Há luz verde dos peritos ouvidos pelo Governo para alívio das restrições da pandemia. Na reunião do Infarmed, houve consenso de que a situação atual mostra uma evolução favorável e que há condições para o levantamento no imediato de restrições.
A equipa da médica Raquel Duarte, que apresentou desde o início da pandemia as propostas de desconfinamento, defendeu o alívio em duas etapas, o nível 1 e o nível 0, recomendando desde já alterações na testagem que passaria a focar-se em pessoas sintomáticas e em contextos vulneráveis, por exemplo nas visitas a lares, considerando também que pode ser levantada a obrigação de apresentação de certificado de vacinação no acesso a estabelecimentos comerciais, bares e discotecas. Os certificados passariam a ser usados apenas em contexto de saúde ocupacional, por exemplo na admissão de novos trabalhadores.
No nível 1, a máscara mantém-se obrigatória em espaços interiores e no exterior em locais de grande densidade populacional, deixando de ser obrigatória no nível de 0, onde seria recomendada apenas perante sintomas respiratórias. Preocupações: apostar na ventilação de espaços interiores e na literacia da população, para que alguns hábitos da pandemia se mantenham, como a higienização das mãos e o uso de máscara quando se tem sintomas respiratórios. "É preciso ritualizar comportamentos, não é aceitável que voltemos a descurar higiene respiratória, ir trabalhar com sintomas respiratórias sem máscara ou não mantendo a distância", defendeu Raquel Duarte.
Nova onda epidémica expectável no próximo outono/inverno
Com os diagnósticos de covid-19 a baixar, o INSA apresentou uma modelação para os próximos 12 meses, concluindo que sem restrições e sem novos reforços vacinais, é expectável uma nova onda de infeções no próximo outono/inverno semelhante à deste ano – isto sem contar com o aparecimento de uma nova variante, apenas com o decaimento da proteção das vacinas ao longo do tempo.
Se o reforço vacinal ainda está em estudo, disse Baltazar Nunes, uma das recomendações do epidemiologista prende-se com a mortalidade registada este ano, abaixo dos invernos antes da pandemia, o que o investigador defende que deve motivar uma reflexão sobre medidas a adotar nos próximos invernos para evitar um "excesso de mortalidade" que se verificou no passado sem que fossem tomadas quaisquer medidas de saúde pública.
Novo sistema de vigilância com amostras da população e águas residuais
Também do INSA, Ana Paula Rodrigues apresentou a proposta de novo modelo de vigilância do vírus, que poderá substituir o reporte diário de casos à medida que a testagem deverá também diminuir. "À medida que forem aliviadas as medidas de saúde pública, não vai ser necessário nem possível identificar todos os casos como temos vindo a fazer".
A proposta do INSA passa por criar um novo sistema de vigilância de infeções respiratórias agudas, incluindo o SARS-COV-2, o vírus da gripe e o vírus sincicial respiratório, a partir de dados laboratoriais, dados reportados por médicos (rede sentinela), inquéritos à população, inquéritos serológicos e monitorização das águas residuais (partículas virais são expelidas na urina e fezes, pelo que a sua concentração num determinada região pode dar alerta de surtos ou circulação de vírus sem haver uma testagem massiva).
A ideia está em cima da mesa desde o início da pandemia e já é usada em saúde pública noutros contextos, como estudos de monitorização de uso de drogas e antibióticos, mas não chegou a ser implementada de forma oficial, tendo sido usada em alguns estudos no Norte do país. Agora poderá também avançar. Ana Paula Rodrigues deixou no entanto a ressalva que para avançar este novo modelo de vigilância, que assenta no contributo de vários parceiros, será preciso recursos, o quadro normativo, acesso a dados e uma coordenação. Bola que passa para o Governo, assim como as decisões finais sobre as medidas.
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