PSD e IL vão abster-se na moção de censura do Chega

Ventura quis pôr à prova Montenegro: “Provavelmente, vamos ter uma versão dois de Rui Rio”.

Desde que o PSD sofreu uma pesada derrota nas legislativas de janeiro, o Chega tem ocupado a dianteira em marcar oposição à maioria absoluta socialista. Em nova estirada, o partido anunciou a apresentação de uma moção de censura ao Governo – que à partida está chumbada por natureza –, para atacar “a falta de capacidade e organização” da equipa de António Costa. Mas o objetivo é também outro: clarificar o estilo de oposição do novo presidente dos sociais-democratas.

O sentido de voto do PSD, indiferente para o resultado da votação dado que o PS dispõe da maioria absoluta dos deputados na Assembleia da República, ficou em segredo durante o Congresso no fim de semana. Luís Montenegro, entronizado líder no Palácio de Cristal, no Porto, recusou-se a responder sobre como o partido votaria. Só na terça-feira, em nota enviada à imprensa, o PSD fez saber que irá abster-se na votação da moção de censura que será hoje debatida no Parlamento.

“Na sequência da deliberação tomada pela Comissão Permanente Nacional do PSD, remetida à direção do grupo parlamentar do PSD, informa-se que a bancada do PSD se irá abster na votação da moção de censura que será discutida esta quarta-feira”, lê-se.

Horas antes, o líder do Chega desafiava PSD e Iniciativa Liberal a votarem a favor da moção, considerando, no caso dos sociais-democratas, que só esse sentido de voto seria coerente com as palavras do novo líder no Congresso.

André Ventura frisou até que ficou “com a convicção” de que o PSD acompanharia o Chega. “Sobretudo depois do que ouvimos no congresso do PSD, de críticas reiteradas, mas sobretudo das palavras de Luís Montenegro de que tinha de ser demitido o ministro das Infraestruturas”, justificou, assegurando que o seu partido acompanharia “qualquer moção de censura” ao Governo apresentada quer pelo PSD quer pela IL. Minutos depois, o líder da bancada parlamentar liberal, anunciaria a abstenção do partido.

“Há uma grande diferença entre a IL e o Chega”, começou por afirmar Rodrigo Saraiva, argumentando que apesar de já haver “muita coisa para criticar” na ação do Executivo de Costa, sobretudo no que se refere “à degradação generalizada dos serviços públicos”, esta “vai ser uma moção de censura inconsequente”.

“É apenas mais um foguetório e uma corrida de 100 metros que o partido Chega nos tem habituado. Nós vamos estar aqui uma legislatura para fazer a crítica e a oposição que o Governo precisa”, sublinhou.

Para o deputado da IL, o partido liderado por André Ventura está “preocupado apenas com as pessoas” que ocupam os ministérios, “como se a mudança de pessoas mudasse alguma coisa”.

“Chegaram a dizer que, se o primeiro-ministro demitisse a ministra da Saúde e o ministro das Infraestruturas, retirariam a moção de censura, e a Iniciativa Liberal está muito mais preocupada com as políticas. Queremos é que mudem políticas e não basta mudar as pessoas”, defendeu.

Já depois de ser conhecido o sentido de voto dos dois partidos, Ventura reagiu com “enorme desilusão e frustração política”, sobretudo à decisão dos sociais-democratas. “Luís Montenegro levar a proposta de abstenção à bancada social-democrata é não só uma traição àquilo que ele próprio disse no congresso, como mostra que, provavelmente, vamos ter uma versão dois de Rui Rio”, profetizou.

Acreditando que ainda é possível uma reconsideração, insistiu: “Todos esperávamos uma oposição diferente a partir desta semana em Portugal, pelo que apelo a que o PSD ainda possa reconsiderar esta posição assumida e possamos mostrar juntos, à direita, um cartão vermelho à governação de António Costa”.

 

Esquerda vota contra

Recusando alinhar na “manobra” do Chega, o PCP anunciou que vai votar contra a moção de censura, por considerar que esta “não propõe soluções” para os problemas que o país enfrenta.

“O Chega utiliza problemas reais não com o objetivo de dar resposta aos trabalhadores e às populações, mas com projetos e políticas que só contribuem para os agravar. O PCP não contribuirá para essa manobra”, garantem os comunistas.

O partido continuará, contudo, a “intervir e a exigir que o Governo concretize as soluções que são necessárias para enfrentar o aumento do custo de vida, valorizar os salários e as pensões, controlar e fixar preços de bens essenciais e para salvar o SNS”, uma vez que, alegam os comunistas, a maioria absoluta socialista não concretiza essas soluções “porque não quer”.

Também o BE confirmou que votará contra, já depois da coordenadora bloquista ter afirmado no domingo que as críticas que o seu partido faz ao Governo “não se confundem em nada com as estratégias mais ou menos oportunistas do Chega”.