O PCP voltou a acusar o Governo e a União Europeia de estarem a alimentar a “confrontação” com a Rússia. No debate da Comissão Permanente da Assembleia da República preparatório do Conselho Europeu, o PCP fez mais uma intervenção “pela paz”, mas, mais uma vez, sem condenar a Rússia ou reconhecer a invasão da Ucrânia.
A deputada comunista Paula Santos reafirmou que a paz que o partido defende exige “trabalhar para uma arquitetura de segurança na Europa” e “não na política de confrontação” que “levou à guerra”, criticando o Governo e a UE pelo reforço da presença militar a leste e pelas sanções que têm vindo a ser aplicadas à Rússia. “Não se põe fim à guerra insistindo no caminho que conduziu a ela”, argumentou.
Paula Santos contestou ainda que a União Europeia se prepare para aumentar as despesas militares, lamentando que “se fale em isenções de IVA na compra de armamento e de outro material e equipamento militar, quando são aplicadas taxas máximas de IVA em bens de primeira necessidade, como a eletricidade ou o gás de botija”. “Os aumentos de energia tenderão a acentuar-se pela guerra, sobretudo por causa do efeito das sanções”, frisou, considerando que “a guerra e as sanções penalizam os mesmos de sempre, os trabalhadores e os povos, enquanto os grupos económicos continuam a amealhar fabulosos lucros”.
Na mesma linha, Mariana Silva, d’ Os Verdes, defendeu que “a resposta não pode ser militar”, mas sim pacífica e diplomática, reforçando a crítica sobre a presença de Portugal na NATO.
A deputada do PEV atacou ainda os líderes europeus pela posição “belicista” que adotaram.
“Não se defende a paz com manifestações” De volta ao hemiciclo, ao fim de mais de três meses, o primeiro-ministro mereceu os aplausos das bancadas do PSD e CDS, pela sua resposta às intervenções das deputadas do PCP e PEV.
“Não sejamos ingénuos”, começou António Costa. “Não estamos num conflito entre duas partes, estamos num país que estava em paz e que foi agredido, invadido, e vítima de uma guerra de forma criminosa. Queremos defender a paz, mas não se defende a paz com manifestações, mas com manobras dissuasoras”, atirou.
Sobre a intervenção da NATO foi muito claro: “Não vamos participar na guerra, mas vamos participar na defesa da ameaça contra a guerra.”
Com um Parlamento e um Governo a defenderem sanções à Rússia foi novamente notório o isolamento dos comunistas nesta matéria, com o qual apenas o seu parceiro de coligação mostrou estar em sintonia.
No Bloco de Esquerda, condenou-se a “destruição de um país”, com a bancada bloquista a defender uma solução que passe por uma “conferência de paz, sob a égide da ONU”, dadas as repetidas tentativas infrutíferas de negociações entre a Rússia e a Ucrânia.
No PSD, entende-se a invasão da Ucrânia como uma guerra “contra a Europa, a NATO e todo o mundo civilizado”, que desencadeou efeitos “rigorosamente contrários aos desejados pelo ditador russo”, como mais unidade da UE, maior apoio da opinião pública à NATO e “uma grande antipatia mundial” em relação à Rússia.
“Reforçou tudo o que Putin pretendia enfraquecer”, disse Rui Rio, defendendo que cabe agora à Europa dar “a resposta mais eficaz e inteligente” que conseguir, nomeadamente no que se refere a sanções económicas, apoio militar e social à Ucrânia, apoio aos refugiados e isolamento da Rússia.
Apesar de reconhecer que as sanções “têm, naturalmente, um efeito boomerang”, garante que este é o “preço indispensável” a pagar pela segurança. Neste sentido, na ótica do líder social-democrata, o Governo tem de ser capaz de “tomar as medidas corretas” para atenuar as consequências e a oposição não pode fazer “um aproveitamento populista” da situação.
Também o Chega foi alvo de reprimenda no plenário pela posição sobre a crise humanitária e de refugiados que a guerra desencadeou. André Ventura afirmou que é preciso acolher quem foge da guerra, mas fez uma distinção: “Estes não são iguais aos outros, que vêm de sítios onde as bombas não estão a cair, como os que vêm do Afeganistão para pôr as nossas mulheres de burca e sacar subsídios”,
Costa não deixou passar a afirmação. “Apesar de nem todos dizerem o que diz o deputado André Ventura com o maior dos desplantes, há outros que o pensam isso, mas sem o dizer. Para Portugal, o que justifica a proteção internacional é a dignidade humana. A dignidade humana é indiferente em relação à origem, seja ucraniano, seja sírio ou líbio”, declarou.