Ex-bancário do BCP confessa ter desviado quase dois milhões de euros das contas de um casal em Aveiro

A mulher do arguido não fazia ideia da prática do crime, segundo disse o homem no tribunal, contudo o Ministério Público (MP) diz o contrário. Durante 11 anos, o ex-funcionário desviou de duas contas bancárias cerca de 1,7 milhões de euros, tendo-se apropriado de 423 mil euros para si e para a sua mulher. 

Um ex-bancário do Banco Comercial Português (BCP) confessou, esta terça-feira, no Tribunal de Aveiro ter desviado, durante 11 anos, milhares de euros das contas de um casal de clientes. A mulher do arguido não fazia ideia da prática do crime, segundo disse o mesmo no tribunal. Contudo, o Ministério Público (MP) diz o contrário. 

Na primeira sessão do julgamento, o ex-funcionário do BCP assumiu a autoria de todos os movimentos bancários, dos quais foi acusado pelo MP, praticados entre 2000 e 2011 e ainda todos os gastos com um cartão de crédito que estaria em nome da mulher, ainda que não soubesse explicar como é que tinha permissão para o usar, visto que não era o titular do cartão. 

O MP acusa o homem de um crime de abuso de confiança qualificado e outro de falsificação de documento agravado na forma continuada, enquanto a sua mulher está acusada de um crime de recetação na forma continuada. 

O arguido admitiu, perante os juízes, que perdeu "o controlo da situação por completo", alegando que "não tinha uma necessidade fora do normal para desviar o dinheiro". O homem, que se despediu do banco apenas em dezembro de 2011, garantiu que a mulher não conhecia a situação, algo que a acusação desconfia de que não seja verdade. 

Já a mulher do ex-bancário corroborou as declarações do homem, afirmando que não se tinha apercebido de quão incompatível era o seu nível de vida e os rendimentos legais que obtinha. Apesar de ter a sua "consciência tranquila", a mulher admitiu que se sente culpada por "não ter sido mais atenta ao que se passava dentro de casa".

A investigação deste caso iniciou-se quando o casal visado, que detinha uma pastelaria em Montemor-o-Velho, denunciou o funcionário do banco, relatando que durante vários anos ocorreram movimentos sem as respetivas autorizações nas suas contas bancárias. 

De acordo com a acusação do MP, o arguido, que era gestor das contas dos visados, retirou pelo menos 619 mil euros destas contas bancárias, através de movimentos a débito, creditando os valores monetários na sua conta e da sua mulher ou dos seus pais, e de levantamentos em numerário. O homem também terá pedido cartões de débito em nome de cada um dos ofendidos, passando a usá-los para paagamentos e operações efetuadas por débito. Para que nada fosse descoberto, o arguido terá alterado as suas moradas no sistema informático do banco para que o casal não recebesse os extratos bancários. 

O MP também apurou que o arguido mantinha provisionadas as contas tituladas pelos ofendidos para que estes não percebessem que as mesmas apresentavam saldos muito inferiores aos que deviam apresentar, procedendo a diversos movimentos a crédito por meio de transferências provenientes de contas de outros clientes do banco, ou através de operações de 'cash-advance' e emissão de livranças.

Em 11 anos, segundo verificou a investigação, o ex-funcionário movimentou cerca de 1,7 milhões de euros, tendo-se apropriado de 423 mil euros para si e para a sua mulher. 

O casal lesado reclama uma indemnização de 2,1 milhões de euros aos arguidos e ao banco, que, por sua vez, também avançou com um pedido de indemnização cível de 561 mil euros.