“Julgamos que as medidas que entraram em vigor [na quarta-feira] são as necessárias”, declarou esta quinta-feira a ministra Mariana Vieira da Silva, no final da reunião do Conselho de Ministros. Mas várias autarquias começam a ir mais longe e a anunciar o cancelamento da programação para o fim do ano, ao mesmo tempo que restaurantes e hotéis veem ser canceladas marcações.
Num restaurante popular da capital, o proprietário relatou ao i que nos últimos dias já foram cancelados jantares que envolviam cerca de mil convidados, em particular de empresas. Na hora da desmarcação, os responsáveis invocam que não querem ser associados a festas nesta altura de aumento de casos de covid-19, agravados pela incerteza em torno da nova variante. Também fonte do ramo hoteleiro confirmou centenas de desmarcações só num operador de média dimensão.
Do lado das autarquias, a primeira a cancelar os festejos da passagem de ano não foi o Porto, a maior Câmara a tomar a decisão até ao momento, mas o concelho de Mira, que cancelou a festa na praia que costuma juntar milhares de pessoas.
Seguiu-se na quarta-feira o anúncio de Rui Moreira, que cancelou o fogo de artifício. Um concerto dos GNR que estava agendado para o último dia do ano foi antecipado para a véspera no Pavilhão Rosa Mota, com lugares marcados e só para quem tem vacinação completa. “Vamos evitar a concentração nas ruas por essa razão. Era nossa intenção fazer o fogo-de-artifício na praia, mas as circunstâncias são o que são e temos de nos ajustar”, justificou.
Seguiu-se na quinta-feira a decisão de Albufeira, município conhecido pelos grandes réveillons. Vai haver fogo de artifício, mas sem assistência na Praia dos Pescadores. “Será um espetáculo feito de forma deslocalizada. Teremos fogo de artifício em vários pontos do concelho para que as pessoas possam ver a partir das suas casas e dos hotéis onde estejam alojadas», disse José Carlos Rolo ao jornal regional Sul Informação.
Também Tomar cancelou os eventos de Natal e Passagem de ano, decisão que se repetiu em Braga e na Nazaré, com festas mais condicionadas. Uma das incógnitas que se mantém é o réveillon em Lisboa e na Madeira, que nesta vaga de aumento de casos foi a primeira região a apertar medidas. No ano passado, com o país largamente em casa, e proibição de deslocar entre concelhos e circulação na via pública, a Madeira teve a sua festa adaptada, inclusive transmitida pela RTP.
Clubes dão a volta ao jogo Nos clubes, o movimento é outro: são já vários a anunciar que vão limitar a lotação para 5 mil pessoas para não ser obrigatório um teste recente à covid-19 para entrar nos estádios além do certificado de vacinação. A decisão surge depois de uma norma atualizada pela Direção Geral de Saúde ter clarificado, no dia em que entraram em vigor as medidas, que o teste e o certificado só são obrigatórios em eventos desportivos com mais de 5 mil espetadores quando se trate de eventos ao ar livre e mais de mil em recinto fechado. P. Ferreira, Gil Vicente, Vizela e Boavista são alguns dos clubes a avançar com esta solução, com os grandes para já de fora. Para hoje, a questão é mesmo como vão ser testados os adeptos do Benfica e do Sporting no dérbi, com capacidade para 60 mil pessoas na Luz. As portas vão abrir com duas horas e meia de antecedência para ajudar a gerir as entradas. Nas farmácias, o relato era ontem de stocks em baixo depois da corrida nos últimos dias, sendo esta uma das maiores provas à capacidade de testagem no país.
Na quarta-feira foram feitos no país um recorde de 117 mil testes à covid-19, revelou o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Até aqui, o dia com mais testes tinha sido 21 de abril, com cerca de 98 mil. Olhando para os números mais detalhadamente, publicados no site da DGS, não está a ser batido o recorde de testes PCR mas de testes rápidos, feitos nas farmácias e laboratórios.
Apesar disso, no feriado houve uma quebra nos diagnósticos, o que em parte será explicado como noutros feriados por atrasos nas notificações. Na terça-feira, os dados reportados na quarta, o país teve 4670 novos casos e na quarta-feira, feriado, baixaram para 2898, o que fontes ligadas à monitorização admitem que terá sobretudo a ver com o feriado, em que muitos laboratórios atrasam as notificações. Hoje os números já deverão aumentar mais uma vez. Na última semana, os diagnósticos subiram cerca de 30% no país, menos do que na semana anterior, mas mantendo-se a tendência de aumento de diagnósticos e de hospitalizações por covid-19. A duplicação de casos até ao Natal, prevista pelos epidemiologistas que dão apoio ao técnico ao Governo e a que aludiu a diretora-geral da Saúde, é o cenário atual, que ainda não reflete o risco de maior transmissibilidade da nova variante, ainda em estudo e para já com 19 casos confirmados no país.