Foram conhecidos os resultados dos exames nacionais do ano letivo de 2020/2021, que dão lugar à publicação dos habituais rankings das escolas feitos pela comunicação social, com duas conclusões a vir à tona este ano: as notas pioraram no segundo ano letivo em pandemia tanto no público como no privado; e, com a mudança na realização das provas, que nos últimos anos passaram a ser só para acesso ao Superior, abriu-se um buraco no escrutínio, nomeadamente da inflação de notas – o que era feito comparando as notas internas dos alunos nas disciplinas e as notas que têm nos exames, avaliados por professores externos.
De acordo com a análise da Lusa, quase uma em cada dez escolas teve média negativa nos exames nacionais do secundário em 2021. A maioria das médias negativas surge em escolas públicas: 38 num universo de 416 escolas públicas, contra três de escolas privadas num universo de 71 colégios. A média das notas das escolas públicas voltou a aproximar-se dos colégios, agora com uma diferença de 1,4 valores (numa escala de 0 a 20). Mas foi uma aproximação em baixa: a média nacional dos alunos dos colégios foi de 12,7 valores e nas escolas públicas de 11,3 valores, segundo a análise da Lusa, que mostra uma descida geral das notas depois da subida no primeiro ano letivo da pandemia. Em 2019/2020, a média nos colégios tinha sido de 14,39 valores e nas escolas públicas de 12,89 valores.
Menor controlo
Com as medidas excecionais da pandemia, que já pelo segundo ano retiraram a obrigação de fazer exames nacionais a todas as disciplinas – com os exames a deixar de contar para o cálculo da nota final em cada cadeira, servindo apenas para entrar na Faculdade, – os colégios deixaram de ter a obrigação de comunicar as notas internas dos alunos. «Neste momento, para efeito da produção das estatísticas oficiais, não lhes são pedidas as notas internas dos alunos a cada uma das disciplinas», confirmou ao Expresso Nuno Rodrigues, diretor-geral de Estatísticas da Educação. «Se se vier a prescindir em definitivo dos exames (para a conclusão do Secundário), podemos começar a fazê-lo», admitiu o responsável, reconhecendo que se perdeu controlo nos últimos anos. «Vamos acreditar na honestidade de todos».
Em reação, os diretores das escolas públicas mostraram preocupação: «Esta situação, a comprovar-se, agrava mais e traz mais prejuízo para os alunos que estão na escola pública e que queiram, de facto, aceder ao Ensino Superior. Sabemos (…) que em alguns colégios as notas, de facto, são inflacionadas», disse, à TSF, o presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima. Já a associação que representa os colégios falou de uma «manobra de diversão», considerando que não se valoriza o mérito. No ano letivo de 2021/2022, a Inspeção-Geral de Educação e Ciência abriu seis inquéritos, três em escolas públicas e três em colégios.