ministério da Cultura no Twitter para enaltecer as políticas de esquerda. Fê-lo através de uma publicação em que compara a sua proposta de resposta à crise no setor da cultura com a resposta dada pelo governo de Passos Coelho: “Duas crises, duas respostas”, pode ler-se na imagem – que procura realçar que os primeiros apoiam a cultura e que os segundos, enquanto poder, cortaram nela.
Sinais de “desespero” Contactado pelo i, o presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, considerou que a “publicação em causa revela uma enorme desonestidade intelectual e uma manipulação populista sem qualquer freio”. Além disso, apelida-a de “desfaçatez inqualificável” por “fazer comparações entre escalas diferentes, entre percentagens e valores absolutos”. E acidifica a crítica: “Nenhum aluno do segundo ciclo conseguiria passar se fizesse uma comparação dessas num testes”. Para Rodrigues dos Santos, trata-se mesmo de descaramento: “O que é ainda mais inacreditável é que se usem plataformas oficiais do governo para fazer propaganda sectária e partidária. O descaramento desta governação começa mesmo a atingir níveis absurdos”. Além de considerar “propaganda socialista”, o líder do CDS diz também ser “uma tentativa de intoxicação da opinião pública com recursos a falsidades comparativas”. A seu ver, apenas o “desespero” poderá ter levado o Ministério da Cultura a fazer esta publicação, não lhe poupando críticas: “Um ministério irrelevante cuja responsável é uma total irrelevância política e cuja atuação não colhe o apoio da população, das forças vivas da nossa cultura, e dos agentes culturais que exigem respostas e políticas”.
“Propaganda descaradamente partidária” Nem só a direita se manifestou contra esta ação do Governo. Também Daniel Oliveira, conhecido opinador de esquerda (já militou no Bloco de Esquerda), a criticou publicamente: “Os orçamentos para a Cultura têm sido vergonhosos. Mas isso nem é um debate quando um perfil de uma rede social do Estado é usada para propaganda descaradamente partidária, ainda mais no meio de uma negociação. A pressa para entrar na fase da campanha eleitoral parece ser grande”.
Também Carlos Guimarães Pinto, antigo líder do Iniciativa Liberal, partilhou a imagem, considerando-a um “exemplo de utilização de meios do Estado para propaganda partidária por parte do PS”. Michael Seufert, antigo deputado do CDS, foi outro que recorreu ao Twitter para considerar a publicação como “propaganda nos órgãos de Estado”. Indo para terreno alaranjado, Ricardo Baptista Leite, candidato derrotado do PSD à Câmara de Sintra e deputado nacional pelo mesmo partido, questionou se aquela seria “mesmo a conta oficial do Governo”. Por fim, Carlos Abreu Amorim, antigo deputado do PSD, considerou a imagem um “panfleto digital”, notando estar “completamente errada”. Primeiro porque, “enquanto órgão de soberania não o deveria fazer, de acordo com a ética republicana que tanto apregoam mas que tão pouco praticam”; segundo porque “o panfleto é enganador mas mal construído: não se comparam euros com percentagens” e terceiro porque “querer exaltar o Ministério da Cultura é uma gargalhada – a sua titular, reconhecidamente, não serve para o cargo, todo o setor a contesta e só a ausência de oposição e a sobranceria do PM ainda por lá a mantém…”.
O i pediu esclarecimentos junto do Ministério da Cultura, não tendo obtido qualquer resposta até ao momento.
A imagem partilhada no Twitter do Ministério da Cultura.