O Ministério do Ambiente insiste que não há um plano para reativar centrais a carvão. Questionado ontem pelo SOL, após o Expresso ter noticiado que a questão tem sido avaliada e que terá sido pedido pela Direção Geral de Energia e Geologia à EDP para suspender o desmantelamento da termoelétrica de Sines de modo a que dois grupos possam ser ativados se necessário, o gabinete de Matos Fernandes remete para o que o ministro já tinha dito na semana passada – que a avaliação foi feita, mas afastando esse cenário: «É público que essa avaliação foi feita», diz a tutela ao SOL.
«Essa avaliação concluiu pela desnecessidade de reativação das centrais. A Rússia tem um peso nos mercados mundiais de carvão ainda maior do que no gás, o que poria em causa qualquer estratégia de diversificação de risco. Por outro lado, as centrais a carvão não são necessárias do ponto de vista da segurança de abastecimento e não têm qualquer sentido do ponto de vista do preço/custos globais sistema», continua o Governo, salientando que, além de não ver vantagens financeiras, «o Governo português decidiu acelerar a produção a partir de renováveis, simplificando processos e reduzindo o tempo de licenciamento.»
Na semana passada, o SOL já tinha questionado o Ministério do Ambiente sobre se, nas atuais circunstâncias – uma guerra na Europa e uma seca persistente – estava em cima da mesa a importação de carvão como medida de contingência para o próximo outono/inverno, questão a que o Governo não respondeu, remetendo para as declarações de Matos Fernandes nas duas entrevistas em que afastou o cenário de reativação das centrais como base nas conclusões dos referidos estudos, que não foram divulgados.
O Ministério do Ambiente não explicitou também quais foram as conclusões. Como o SOL noticiou na semana passada, a importação de eletricidade em fevereiro, com a produção hídrica limitada por causa da seca e sendo o primeiro ano nestas condições meterológicas sem a alternativa do carvão, teve um custo de 270 milhões de euros para os cofres do Estado, não tendo também o Governo esclarecido qual teria sido o valor se se mantivesse a hipótese do recurso a carvão neste quadro. Os dados da REN, que confirmou que em fevereiro houve o maior peso de importação no consumo desde agosto de 1985, mostram que em secas recentes, como em 2019, o carvão chegava a representar 25% do consumo.
Da hipótese à concretização
Segundo o SOL apurou, houve uma ‘sondagem’ da EDP e da Tejo Energia para a hipótese de reativação da produção a carvão, não estanto nada fechado. E, questionadas por este jornal, a opção das duas empresas com know-how e infra-estrutura para a produção a carvão é, a esta altura, nada dizer.
Questionada sobre eventuais diligências para que não seja desmantelada a central do Pego, cuja licença terminou em novembro, a Tejo Energia não respondeu. Já a EDP, questionada sobre instruções para a suspensão do desmantelamento da central termoelétrica de Sines, bem como se foi feita alguma encomenda de carvão ou se existe em reserva, respondeu que a empresa «não irá responder ou comentar» este tema. Também a REN, que o SOL já tinha questionado sobre estudos nesta vertente, não respondeu.
Segundo fontes do setor ouvidas pelo SOL, tudo se resume a um ponto: por mais estudos ou diligências formais e informais, as centrais do carvão só serão reativadas se, e quando, houver essa decisão política, sendo uma questão que se pode colocar mais no outono/inverno, quando há maiores consumos de eletricidade, do que na primavera/verão. No imediato não há carvão a caminho. E pelo menos no Pego, onde o SOL esteve aquando do fecho do central, não restou nada.
Entretanto o preço da eletricidade no mercado ibérico, que bateu recordes no início do mês, baixou para um preço médio diário de 232€euros por MWh. Com a subida de preços, este mês a REN tem estado a despachar menos eletricidade importada, com maior contributo sobretudo da produção eólica, a que ajudou o tempo. Até dia 17 de março, revelam os dados diários da REN que o SOL analisou, a eletricidade importada teve um peso de 17,2% no consumo, menos que os 33,9% de março. Mas o recurso e fatura da importação continuam altos face ao histórico dos últimos anos.