A Comissão Europeia está mais otimista e vê o Produto Interno Bruto (PIB) português a crescer 5,8% este ano, o que significa uma revisão em alta face às anteriores projeções de 5,5% e fica bem acima das metas apontadas pelo Governo e pelo Banco de Portugal que apontam para um crescimento de 4,9%.
Bruxelas justifica esta revisão com o “forte arranque do ano” afirmando que o setor dos serviços, particularmente o do turismo internacional, irá recuperar “intensamente” face à base baixa dos anos anteriores afetados pela pandemia. Esta revisão em alta acontece depois de o Instituto Nacional de Estatística (INE) ter revelado que o PIB cresceu 2,6% em cadeia no primeiro trimestre, superando todas as expectativas.
A manterem-se estes números, Portugal será o país da União Europeia que mais irá crescer este ano. Segue-se a Irlanda (5,4%), Malta (4,2%) e Espanha (4%). A média dos 27 Estados-membros da UE, assim como a média dos 19 Estados-membros da Zona Euro, crescerá 2,7% em 2022, em consequência da guerra na Ucrânia.
Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, lembra que “a guerra na Ucrânia influenciou negativamente as projeções económicas para a União Europeia, facto que forçou Bruxelas a rever em baixa o crescimento do PIB para 2022 e em alta a inflação, agudizando os receios de uma estagflação na Europa”, refere ao i.
No entanto, lembra que o nosso país “poderá ser considerado um ‘beneficiário líquido’ da atual situação geopolítica no leste europeu porque Portugal é percecionado como mais longínquo do conflito, podendo, assim, capitalizar com um acréscimo de turismo e alguma deslocalização de investimento que estava destinado ao leste europeu”.
Também o analista da XTB Henrique Tomé diz ao i que “é importante destacar que as projeções da Comissão Europeia apontam para um crescimento económico este ano em Portugal, acima da média europeia, esperando que cresça cerca de 5,8%, em contraste com as grandes economias europeias como Alemanha e França que deverão crescer cerca de 1,6% e 3,1% respetivamente”.
Uma tendência que, segundo o mesmo, contraria as perspetivas para a Zona Euro “com um crescimento de apenas 2,7% este ano e 2,3% em 2023, enquanto que a inflação foi revista em alta para os 6,8% este ano, muito acima das previsões de fevereiro que apontavam para um aumento da taxa de inflação de ‘apenas’ 3,5%”.
António Costa reagiu a estes números e acenou com a robustez da economia e com a inflação controlada no médio prazo. “As projeções económicas publicadas pela Comissão Europeia são muito favoráveis a Portugal, superando mesmo as atuais previsões de crescimento do Governo. De acordo com a Comissão, teremos o maior crescimento da UE em 2022 e retomamos a convergência”, escreveu o primeiro-ministro no Twitter.
Para 2023, a previsão da Comissão Europeia é que a economia portuguesa desacelere para um crescimento de 2,7%. A procura interna deverá continuar a sustentar o crescimento nestes dois anos, com o investimento a crescer mais do que o consumo privado — ajudada pela redução da taxa de poupança de 10,9% para 7,7% — por causa da implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Inflação sobe e desemprego cai De acordo com os mesmos dados também a taxa de inflação em Portugal foi revista em alta e deverá fixar-se nos 4,4% em 2022, enquanto a taxa de desemprego deverá cair para 5,7% este ano, face aos 6,6% registados em 2021 e para 5,5% em 2023. Os técnicos de Bruxelas destacam ainda que a taxa de emprego atingiu um máximo histórico no final de 2021 e início de 2022, ainda que as horas trabalhadas permaneçam abaixo do nível pré-pandemia.
“Apesar da Comissão Europeia ter revisto em alta o PIB português para 2022 em 3 décimas, de 5,5% para 5,8%, a aceleração da subida dos preços da energia e dos alimentos, desde o início da Ucrânia, levou a uma revisão em alta da inflação portuguesa para 4,4% em 2022. Um acréscimo do PIB nominal permite também que o rácio da dívida pública desça abaixo dos 120% este ano, segundo a comissão europeia, um número melhor do que o estimado pelo Executivo português de 120,7%”, lembra Paulo Rosa.
Dívida abaixo dos 120% A Comissão Europeia antevê uma descida maior do rácio da dívida pública em percentagem do PIB: 119,9%, já abaixo dos 120%, o que compara com os 120,7% do PIB previstos pelo Executivo. Em 2023, poderá chegar a 115,3% do PIB, atingindo o nível pré-pandemia (116,6% do PIB em 2019). E um défice de 1,9% do PIB este ano, abaixo dos 3,4% estimados no outono, estando assim em linha com a estimativa do Ministério das Finanças para este ano que está presente na proposta do Orçamento do Estado.
Bruxelas destaca que Portugal registou um défice de 2,8% do PIB em 2021, abaixo dos 5,8% observados em 2020, devido a uma maior entrada de receitas de impostos e contribuições sociais e à maior entrada de fundos da União Europeia face a 2020, mas também das receitas extraordinárias devido ao reembolso da margem pré-paga ao Mecanismo Europeu de Estabilidade.
Por outro lado, a despesa pública continuou a pesar, com as pressões ascendentes da despesa pré-pandemia, especialmente com prestações sociais e massa salarial pública, a serem ampliadas pela necessidade de resposta ao impacto da covid-19.
No entanto, admite que as finanças públicas deverão continuar a melhorar ao longo do horizonte de previsão, apoiadas pelo crescimento económico. “Por um lado, espera-se que a redução gradual das medidas temporárias tomadas em resposta à pandemia contribua para reduzir o défice, apesar dos efeitos possivelmente duradouros do consumo intermédio, relacionados com a saúde e a massa salarial pública”, diz o documento.
Por outro lado, a despesa pública continuou a pesar, com as pressões ascendentes da despesa pré-pandemia, especialmente com prestações sociais e massa salarial pública, a serem ampliadas pela necessidade de resposta ao impacto da Covid-19.
A Comissão Europeia assinala, assim, que o investimento público deverá acelerar para 3% do PIB em 2022 e permanecer num nível historicamente alto em 2023, impulsionado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).