Portugal prepara-se para avançar com um alívio das medidas restritivas trazidas pelo combate à pandemia da covid-19. Houve luz verde na reunião do Infarmed e a porta foi deixada em aberto pela ministra da Saúde. Depois de tornadas públicas as ideias debatidas nesta reunião, os partidos com assento parlamentar da esquerda à direita assumiram o púlpito para anunciar aquelas que são as suas prioridades para os próximos tempos, neste setor.
PSD em sintonia Os sociais-democratas, por exemplo, avançaram estar de acordo com a maioria das propostas feitas pelos peritos na reunião. Ricardo Baptista Leite, deputado social-democrata e médico, assumiu o papel de porta-voz do partido, garantindo que “o PSD vê com agrado que, volvidos mais de dois anos desde o surgimento do primeiro caso de covid-19 no mundo, finalmente estamos no caminho de regressarmos à normalidade”. Trata-se de uma mudança, no entanto, que “não vai ocorrer numa semana ou duas, mas já percebemos que esta primavera marcará o momento de viragem”, augurou Baptista Leite.
O PSD revê-se “na maioria das propostas dos especialistas”, procurando agora que seja tido um momento de “reflexão” sobre uma maior progressividade do levantamento das restrições.
“Um levantamento simultâneo da obrigatoriedade de máscara, ao mesmo que deixa de ser utilizado o certificado, será um passo que poderia ser dado em dois momentos, libertando as máscaras em certos espaços e mantendo os certificados”, propôs o vice-presidente da bancada social-democrata, pedindo que os serviços e o turismo no período primavera/verão não sejam comprometidos.
PS alerta para continuidade Já o Partido Socialista fez saber a sua posição através do seu secretário-geral. António Costa. “A ameaça [da pandemia] persiste enquanto não houver uma vacinação à escala global”, pelo que “não podemos dar esta luta por encerrada”, escreveu no Twitter.
O primeiro-ministro agradeceu “a todos os peritos que, ao longo destes dois anos, fizeram um trabalho muito importante para que todas as decisões pudessem ser tomadas com base no conhecimento e na melhor informação científica disponível em cada momento”. Isto numa altura em que, diz, “lidámos com a experiência intensa de governar num quadro de incerteza muito elevado, solicitando aos cientistas respostas que ainda não tinham”. “Mas a verdade é que fomos vencendo etapas nesse desconhecimento e isso permitiu-nos ir calibrando as medidas ao longo de todo este tempo”, conclui.
Em termos de agradecimentos, também Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou o ‘tempo de antena’ na reunião do Infarmed para realçar “um esforço de equipa muito complexo, difícil, aturado, devotado e importante”, agradecendo aos que desde o início da pandemia de covid-19 “contribuíram diretamente ou por videoconferência com o seu saber para o aconselhamento das decisões políticas”, até porque “foram dois anos muito intensos, muito complexos, às vezes, com variações, mais previstas, menos previstas”. Mais, o Presidente da República falou diretamente a Marta Temido, ministra da Saúde, defendendo que “é a primeira a merecer também este agradecimento, como a senhora diretora-geral da Saúde [Graça Freitas]”.
Partidos querem fim de restrições Do Bloco de Esquerda à IL, passando pelo Chega, PAN e PCP, os partidos enalteceram as propostas discutidas no Infarmed para aliviar as medidas restritivas que estão em vigor. “No que toca ao BE, consideramos que é tempo de fazer o levantamento da esmagadora maioria das medidas que ainda vigoram”, argumentou Moisés Ferreira, deputado bloquista, aos jornalistas, defendendo esta proposta “exatamente porque hoje temos uma vacina, porque estarão para entrar medicamentos, porque esta variante é menos perigosa e porque temos que ter normalidade na sociedade, mesmo na fase endémica desta nova doença”.
Já do lado dos liberais, Carla Castro, deputada eleita por Lisboa, as prioridades “para ação política” são o mais importante, antevendo um regresso gradual à normalidade. A recuperação das aprendizagens, dos cuidados primários e da saúde mental são os objetivos, bem como a recuperação das listas de espera.
Finalmente, André Ventura, líder do Chega, considerou “prioritário, porque as condições já não o exigem, que os certificados digitais caiam”. Ventura argumentou também que “o uso de máscara deixa de fazer sentido globalmente indicado, ou seja, para todas as circunstâncias e deverá ser mantido apenas em circunstâncias específicas”, pedindo que a regra passe a ser o uso de máscara “quando indicado em condições específicas recomendadas pela DGS, eventualmente em espaços muito pequenos, em zonas de especial aglomeração”.
Também o PAN se mostrou agradado pelas conclusões da reunião do Infarmed, defendendo que é “altura evidente de os outros profissionais de saúde poderem retomar as suas tarefas na plenitude, profissionais que também foram alocados à monitorização desta crise sanitária”.
Bebiana Cunha, líder parlamentar do PAN, utilizou o exemplo dos médicos de família e enfermeiros dos centros de saúde que “foram retirados para dar respostas de emergência”, afirmando estarmos agora “perante uma nova forma de encarar esta pandemia, de encarar esta crise sanitária e que um dos conselhos principais que é deixado se prende com o facto de se dar mais importância à gravidade da doença do que propriamente ao número de pessoas infetadas”.
Na mesma onda dos gritos pelo fim das restrições relativas à pandemia está o Partido Comunista, que garantiu que “não se justifica a manutenção de restrições e condicionamentos à vida das populações e às atividades económicas, salvo em contexto muito concretos de caráter claramente excecional”.
O dirigente comunista Bernardino Soares defendeu que “não será aceitável a manutenção e consolidação de medidas restritivas de direitos”, e que é “indispensável reforçar os serviços públicos de saúde, em particular na área da saúde pública, para permitir a continuação da monitorização da epidemia”. Já o PEV, na mesma onda, pede “reforçar a ideia de que é necessário olhar para os cuidados primários”, pela voz da deputada Mariana Silva.