Por Daniela Soares Ferreira e Sónia Peres Pinto
Há um problema transversal a todos os setores que não deixa ninguém indiferente: a falta de mão-de-obra. A opinião junto dos vários empresários e responsáveis de vários setores ouvidos pelo nosso jornal é unânime. A restauração é um dos setores mais afetados. De acordo com as contas da AHRESP, relativas aos primeiros meses do ano davam conta da falta de 40 mil trabalhadores no setor. «Antes da pandemia fizemos um debate sobre o mercado de trabalho e sobre as dificuldades que estávamos a sentir e chegámos à conclusão que se tivéssemos 40 mil pessoas teríamos dado emprego a todos. A situação não só não se resolveu como até se agravou», disse Ana Jacinto, secretária-geral da associação.
Uma opinião partilhada por Daniel Serra, presidente da Pro.Var. «O Governo deve rever urgentemente as políticas relacionadas com o incentivo ao emprego, do ponto de vista da procura e da oferta». E lembra que «é preciso implementar novas regras de incentivo ao emprego», acrescentando que o «setor precisa de contratar mais e é necessário rever as políticas relacionadas com o incentivo ao emprego».
O cenário repete-se na construção. De acordo com o presidente do Sindicato da Construção de Portugal, Albano Ribeiro, só este setor precisa de 80 mil trabalhadores. Uma escassez que poderá pôr em causa vários projetos que estão em cima da mesa, obrigando «muitas obras públicas e privadas a não avançarem» e originando «situações de trabalho precário, clandestino e à criação de redes de angariadores».
Os dados também não são animadores na distribuição. Em entrevista ao Nascer do SOL, Gonçalo Lobo Xavier, secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), chegou a admitir que há dificuldade em recrutar pessoas. «Temos dificuldade em recrutar para algumas áreas específicas, sobretudo as que são bastante técnicas, que exigem algum conhecimento e formação».
Já sobre a hipótese de os refugiados ucranianos poderem ajudar a combater esta falha, Gonçalo Lobo Xavier diz que, numa segunda fase, «as empresas portuguesas podem integrá-los com um ganho de causa não só para as empresas, mas também para a sociedade, para a economia e sobretudo para eles próprios».
No setor dos vinhos a realidade ganha maiores contornos na altura da vindima. «Temos um problema estrutural da falta de mão-de-obra que se está a agravar em algumas regiões, um bocadinho mais do interior. Têm que ser encontradas soluções e, claramente, ir buscar mão de obra fora. Trazer mão de obra de fora nestas épocas torna-se cada vez mais essencial. Mas é um problema que nós temos, estrutural, e que vai continuar a agravar-se», referiu ao jornal i.
Também o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) reconhece que esta está a ser uma verdadeira dor de cabeça junto dos empresários. No entanto, o patrão dos patrões garante que a crise pandémica veio despertar «a perceção de todos em relação à maneira de estar e depois houve o abandono de muita gente que trabalhava, até porque alguns se reformaram mais cedo», acrescentando que «há uma postura diferente na forma de estar do trabalho que sociologicamente deve ter alguma leitura e deve ser avaliado. Mas não é só um problema nosso, os trabalhadores americanos estão-se a despedir em massa desde a pandemia».
No seu entender, «Portugal deveria ter uma política de captação de imigração que estivesse bem definida para captar imigrantes com vista a colmatar as necessidades de mão-de-obra do nosso país», seguindo o exemplo de outros países.