O Presidente da República está preocupado com a possibilidade de o país perder uma excelente oportunidade de se relançar, nomeadamente com a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), e quer que Luís Montenegro faça oposição efetiva a António Costa, sempre com o beneplácito de Belém. «Os próximos nove meses serão decisivos para o novo líder do PSD se afirmar, até porque é previsível que vá acontecer contestação social nas ruas» e o Presidente quer estar recatado nessa fase, segundo confidenciaram ao Nascer do SOL fontes da Presidência, acrescentando: «É preciso que o novo líder entenda que deve estar em sintonia com o Presidente, pois só dessa forma se poderá fiscalizar a ação governativa».
As mesmas fontes preveem que este mandato de António Costa seja marcado por três fases distintas: a que estamos a viver, em que o PCP e o BE foram afastados e em que o Governo faz uma operação de charme ao Livre e ao PAN, mas que vai começar a confrontar-se com as manifestações de rua. «Nesta fase da governação, que começou há poucos meses e irá até meados do próximo ano, é natural que Costa tenha a vantagem de dizer que está a pôr em andamento os seus projetos e que os resultados só se verão mais à frente, e não ficava bem ao Presidente pedir contas pelo que não estiver a ser feito», acrescenta uma fonte de Belém. «O Presidente vai esperar para ver e só depois se pronunciará, já que não quer ser considerado uma força de bloqueio».
As obras decisivas do PRR
Mas tudo começará a «aquecer» na segunda fase, altura em que as obras do PRR poderão estar em causa, até pela falta de mão-de-obra. Se o Governo começar a perceber que algumas das obras podem ficar comprometidas e que não conseguirá receber a totalidade das verbas por não se cumprirem os prazos de execução, «então aí entrará em roda livre», e convém que exista «uma oposição forte do PSD».
A concretização do PRR – «uma oportunidade única para modernizar o país e que nenhum Governo dispôs» – é o que mais preocupa o Presidente se descontarmos a sua sucessão. Nesta segunda fase, o Governo começará a enfrentar eleições, há as regionais da Madeira e as Europeias, que antecedem a terceira e decisiva parte da governação. Aqui entram as promessas e as «benesses» à função pública, e não só, que poderemos, de acordo com as mesmas fontes, catalogar «de abrir os cordões à bolsa».
Aqui chegados, estamos na época de preparar as eleições presidenciais e as legislativas. Sobre esta matéria, a da sua sucessão, o Presidente da República está preocupado com a luta à direita, entre Luís Marques Mendes – que Marcelo acha que «está a querer agradar a gregos e a troianos e que poderá perder com isso, basta ver a dificuldade que teve em criticar, numa primeira fase da guerra da Ucrânia, o PCP» – Paulo Portas… e o almirante Henrique Gouveia e Melo, «um populista em toda a linha que pode fazer com que a esquerda vença estas eleições presidenciais», segundo as mesmas fontes, por dividir os votos da direita.
Curiosamente, Paulo Portas, dizem as mesmas fontes, está a fazer o seu caminho pela calada e logo averiguará se tem ou não alguma hipótese nesta guerra entre Marques Mendes e Gouveia e Melo.
Passos Coelho não entra na equação e Durão Barroso também não, pois seria difícil ao antigo presidente da Comissão Europeia – tão ausente do país – ombrear com os três putativos candidatos da direita.
O ‘perigo’ do almirante
O grande perigo desta presidenciais é, portanto, segundo Belém, a incógnita do almirante. Terão Marques Mendes e Paulo Portas argumentos para «neutralizarem» o homem que ficou conhecido no país inteiro por causa do processo de vacinação contra a covid-19? Na memória de muitos estão as homenagens públicas onde Gouveia e Melo foi amplamente aplaudido, além das suas contradições sobre o seu futuro político.
Primeiro começou por dizer que não estava no seu horizonte e depois acabou a admitir que não se pode excluir uma incursão no mundo da política, que é como quem diz, concorrer a Belém. E desde os mandatos de Ramalho Eanes, entre 1976 e 1986, que não se vê um militar como chefe de Estado.
Já à esquerda, o Presidente acredita que Ana Gomes e Sampaio da Nóvoa não «contam para o campeonato» e não vão interferir nas contas finais.
Costa avançará para Belém ou lança Santos Silva?
Agora vem a parte mais sumarenta. Se as eleições presidenciais são em janeiro e as legislativas em outubro ou novembro, António Costa terá de decidir o que quer fazer à sua vida. Se não sair em 2024 para ir para Bruxelas – algo que em Belém ninguém acredita, pois isso implicaria a dissolução da Assembleia da República – o que fará então António Costa? Deixará o caminho livre para o seu ‘amigo’ Augusto Santos Silva ou irá concorrer a Presidente da República? Conseguirá Costa o pleno?
Com o dinheiro que os governos costumam ‘cativar’ para a última fase do mandato, é natural que Costa antes de se decidir por avançar para Belém, faça promessas e distribua benesses pela população, deixando o PS numa boa situação para ganhar as legislativas, permitindo-lhe avançar para as eleições presidenciais. Mas isso só Costa saberá, e nem Marcelo nem os hipotéticos candidatos poderão fazer alguma coisa contra ou a favor.
A bola está do lado do primeiro-ministro, que pode escolher o momento da sua saída já quando Marcelo nada poder fazer, uma vez que o PR está impedido de dissolver o Parlamento nos últimos seis meses do seu mandato.