Subida de juros “assusta” mercado imobiliário

Preocupação é comum para quem vai pedir crédito à habitação como para quem já comprou casa.

O Banco Central Europeu (BCE) tem vindo nas últimas semanas a acenar com a possibilidade quase garantida de subir juros. E os alarmes vão aumentando não só para quem adquiriu agora casa, como também para aqueles que tinham um crédito à habitação. E Christine Lagarde já veio reconhecer, na semana passada, que uma abordagem apenas “gradual” no ritmo de subida das taxas de juro poderá não ser suficiente para fazer face aos riscos da inflação. A ideia do banco central é acabar com as compras de dívida no terceiro trimestre, permitindo subir as taxas de juro pela primeira vez em julho e a expectativa atual do BCE é que até ao final do terceiro trimestre a zona euro deixará de ter taxas de juro negativas – uma referência à taxa de juro dos depósitos, que está em -0,5%.

O analista da XTB, Henrique Tomé, reconhece que, “a curto prazo, o aumento das taxas de juro poderá efetivamente baixar a procura no mercado imobiliário, que poderá traduzir-se numa ligeira correção dos preços”, acrescentando ainda que “as preocupações em torno dum possível abrandamento económico também podem alimentar este cenário de correção dos preços dos imóveis”. Ainda assim, mostra-se otimista e lembra que as taxas de juro têm estado em mínimos há vários anos, acreditando que, apesar de começarem a aumentar, estes aumentos serão graduais e não deverão ter um grande impacto nas famílias. “Quando comparamos com o que está a acontecer nos EUA, o BCE está a ter uma postura muito mais cautelosa, mas de facto existe essa possibilidade. Temos assistido a vários setores a abrandar, menos o setor imobiliário que continua sólido”.

Mais pessimista está Nuno Garcia, diretor-geral da GesConsult, ao entender que “a subida de juros traz consigo a subida das despesas mensais associadas à habitação”, que incluem a prestação mensal do empréstimo. “Para as famílias, isto é algo que pode ser difícil de ultrapassar, pois, se pagarem as contas da luz, da água e do gás já era, muitas vezes, um desafio, com a subida da prestação mensal do crédito, a situação agrava-se”. E, face a esse cenário, o responsável aconselha os compradores a analisarem bem a situação e perceberem se conseguirão garantir o pagamento das suas despesas, “para que não passemos por aquilo que aconteceu em 2011, altura em que os créditos estavam parados por falhas de pagamento”.

E se, por um lado, Nuno Garcia afirma que o mercado de arrendamento pode ser visto como uma oportunidade e como uma solução de resposta ao mercado mais imediata, Henrique Tomé aconselha a quem estiver a preparar-se para comprar casa nestes próximos meses a negociar bem os preços a fim de evitar que esteja a pagar um valor excessivo por um imóvel demasiado inflacionado e especulativo.

Ao i, Natália Nunes, responsável pelo Gabinete de Proteção Financeira da Deco, já tinha reconhecido que a decisão de subida de juros iria inevitavelmente afetar quem tem crédito à habitação e que poderá ganhar novos contornos para os consumidores que estão no limite de pagamento das suas despesas.