A seca agrava-se, as autarquias têm apostado na sensibilização contra o aumento de consumos, já há lugares a racionar e até a querer cobrar mais por utilizações “acima do normal”, mas quando falta água nas mães de água ou a pressão das nascentes não chega para levar água a todas as casas, a solução acaba por ser só uma: o recurso a camiões cisterna.
Conhecidos já vários casos em todo o país de aldeias onde, mais uma vez este verão, volta a não haver outra opção, os dados fornecidos ao i pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) mostram que as operações de abastecimento de água no país dispararam no mês de julho.
Ao todo, contabiliza a ANEPC, registaram-se 1273 operações de abastecimento de água por corporações de bombeiros de norte a sul do país, um aumento de 74% face às 730 operações registadas no mês de junho. E muito mais do que no ano passado, quando o país não vivia a situação de seca prolongada que tem marcado os últimos meses.
Cinco vezes mais do que há um ano Sem comparações globais ainda disponíveis, os dados da ANEPC mostram a diferença que faz o ano de seca nos municípios onde tem sido mais vezes preciso recorrer a abastecimento de água pelos bombeiros: Mirandela, Bragança e Mogadouro, todos nos distrito de Bragança, Tabuaço, no distrito de Viseu, e Chaves, no distrito de Vila Real, que representaram em julho. Há um ano, no mês de julho, estes mesmos cinco municípios tinham contabilizado 81 operações de abastecimento de água pelas corporações de bombeiros. Este ano foram, no total, 430, cinco vezes mais.
Questionada pelo i para um balanço sobre estas operações, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil salienta que não é possível garantir que todas tenham por finalidade o abastecimento público à população e que tal decorra da seca: como nos incêndios, o que os bombeiros fazem é reportar a intervenção dos seus meios nesta tipologia de “ocorrência”, chamemos-lhe assim.
A ANEPC assinala por outro lado que haverá outros casos em que os dados podem não estar sob a sua tutela, mas na maioria das vezes são os bombeiros que o asseguram. “A utilização de veículos autotanque para reforço do abastecimento (por injeção de água em reservatórios ou instalações de tratamento) é uma prática corrente de diversas entidades gestoras, justificadas por diversas razões, recorrendo a recursos próprios, a meios das autarquias (câmaras municipais e juntas de freguesia), a veículos detidos por privados ou, mais comummente, a veículos dos Corpos de Bombeiros”, explica fonte oficial do organismo. Não existe assim um balanço nacional sobre o número de aldeias e lugares onde a água só está a chegar às torneiras com esta ajuda nem o universo de população que, de outra forma, estaria a sentir ainda mais os efeitos da seca, mas é um barómetro do que se está a passar, com maior incidência no Norte, embora também a Sul sejam conhecidos casos de aldeias a depender de camiões cisternas, como Odivelas, em Ferreira do Alentejo.
Fugas também motivam operações No distrito de Bragança, onde se encontram os municípios com maior número de abastecimentos, o presidente da Câmara Municipal de Mogadouro avançou em julho que 15 aldeias estavam a ser abastecidas por autotanques devido à seca. No entanto, das centenas de operações em julho, o i confirmou que nem todas as operações estiveram diretamente relacionadas com a seca.
Houve pelo menos uma freguesia com necessidade de intervir no que se veio a perceber que era afinal uma fuga no reservatório, entretanto já solucionada, assegurou ao i o presidente da junta de freguesia de Salsas, em Bragança. “Tivemos necessidade de três abastecimentos e inicialmente pensávamos que fosse devido à seca que faltava água, mas acabámos por perceber que o consumo não era suficiente para haver aquela descida”, explicou ao i Pedro Zoio, que sublinha no entanto que o cenário não é animador e verbaliza o estado de espírito numa das regiões mais fustigadas pela seca extrema: “A água é pouca e temos de a economizar”.
Já fonte dos bombeiros de Bragança explicou ao i que na maioria das vezes são mesmo pedidos relacionados com a falta de água nas nascentes que abastecem a rede, situações sinalizadas pelos serviços municipais de Proteção Civil. Ainda ontem foi necessário voltar a sair para garantir água em mais alguns pontos, com agosto a começar como foi julho: quente e seco.