O Banco de Portugal (BdP) divulgou as suas previsões económicas para este ano e os seguintes e prevê que o crescimento da economia portuguesa chegue aos 6,3% este ano, «refletindo um forte efeito de arrastamento associado ao crescimento ao longo de 2021, a dinâmica do primeiro trimestre do ano, mas também uma acentuada desaceleração no resto do ano». Nos anos seguintes, o crescimento recua para 2,6% em 2023 e 2% em 2024.
Valores que não surpreendem o economista Paulo Rosa, do Banco Carregosa, ouvido pelo Nascer do SOL. As previsões, diz, «são positivas e refletem a recuperação da economia portuguesa da crise pandémica». E explica: «De salientar que o PIB português contraiu 8,4% em 2020, e foi dos mais afetados pelo distanciamento social, ditado pela pandemia, que penalizou nomeadamente o setor do turismo nacional, cujo peso na economia portuguesa é de cerca de 10%».
No ano seguinte, em 2021, a economia nacional melhorou mas já só cresceu 4,9% «e o ímpeto da recuperação mantém-se e suporta a atual projeção em alta do Banco de Portugal, sustentada também pelo regresso do turismo, cada vez mais robusto com a aproximação do verão».
O economista diz ainda que o consumo privado ainda deverá também apoiar o crescimento económico nacional durante o verão deste ano, «mas a crescente inflação diminui o rendimento disponível das famílias e penaliza a procura interna».
E é natural que, depois, a economia portuguesa continue a crescer, mas não tanto. «Depois do atual ímpeto da economia nacional, sustentado em parte pelo turismo e pelo consumo interno, a economia portuguesa alcança gradualmente os níveis pré-pandemia e o crescimento tende a abrandar, penalizado principalmente pela elevada inflação», explica Paulo Rosa. Por isso, «é normal a revisão em baixa pelo Banco de Portugal do PIB a partir de 2023».
Inflação continua a subir
No que diz respeito à inflação, o banco liderado por Mário Centeno acredita que aumente para os 5,9% em 2022, mas os preços deverão voltar a cair nos dois anos seguintes e a inflação deverá cair para 2,7% em 2023 e para 2% em 2024.
Sobre a inflação, o próprio governador do Banco de Portugal deixou alguns alertas: «É um momento muito complexo das nossas vidas este que enfrentamos, este fenómeno de inflação», disse Mário Centeno, acrescentando que «a inflação está no centro das nossas vidas».
Mas que consequências? Paulo Rosa explica que a inflação no nosso país «é maioritariamente do lado da oferta, penalizada sobretudo pela alta dos combustíveis fósseis e pela subida dos alimentos, nomeadamente dos cereais e da carne, e esta subida dos preços tende a penalizar o rendimento disponível das famílias, a diminuir a procura e a reduzir as margens das empresas».
É perante este contexto que, na sua opinião, vai aumentar a probabilidade de um cenário de estagflação, estagnação económica associada a elevada inflação, «e esta probabilidade será tanto maior, quanto mais duradoura e grave for a guerra na Ucrânia e a subida dos preços dos combustíveis fósseis, que intensificará o aumento da inflação e desacelerará o crescimento económico».
Questionado sobre se o crescimento da inflação poderá afetar as perspetivas de crescimento do país, o economista não tem dúvidas que sim. «Inflação mais elevada subtrai rendimento disponível às famílias e impacta negativamente o crescimento económico».
Outros valores
No que diz respeito ao investimento, o BdP projeta uma continuidade no crescimento de 6% em média em 2022-24. Já as exportações deverão crescer 13,4% este ano mas contam com uma desaceleração gradual até 2024. Quanto ao crescimento do emprego deverá «abrandar ao longo do horizonte de projeção».
Paulo Rosa defende que este ano, Portugal já crescerá acima dos níveis de 2019, «mas o consumo privado e o investimento são cada vez mais penalizados pela elevada inflação e podem impactar negativamente o bom desempenho do emprego nos últimos semestres».
Já as exportações tendem a diminuir com um potencial abrandamento económico na Zona Euro e nos EUA, «e um dos principais motores das nossas exportações, o turismo, poderá abrandar o atual ritmo depois do verão».
A guerra
Sobre se os efeitos da guerra podem ou não ‘estragar’ estas previsões, é claro para o economista que a invasão russa na Ucrânia «aumenta a probabilidade de um cenário de estagflação, estagnação económica associada a elevada inflação, e esta probabilidade será tanto maior, quanto mais duradoura e grave for a guerra na Ucrânia e a subida dos preços dos combustíveis fósseis, que intensificará o aumento da inflação e desacelerará o crescimento económico».