Até à data de ontem, Costa repetidamente se mostrava indisponível para acordos com os seus antigos amigos de Esquerda, ou seja, o Bloco de Esquerda e o PCP (os tais que lhe chumbaram o Orçamento). Acontece que, próximo da linha da meta das eleições – e paralelamente a uma tendência de crescimento do PSD nas sondagens –, António Costa reviu a sua posição e quer, novamente, poder piscar o olho aos seus amigos mais radicais.
“Com certeza, a seguir às eleições, todos vamos ter de falar com todos. Nunca recusei conversas com o BE, só tive pena que no Orçamento o BE tenha interrompido as conversas. Nunca tivemos nenhuma porta fechada ao Bloco”, disse, ontem de manhã, numa entrevista à Rádio Renascença. A demonstração de afeto matinal de Costa ao BE viria a obter resposta à tarde.
Resposta positiva, diga-se. A líder do BE mostrou-se animada com a eventual reaproximação, mas pediu para que António Costa se deixasse do “nim” e aceitasse um contrato de governação. “Ainda bem e ainda bem que fiz ontem o convite. Agora espero que seja possível para o PS, ainda faltam alguns dias de campanha, dar o outro passo, deixar este ‘nim’ e ser mais claro sobre a necessidade de precisarmos de um contrato à esquerda pela saúde e pelo trabalho em Portugal”.
Já a porta ao PCP, apesar de não tão aberta como ao BE, também abriu um bocadito. Sobre o diálogo com os comunistas – que João Oliveira tanto tem insistido –, Costa notou, “sem imodéstia”, ser o “político português que mais dialogou” com os partidos à sua esquerda.
Descalçou a maioria absoluta, garantindo que não iria encostar os portugueses à parede – “ou é maioria absoluta ou vou embora” –, como fez no passado. É tempo, agora, de “encontrar para o país a melhor solução de Governo”.
Nim ao PSD e Não ao Chega Quando Costa diz “todos os partidos” é mesmo todos os partidos? Nem por isso. Não inclui, por exemplo, o Chega – com quem não considera ter “muito a falar”. E com o PSD, será possível? Nim: ninguém sabe ao certo. Costa é inconclusivo na resposta: apesar de vincar as “grandes diferenças” existentes entre o PS e o PSD, explica que todos querem a “melhor solução para o país”, o que, em politiquês, quer dizer que não afasta a possibilidade. “Dia 30 verei o resultado das eleições e a partir daí veremos qual será a melhor solução para o país”, afirmou.
Isabel Moreira já o havia admitido Numa entrevista ao Nascer do SOL no passado sábado, Isabel Moreira, candidata pelo PS a Lisboa, já havia admitido a possibilidade de, vencendo “sem maioria”, o PS falar com todos os partidos, incluindo o PCP e BE. “Obviamente que, vencendo sem maioria, terá que falar com todos: incluindo com o BE e o PCP. Agora, há várias formas de governar. Pode-se governar à anos 90 – diploma a diploma –, pode-se governar com acordos, pode-se governar sem acordos. Tudo depende do que for o resultado das eleições”, afirmou.