PCP vs PSD: Coerentes na ideologia e afastados por “um mar de divergências” económicas

João Oliveira não acredita que o PSD seja uma alternativa à governação socialista, colando o líder social-democrata a António Costa. Rio diz que projeto do PCP levaria o país “à ruína económica”.

João Oliveira, o primeiro a ter a palavra no segundo debate desta quarta-feira, que opõe PCP e PSD, afasta especulação em torno da sucessão de Jerónimo de Sousa à frente do partido comunista. Note-se que o líder parlamentar do PCP, assim como João Ferreira, assumiram o papel do secretário-geral do PCP, na ausência deste, uma vez que irá ser submetido a uma cirurgia de urgência na quinta-feira.

"A substituição mais urgente que precisamos é a de ser substituídos rapidamente por Jerónimo de Sousa", frisa João Oliveira, desvalorizando possíveis leituras que esta substituição de urgência aponte no sentido de um ensaio para a sucessão na liderança no PCP.

Rui Rio aproveita para desejar uma recuperação rápida a Jerónimo de Sousa e deixa escapar um elogio a João Oliveira: "Quem me dera que tivesse gente tão coerente no meu partido”.

O debate avança depois em matéria de salários, com João Oliveira a colar o PSD ao Governo socialista. “Em que é que o PSD pode ser alternativa ao que hoje temos? Não pode, porque o PSD também não deixou que os problemas fossem resolvidos”, atira, salientando a necessidade de se aumentar tanto o salário mínimo como o médio. "Uma grande emergência nacional para a qual é preciso dar resposta", atenta.

“Salários acima do mínimo não aumentaram porque as propostas foram rejeitadas pelo PS mas também pelo PSD. Não há perspetiva de que o PSD possa ser alternativa”, reforça.

No seu entender, o foco destas eleições é saber quem tem as soluções: “Pela prática do PSD não há a perspetiva de que possa resolver”, diz, argumentando que da redução de IRC proposta pelo PSD saem beneficiadas as grandes empresas.

Rio responde que quer melhores empregos e melhores salários e dirigir a política a quem cria empregos, ou seja, às empresas. "É a produção que nos vai permitir uma maior procura e um maior consumo”, garante.

“O PCP quer sair do Euro, sair da União Europeia, dissolver a NATO, a nacionalização dos setores estratégicos, restringir o capital estrangeiro", elenca, questionando como é possível devolver a robustez económica ao país nestas condições em que se "quer nacionalizar setores estratégicos".

 "O projeto do PCP levaria à ruína económica”, sentencia.

O social-democrata destaca também o “mar de divergências” que separam os dois partidos, nomeadamente na questão dos impostos. “Defendemos menos impostos, o PCP defende mais impostos”, afirma.

João Oliveira discorda que haja "medidas dirigidas às empresas que resolvam" a situação económica portuguesa, defendendo medidas que aproveitem os recursos do país e a produção nacional, para não haver dependência do estrangeiro.

Dá depois como exemplo o facto de Portugal ter importado máscaras, no início da pandemia, em vez de as produzir.  “De que é que nos serve esse modelo económico? De nada", insiste.

“O PCP defende o orgulhosamente só. Hoje quem está fechado no mundo é Cuba ou a Venezuela”, rebate o líder social-democrata, defendendo a aposta nas exportações face ao modelo de colocar a economia "nas mãos do Estado" defendido pelo PCP.

Questionado sobre o chumbo do Orçamento do Estado, que precipitou a crise política e a marcação de eleições antecipadas, João Oliveira diz que “hoje já ninguém tem dúvidas” de que o PS “estava convencido” de que ao provocar uma crise teria maioria absoluta.

"Fez tudo o que podia para ir a eleições. Como é que se explica que um Governo que queria mesmo ter um OE em plena pandemia não tivesse dado resposta a uma única proposta de reforço do SNS?”, questiona.

À boleia do deputado do PCP, o líder social-democrata aproveita para atacar António Costa: “Subscrevo aquilo que o PCP diz. Quando o PS se meteu nas mãos do PCP sabiam perfeitamente qual é a lógica de funcionamento do PCP, um partido coerente. Já sabiam o que iam pedir”.  

"Apesar de eu não estar de acordo com o PCP, António Costa entregou-se e o PCP não pediu nada que não seja do seu histórico”, critica.

Questionado sobre o aumento das pensões, Rio compromete-se a fazer aumentos, particularmente nas pensões mais baixas, mas apenas se a economia assim o permitir. E avisa: "Só dou quando posso dar”.

“Ainda faltam uns minutos, mas acho que já disse a frase do debate: se estivesse no lugar de Costa também tinha recusado as soluções que o PCP pediu”, retoma João Oliveira, insistindo na ideia de que o PSD não é uma alternativa para a resolução dos problemas do país.

Sobre a possibilidade de uma nova geringonça à esquerda, depois de conhecidos os resultados das legislativas no dia 30 de janeiro, João Oliveira diz apenas que uma maioria absoluta do PS “seria uma desgraça”, sem revelar se o PCP está disposto a novos acordos.

Notícia atualizada às 22h47