Hotéis de porta fechada, aberturas canceladas ou venda de unidades à procura de melhores dias. Este é o raio-x do setor hoteleiro em Portugal face à quebra de turistas devido à pandemia. O cenário não é novo. A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) já tinha admitido ao Nascer do SOL que muitos dos projetos que estavam previstos para abrir portas foram cancelados. «Muitos dos hotéis que previsivelmente iriam abrir adiaram a sua abertura e só irão abrir quando esta situação estiver resolvida, o que é natural, dado que temos praticamente todos os hotéis encerrados em todo o país», admitiu Raul Martins.
Confrontada com esta tendência de venda, a AHP garante que «a compra e venda de ativos hoteleiros sempre existiu e como sabemos continua a haver muito interesse por parte dos operadores em expandirem-se ou a entrarem no mercado. Com a pandemia não se assistiu a um ajuste significativo dos preços dos ativos, o que faz com que muitos negócios que se anunciam não venham a acontecer. Adicionalmente, os ativos hoteleiros que possam estar nessa situação negoceiam, maioritariamente, à ‘porta fechada’. Já os ativos turísticos de menor dimensão, onde muitas vezes, se inclui o AL, podem ter variações mais voláteis, ainda que em termos de oferta sejam de impacto residual».
E, face a este cenário, o responsável garantiu que continua a ser um setor com bastante procura por parte de investidores e operadores nacionais e internacionais.
Ainda assim, um estudo realizado pelo Idealista não deixa margem para dúvidas: o número de hotéis à venda no país continua a subir e o número já chega quase às duas centenas em território continental e ilhas.
É certo que este súbito crescimento nos hotéis à venda não surpreende os responsáveis do setor. Em abril deste ano, Francisco Calheiros já tinha dito ao Nascer do SOL que «há alguns que não vão abrir mais, porque os apoios do Governo ou são insuficientes ou vêm tarde».
Essa tendência confirma-se agora. Só no último ano, a oferta de hotéis à venda no Idealista registou um crescimento de 1% e, a meio deste mês, havia 166 hotéis à procura de um novo dono. A preocupação é ainda maior se pensarmos que a pandemia começou no início do ano de 2020 e no final desse ano o crescimento era ainda maior.
Por zonas, o maior destaque vai para a região centro, que lidera com mais unidades turísticas à venda no mercado: 44. Ainda assim, o número diminui 15%, uma vez que há um ano, nesta região, havia 52 unidades hoteleiras à venda. Seguem-se a região Norte e o Algarve, que contam com 40 e 27 – respetivamente – anúncios de hotéis à venda.
E aqui falamos apenas em prédios hoteleiros. É que na categoria de ‘prédios para uso misto’, o valor sobre consideravelmente.
Mas é Lisboa que regista o maior abalo. Na capital, o número de empreendimentos turísticos à venda disparou 75% e a região passa a contar não apenas com 12 unidades no mercado – como tinha em novembro do ano passado – mas com 21 em novembro. Nas maiores subidas destacam-se ainda os Açores (+33%) e Alentejo (+24%). Do lado contrário, além da região Centro, também a Madeira teve uma quebra na oferta de hotéis à venda (-10%). Das regiões para os distritos, o pódio é ocupado por Faro, que conta com um total de 27 hotéis à venda. Seguem-se o Porto (23), Lisboa (21), Setúbal (11), Viseu (11), Leiria (10) e ilha da Madeira (9).
Em Portugal, há apenas um distrito que não conta com um único hotel à venda: Castelo Branco. Vila Real tem apenas um.