A campanha para as eleições angolanas, marcadas para 8 de agosto, começou com protestos violentos, mortos e apelos sem resposta a um debate eleitoral. O país parece estar a sair do controlo de João Lourenço, que tem sido alvo de contestação dentro do partido governante, o MPLA, vinda da ala mais afeta ao seu falecido antecessor, José Eduardo dos Santos.
Lourenço tenta agora manter-se no seu posto perante a candidatura de Adalberto Costa Júnior, líder do principal partido da oposição, a UNITA. Que é dado como estando muito próximo do Presidente angolano – ou até a ultrapassá-lo, segundo algumas sondagens – no que toca a intenções de voto.
“Por que tem medo dos resultados das eleições? Não tenha medo”, intimou Costa Júnior, numa mensagem divulgada nas redes sociais, onde pedia a João Lourenço que aceitasse debater consigo em público. “Após 46 anos de poder, o povo angolano está desejoso de ouvir e assistir a um verdadeiro debate. Por que é que está me deixando nesta espera que nos divide?”, questionou o líder da UNITA. O MPLA não se tinha pronunciado até ao fecho desta edição. Nem é esperado que a resposta seja positiva, dado que já em 2017 o líder do partido governante se mostrara favorável a um debate que depois acabou por não se concretizar.
Entretanto, as tensões vão crescendo em Angola, após uma passeata de “motoboys” – motoqueiros que funcionam como uma espécie de paquetes e transportes públicos individuais em Luanda – em apoio ao MPLA terminar em tragédia, este sábado. Milhares mostraram-se furiosos, alegando que o partido governante não lhes pagara os prometidos 10 mil kwanzas (cerca de 30 euros) para se juntarem ao arranque da campanha. Muitos deles começaram a queimar as camisolas com a cara do Presidente angolano, que lhes foram oferecidas, ou a vandalizar viaturas, seguindo-se de uma brutal intervenção pela Polícia, que fez vários mortos.
Além do notório descontentamento popular, muito devido à crise económica vivida em Angola, como o aumento dos preços dos alimentos (ver página 10), a situação política de João Lourenço ainda ficou mais fragilizada com o apelo ao voto de uma filha do seu antecessor. “Em agosto, o azeite é galo”, proclamou Welwitschea “Tchizé” dos Santos, numa referência ao símbolo da UNITA, o galo.