Por António Prôa
Rui Rio alertou para o cenário de crise política e para a conveniência de o partido estar concentrado na preparação desse cenário. Na ocasião, muitos desvalorizaram essa chamada de atenção e o calendário eleitoral do PSD foi precipitado sem que tal fosse necessário. Hoje está confirmada a crise política no país e o PSD está em disputa interna de liderança.
Não só o partido não está concentrado na preparação das eleições legislativas, como prejudica a confiança dos portugueses numa alternativa de governo amadurecida. Pelo caminho ficou a devida valorização dos bons resultados alcançados pelo PSD nas eleições autárquicas.
Agora, no PSD, importa decidir qual o melhor protagonista, já não para ser líder da oposição, mas quem será o melhor primeiro-ministro de Portugal. E no país, tão rapidamente quanto possível, deve ser devolvida a palavra ao povo para decidir e repor a normalidade democrática.
No dia 14 de outubro, Rui Rio chamou a atenção para a ‘iminente’ crise política decorrente da forte possibilidade de a proposta de Orçamento do Estado vir a ser rejeitada pelo Parlamento e da provável realização de eleições antecipadas.
Então, o líder do PSD apelou ao Conselho Nacional do partido para que ponderasse adiar a decisão sobre a data das eleições diretas e do Congresso para depois da votação do Orçamento de modo a evitar que o partido se encontrasse em processo de disputa interna e, por isso, sem as condições adequadas para enfrentar as eleições legislativas.
Tratava-se de adiar a decisão sobre a marcação das eleições internas e não, conforme alguns afirmaram e outros insinuaram, de prolongar o mandato para além da sua data normal.
A decisão do Conselho Nacional do PSD em marcar o processo eleitoral interno alheando-se do contexto nacional revelou que o partido colocou em segundo plano o interesse nacional e, ao mesmo tempo, que interesses individuais se sobrepuseram ao interesse do partido.
Infelizmente, a precipitação alimentada por insinuações sem adesão à realidade levou a que o PSD esteja hoje perante uma crise política no país e, simultaneamente, em disputa interna. Desde o dia do chumbo do Orçamento que o PS está em campanha eleitoral. No entanto, o PSD está em campanha interna.
Importa, finalmente, que se instale algum bom senso na vida interna do PSD. Houve precipitação na marcação das diretas sem ponderar a chamada de atenção sobre a probabilidade de início de uma crise política, na criação de episódios equívocos que envolveram o Presidente da República e nas confusões intencionalmente lançadas sobre as intenções do líder do PSD.
Perante o chumbo do Orçamento o Presidente da República optou por anunciar antecipadamente que dissolveria o Parlamento. Poderia ter instado o primeiro-ministro a apresentar uma solução provocando a assunção da incapacidade de continuar a governar. Optou por não o fazer.
Agora, o PSD tem de clarificar a situação interna e decidir sobre a liderança o mais rapidamente possível. Mas, mais importante ainda, o país tem de ultrapassar rapidamente a crise criada pelo Partido Socialista e pelos seus parceiros à esquerda. Tal implica a realização de eleições legislativas tão rapidamente quanto possível.
Os portugueses têm dificuldade em entender que o partido que pretende ser alternativa de governação esteja em campanha interna em vez de estar a falar para o país. Mas terão ainda mais dificuldade em compreender qualquer intenção de atrasar a reposição da normalidade democrática e a desejável estabilidade governativa em função de interesses partidários.
O PSD tem de oferecer estabilidade e previsibilidade aos portugueses, sob pena destes não depositarem a confiança necessária no partido. Aos militantes do PSD cabe escolher quem poderá ser o melhor primeiro-ministro para Portugal.