À exceção do PAN, nenhum dos partidos portugueses teceu qualquer comentário sobre os violentos protestos que decorrem atualmente em Angola. O Partido Comunista Português rejeitou formalmente reagir – a passo que os outros, até ao fim desta edição, não tinham respondido ao contacto do i.
Ao i, Inês Sousa Real, líder do PAN, nota que o que hoje se assiste em Luanda é uma atitude desesperada da sociedade civil para com a “sobranceria do MPLA”. Sousa Real afirma que, embora se tenha “assistido a alguns progressos” com a saída de José Eduardo dos Santos, “muito ficou por fazer para que Angola seja uma democracia plena capaz de respeitar os direitos fundamentais e as liberdades políticas, capaz de ouvir os cidadãos e os seus anseios”. No seu entender, a violência – “ainda que condenável” – é o “resultado de um desespero da sociedade civil para com décadas de uma governação assente na sobranceria por parte do MPLA, que vê na força a única forma de manutenção do poder”.
Por fim, apela à solidariedade institucional para a resolução do problema: “É preciso que Portugal, pugnando pela solidariedade que marca o quadro da CPLP, faça todos os possíveis para que, em conjunto com o Governo Angolano, as forças da oposição e os movimentos da sociedade civil, se trabalhe numa solução que garanta a pacificação da atual situação”, assim como “a realização das eleições em condições de normalidade democrática que garantam a veracidade do processo”.
Perseguição de ativistas O governo angolano é frequentemente acusado de manter práticas autocráticas e persecutórias aos seus cidadãos. Daí resultam manifestações a favor dos direitos humanos e do aumento dos níveis de democraticidade em Angola. Em 2016, um conjunto de manifestante tomava as ruas do Porto – em frente ao Consulado Geral de Angola -, para exigir a libertação dos 17 ativistas condenados a penas de prisão por aquele Governo. À época, estes ativistas acusavam o PSD, CDS e PCP de permitirem, na Assembleia da República, o chumbo do voto de condenação a estas prisões.
Nessa altura, José Leal, um dos manifestantes, explicava à Lusa que aquelas manifestações lutavam, sobretudo, por “direitos humanos”. “Antes da política toda, da ideologia toda, estamos a falar de direitos humanos. É óbvio que não vamos ser nós a fazer a luta dos angolanos, queremos apenas estar solidários e apoiar e mostrar que as coisas não podem ser assim nos dias de hoje”. Entretanto, apesar da mudança de presidência de José Eduardo dos Santos para João Lourenço, a relação entre o povo e o governo é considerada hostil.
Tal verificou-se, por exemplo, numa manifestação ocorrida em outubro de 2020, da qual não saíram vivas duas pessoas e 387 ficaram desaparecidas – dizem os manifestantes. A manifestação procurava reclamar condições de vida e fixar uma data para a realização das primeiras eleições autárquicas. Segundo os seus organizadores, morreram baleados dois protestantes, identificados como ‘Mamã África’ e Marcelina Joaquim. Também o secretário da UNITA (maior partido da oposição, que organizou a manifestação) no Mussolo foi alvejado no braço direito.
Em Portugal, o PCP é associado ao MPLA – partido que governa Angola. Em 2018, após o PCP ter retirado da festa do “Avante!” a venda livro do ativista angolano Luaty Beirão, este afirmou que o partido português fazia tudo para “não comprometer o MPLA”, tornando-se “coerente dentro da incoerência”.