por Joana Mourão Carvalho e José Miguel Pires
António Costa vai impor uma hierarquização bem definida no seu novo Governo, com um número dois formal (que pode mesmo ter a designação de vice-primeiro-ministro). A decisão está tomada e fechada, apesar do atraso imposto pela repetição das eleições no círculo da Europa e da guerra na Europa, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, terem obrigado o primeiro-ministro a olhar para as suas opções ministeriais e a reacertar algumas das agulhas, apesar de não afetar a orgânica já desenhada.
Com efeito, se a guerra na Ucrânia colocou em alerta os Governos por todo o mundo, e em especial na Europa, agora, mais do que nunca, os ministros dos Negócios Estrangeiros, bem como os titulares da pasta da Defesa têm trabalho redobrado.
Acontece que Costa estava a pensar colocar Álvaro Siza Vieira na pasta dos Negócios Estrangeiros, com Augusto Santos Silva a perfilar-se como candidato principal dos socialistas à presidência da mesa da Assembleia da República. E na pasta da Defesa, por sua vez, o primeiro-ministro estaria a apontar para Ana Catarina Mendes, líder parlamentar do PS e uma das mais proeminentes candidatas à sua sucessão na liderança do partido.
A guerra na Europa e os desenvolvimentos entretanto havidos aconselham, porém, a que Portugal, numa altura tão sensível, mude os seus dois principais interlocutores coma UE e a NATO de uma assentada – ou seja, Santos Silva e João Gomes Cravinho. Entrando para os seus lugares duas personalidades que, embora com experiência governativa (Siza Vieira) ou política (Ana Catarina Mendes), estariam a dar os primeiros passos nas áreas.
É neste âmbito que Costa poderá querer manter João Gomes Cravinho com maiores responsabilidades na gestão desta ‘crise’ – seja nomeando-o para os Negócios Estrangeiros (dando cobertura à entrada de Ana Catarina Mendes na Defesa), seja mantendo-o com a tutela dos militares – caso em que António Costa teria de entregar outra pasta setorial à sua ainda líder parlamentar, falando-se na hipótese das Infraestruturas (se Pedro nuno Santos for confirmado na Economia) ou até na Agricultura (que será um superministério, com regresso do Mar e das Florestas).
Recorde-se que a primeira hipótese, de Cravinho ser transferido para as Necessidades, para além de implicar Siza Vieira poder ficar de fora do próximo Governo, não agradaria ao Presidente Marcelo – recordado da polémica sobre a designação do almirante Gouveia e Melo para o cargo de chefe de Estado Maior da Armada, em que Belém responsabilizou o ministro da Defesa pela precipitação do processo, que acabou por ter contornos quase surreais.
Hierarquia vertical
Sendo inquestionável que Mariana Vieira da Silva permanecerá intocável na tutela da Presidência do Conselho de Ministros, e sendo mais provável que Siza Vieira seja mesmo o MNE, deixando Gomes Cravinho com a pasta da Defesa, o que fica mais em aberto é a pasta que Costa reservará para Ana Catarina Mendes.
Por outro lado, se é certo que Fernando Medina, com as Finanças, ficará no topo da pirâmide governativa, já o mesmo não acontecerá com o também potencial futuro líder socialista Pedro Nuno Santos.
Com efeito, o hiato provocado pelo atraso na posse do Governo pode fazer com que Pedro Nuno acabe mesmo por manter-se nas Infraestruturas (podendo ficar sem a Habitação), em vez de transitar para a Economia, como Costa inicialmente tinha previsto e o Nascer do SOL noticiou.
Isto porque, se Sampaio da Nóvoa é um dos nomes mais falados para a pasta da Educação e Ensino Superior, outra personalidade com prestígio no mundo empresarial e académico que poderá reforçar o futuro elenco governativo é António Costa Silva. O pai da ‘bazuca’ ou do famoso PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) poderá assumir a pasta da Economia e da Transição Digital.
Por outro lado, também não está afastada a hipótese de António Costa reservar uma outra surpresa para a pasta da Educação ou até da Cultura: Francisco Assis. Antigo opositor interno de Costa no PS, Assis ‘converteu-se’ com o convite para a presidência do Conselho de Concertação Social e, particularmente, com o fim da geringonça – que o levou a disponibilizar-se para concorrer a deputado, o que não veio a acontecer, porque Costa o afastou das listas de candidatos do partido.
Mas, agora, Assis é um dos nomes apontados ao futuro Executivo, num sinal claro da unidade e mobilização que o líder quererá dar para o PS e para o país, em torno dos objetivos fundamentais de fazer crescer a economia a um ritmo mais acelerado do que a esmagadora maioria dos outros Estados-membros da União Europeia. Recorde-se que o objetivo primeiro de António Costa para a próxima legislatura – a maior da história da democracia (quatro anos e meio) – é tirar Portugal da cauda da Europa.
Corredores agitados
Tal como o Nascer do SOL tem vindo a noticiar, certa está, de facto, a inclusão dos chamados ‘seis ases’ do PS no novo Executivo. Assim, além de Mariana Vieira da Silva, Fernando Medina, Ana Catarina Mendes e Pedro Nuno Santos, Costa vai contar com Duarte Cordeiro (no Ambiente) e José Luís Carneiro (no Ministério da Administração Interna).
Certa também é a continuidade de Marta Temido na Saúde e muito provável a de Ana Mendes Godinho na Solidariedade, Segurança Social e Trabalho.
Nas hostes socialistas, as dúvidas são, porém, ainda muitas. Já que António Costa continua sem formalizar convites nem comunicar nomes e a estrutura do futuro gabinete.
Nos corredores, há quem já vá apresentando as suas despedidas – uma vez que as suas saídas são certas – mas também quem convoque reuniões e garanta a sua continuidade. E ainda quem vá mexendo cordelinhos para levar a água ao seu moinho.
Na Agricultura, por exemplo, as movimentações vão de norte a sul do país, ou do Minho ao Alentejo. Enquanto Joaquim Barreto é um dos nomes falados para uma secretaria de Estado (nomeadamente das Florestas), Pedro do Carmo é outro, podendo trocar o lugar no secretariado do partido pela outra Secretaria de Estado na Agricultura.
Já João Galamba, atual secretário de Estado da Energia é falado no setor como podendo manter-se no cargo, apesar das notícias veiculadas (incluindo pelo Nascer do SOL) em sentido contrário. Pelo menos, esse tem sido o sinal dominante nas reuniões que o governante tem mantido nas últimas semanas.