Enquanto os líderes dos países mais industrializados do mundo se reuniam na cimeira dos G7, esta segunda-feira, a Rússia não os deixou esquecer da brutalidade da sua invasão, atingindo com um míssil um centro comercial cheio de gente, em Kremenchuk, no centro da Ucrânia.
Trata-se de uma região bem distante da linha da frente, não dando ao Kremlin sequer a desculpa de que este ataque – onde morreram pelo menos dez pessoas, segundo as autoridades ucranianas – se tratara de um alvo atingido por engano.
“Os invasores dispararam mísseis ao centro comercial, onde estavam mais de mil civis”, denunciou Volodymyr Zelensky, no Twitter, pouco após se reunir com os líderes do G7 via videoconferência, quando estes se reuniam Schloss Elmau, numa estância nos confins dos Alpes.
“O centro comercial está a arder e as equipas de resgate estão a extinguir as chamas”, continuou o Presidente ucraniano, descrevendo um inferno visível em imagens e vídeos amplamente divulgadas nas redes sociais. “O número de vítimas é inimaginável. A Rússia continua a descarregar a sua impotência em civis comuns. Não vale a pena esperar por decência e humanidade da Rússia”.
O brutal ataque a Kremenchuk, após um fim de semana em que pelo menos 62 mísseis russos terão atingido a Ucrânia só no sábado, segundo o Governo de Kiev, veio dar força aos apelos de Zelensky. O Presidente ucraniano tem implorado aos líderes ocidentais por mais defesas antiaéreas mais poderosas e sofisticadas, entre outros tipos de armamento, frisando que muitas cidades ucranianas estão indefesas perante os mísseis de longo alcance russo, avançou a Reuters.
Nesse mesmo dia, soube-se que os Estados Unidos tinham comprado defesas aéreas de longo alcance Nasams à Noruega, avançaram fontes em Washington, durante um briefing à imprensa. Ainda não é claro se estas defesas antiaéreas estarão disponíveis de imediato, quando serão recebidas pela Ucrânia ou se militares ucranianos já estão a ser treinados.
De momento, as muito esperadas baterias de lança-mísseis americanas Himars já estão nas linhas da frente, tentando alterar o equilíbrio de forças no duelo de artilharia que se trava nas planícies do Donbass. A grande vantagem destas armas é o seu enorme alcance de até 70 quilómetros, permitindo aos ucranianos atingir a retaguarda russa, criando grandes problemas de abastecimento em forças que já têm mostrado dificuldades no que toca a isso ao longo de todo este conflito.
O Governo de Kiev continua a mostrar-se convicto de que não só será capaz de travar a ofensiva russa, como é possível contra-atacar e retomar o seu território perdido, caso haja apoio suficiente dos seus aliados ocidentais. Perante o G7, Zelensky implorou que estes não deixassem a guerra na Ucrânia “arrastar-se durante o inverno”. E lembrou: “Se a Ucrânia ganha, vocês todos ganham”.
Ainda assim, o Presidente ucraniano também mostrou alguma insatisfação com a demora e hesitação de alguns Estados membros da NATO quanto ao envio de armamento para a Ucrânia, pedindo mais munições. Sobretudo de artilharia, que se têm gasto a um ritmo louco no Donbass, tentando responder ao devastador fogo russo.
“Os nossos parceiros deverão proceder mais rapidamente se são de facto nossos parceiros e não apenas observadores”, dissera Zelensky na noite antes da sua reunião com o G7, durante o seu habitual discurso diário aos ucranianos.
Perante os líderes do G7. Zelensky prometeu que apenas negociaria rumo a uma vitória. “Só negociaremos a partir de uma posição de força”, garantiu o Presidente.
Aliás, uma fonte francesa do The Guardian até contou que Zelensky no seu discurso aos G7, que não foi divulgado, chegou a declarar como objetivo “empurrar os russos para lá das linhas de fevereiro”. Ou seja, reconquistar território perdido antes da invasão, podendo tratar-se de uma referência às autoproclamadas repúblicas separatistas do Donbass ou até, quem sabe, à Crimeia.