Por Manuel Boto, economista
1. Na noite da votação ‘laranja’, uma escassa diferença de 5% na votação separou os candidatos. Rio festejou, Rangel carpiu. Acutilante, Costa não perdeu a oportunidade para dizer o óbvio: o PSD dos dirigentes e militantes, ficou partido ao meio.
Vamos a ver como Rio irá cerzir as feridas. Rangel deu o mote, colocando-se à disposição de Rio para a campanha (como justamente Rio reconheceu) e aumentando as probabilidades do PSD para as eleições. Se o resultado fosse ao contrário, pessoalmente não acredito que Rio fizesse campanha conjunta, mas isto são especulações inúteis.
Um último comentário sobre as eleições. Se é verdade que Rangel tinha a máquina partidária, a sua derrota apenas a ele se deve. O povo laranja claramente não se reviu em Rangel, por muito ansioso que estivesse (e está) em fazer oposição. Estórias passadas, Rangel é um brilhante tribuno e Rio só teria a ganhar se o nomeasse líder parlamentar – unindo o PSD para a campanha eleitoral.
Os próximos tempos serão uma enorme incógnita para os partidos à direita do PS. Ventura, já se posicionou para se tornar líder da oposição na convicção de que Rio, mesmo ‘picado’ como ele diz, será engolido por Costa. Cotrim terá uma oportunidade de ouro para a IL, sobretudo se Rio não souber unir o PSD. Quanto ao CDS, ou se refunda com regressos (Portas ou Ribeiro e Castro) ou nas eleições arrisca-se a nem sequer eleger qualquer deputado.
Compete agora à nação ‘laranja’ perceber se prefere ter como adversários o PS e a abstenção ou se, como Rio anunciou, opta por admitir coligações com o PS (que Costa já veio recusar liminarmente). Serão duas vias alternativas, uma com hipóteses de reafirmar o PSD como partido de poder (e Rio como primeiro-ministro), outra que certamente irá transferir muitos potenciais votos do PSD para o Chega e IL. Rio tem a palavra!
2. A inflação na Europa constitui uma verdadeira praga, em especial para todos os países sobre-endividados. Segundo a Trading Economics, com referência a novembro de 2021, confirma-se a tendência de subida face a meses anteriores.
Assim, o valor da Zona Euro está em 4,9%, na Alemanha 5,2%, a Espanha com 5,6%, o Reino Unido com 4,2%, a França com 2,8% e Portugal com 2,6%. Nos Estados Unidos, supera os 6%.
Estes valores são os mais altos desde que existe o Euro. Apenas em 1993 e 2008 a Europa registou índices acima de 3%, mas estes que agora se vêm observando, constituem uma real preocupação mundial. Obviamente que as razões principais se radicam no preço da energia, sobretudo petróleo e gás natural. Mas também as incertezas sobre as interrupções nas cadeias de produção, resultantes do aumento da procura nos pós-pandemia, estão a gerar fundamentadas preocupações.
Sem surpresa, regista-se já uma forte pressão sobre os salários. Na Alemanha, o novo Governo deverá subir o salário mínimo para 12 euros por hora (desde 2015 em 8,5 euros por hora). Esta decisão terá forte impactos reivindicativos nos restantes países da Zona Euro, pressionando as taxas de inflação.
Por muito que o BCE considere que os principais fatores geradores da inflação são de índole temporária, acreditando que esta poderá ser contida abaixo de 2% a longo prazo (Lagarde ‘dixit’), a realidade poderá ser bem diferente, sobretudo se pensarmos noutras realidades estruturais que se perspetivam, como (i) a pressão para as alterações climáticas e suas consequências económicas, sobretudo resultante dos investimentos a efetuar, e (ii) os custos do envelhecimento geral da população (embora, os últimos indicadores sobre a esperança média de vida estejam a sofrer reduções, por efeitos da covid-19).
Em suma, será de acreditar que, caso esta tendência de subida consistente da inflação não se inverta, o BCE consiga aguentar as atuais taxas de juro, perante a pressão crescente do mercado? Duvido muito e nada auguro de bom para Portugal (com a dívida pública em 134% do PIB) e para as famílias portugueses (bem expostas ao crédito à habitação e ao consumo).
3. O futebol, em geral, continua a dar sucessivos tiros nos pés! Em Portugal, alguns dos seus agentes mais relevantes andam nas primeiras páginas dos jornais, por alegadas razões que só descredibilizam a indústria. Entretanto, a Liga e FPF, apesar de uma pandemia existir há cerca de 21 meses, ainda não souberam regulamentar sobre a matéria por forma a preservar a verdade desportiva, sendo inconcebível como o jogo B SAD-Benfica não foi adiado (e não me venham com articulados legislativos para encobrir a falta de bom senso).
Mas não pensem que a nível internacional está melhor, porque a atribuição da Bola de Ouro deste ano a Messi, além de envergonhar quem a atribui, é de uma enorme perversidade para os derrotados (como por exemplo, Lewandowski, Donnarruma ou Jorginho) que nenhum marketing conseguirá encobrir. Messi, por muitos considerado o melhor jogador mundial dos últimos 20 anos, teve uma época unanimemente abaixo do seu potencial, apesar da conquista da Copa América. Desta forma, quando a atribuição destas honrarias se torna incompreensível, o futebol perde adeptos.
Em suma, são tantos os golos na própria baliza que nem mesmo os melhores jogadores e a beleza do jogo conseguem evitar as sucessivas derrotas!