A localização para o novo aeroporto internacional de Lisboa continua envolta em polémica e sem grandes decisões e, apesar de o PS, pela voz do seu ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, ter já dito que «não há soluções sem espinhas, todas têm vantagens e desvantagens», ainda não há consenso sobre a questão… mesmo entre os socialistas.
Os atrasos e cancelamentos em Lisboa mostram a situação em que o aeroporto se encontra e, apesar da situação estar controlada, não signifique que se volte a repetir. O que faz levantar a questão de outros aeroportos nacionais poderem ajudar.
A questão mais recente foi levantada pelo dirigente nacional e deputado do PS Pedro do Carmo, que escreveu nas redes sociais que «tem sido desenvolvido um esforço pela Câmara Municipal de Beja e pela região para o valorizar com infraestrutura aeroportuária com potencial, também alternativa a Lisboa», acrescentando que ainda em julho, em 14 dias, «excluindo um elevado número de voos premium e vips, o aeroporto de Beja acolheu 3 voos civis, com 263 passageiros». Por isso, diz o secretário nacional para a organização dos socialistas que «existe, tem potencial e deve ser valorizado».
«O que está em causa é o seguinte: nada tenho a opor com a construção de um novo aeroporto. Antes pelo contrário. Lisboa tem que resolver esse problema que está a afetar o país. Estamos totalmente de acordo», explicou Pedro do Carmo ao Nascer do SOL. E lembrou que o aeroporto foi concessionado à ANA no bolo da concessão dos aeroportos nacionais. E foi concessionado por 75 anos. «Mas lá por ser privado, da concessão da Vinci, os privados também têm responsabilidades com o desenvolvimento do país e com a coesão nacional e cada vez mais se fala nisso. Acho que há aqui cada vez mais uma responsabilidade da ANA em potenciar mais o desenvolvimento do Aeroporto de Beja», acrescentou.
Garantindo que o aeroporto de Beja «está a dar os seus passos», Pedro Carmo avança que «já tem alguns voos, nomeadamente VIPS, particulares, tem alguns voos comerciais, está associado a empresas de manutenção», acrescentando que «se formos lá neste momento há um conjunto de aviões que estão em manutenção e criou ali mão de obra qualificada. Mas eu acho que ainda é pouco, podia fazer-se mais».
O que pode ser feito então? «Acho que podia ser feito neste momento e, por isso também tomei nesta iniciativa falando com a ANA e depois com as companhias, é que se estão lotados os aeroportos nacionais, se efetivamente estão a perder voos que podiam fazer para o nosso país e não fazem porque não têm slots, podem fazê-lo para Beja. Quer seja voos que sejam para Faro ou para Lisboa».
Apesar de assumir que o aeroporto de Beja «não possa ser um aeroporto que seja alternativa para Lisboa», diz que «pode ser complementar neste tipo de situações».
E defende aquilo que considera serem benefícios: «Se tiver dois ou três voos por dia, é bom para o desenvolvimento, é bom para a coesão territorial, resolve o problema do país e aquilo que exprimi e que fiz sentir às companhias aéreas é que, numa hora e pouco, os passageiros estão em Faro, se calhar é quase o tempo que levam ali a aterrar. Sei que têm por 75 anos, até 2060, a ANA que é privada faz o que bem entende. Mas também é preciso dizer que eles têm responsabilidades no desenvolvimento do país, na coesão territorial e que também podem fazer ali algum trabalho para potenciar e dar mais algum trabalho ao aeroporto de Beja, é só isso».
Então o aeroporto de Beja pode ser solução? «Não estou a pôr em igualdade de circunstâncias mas o que estou a dizer é que, perante estes factos, deve ser mais aproveitado», diz o deputado.
'Por que não desviar alguns?'
Pedro do Carmo escreveu aos responsáveis da Ryanair, EasyJet e Transavia a sensibilizá-los para a utilização do Aeroporto de Beja como alternativa a Lisboa.
Questionado se já tinha respostas, diz que não. «A única resposta que tenho é da ANA, até já tinha sido antes, a dizer que já fez esse trabalho para informar as companhias e sensibilizar as companhias da importância de voarem para Beja». Já sobre as companhias aéreas, defende que «todas também têm responsabilidade social. Se todas dizem que estão a perder voos, que não conseguem voar para Lisboa, porquê que não desviam alguns?».
Apesar desta carta ter sido enviada em nome pessoal, diz falar também pelo nome da região e que «a Câmara de Beja também tem feito esse trabalho».
Na carta lê-se que «desde a sua inauguração em 2011 que o Aeroporto de Beja está confrontado com a ausência de vontade para a valorização desta infraestrutura aeroportuária, depois da suspensão de ligações rodoviárias que a tornariam ainda mais relevante como alternativa às existentes em Lisboa e em Faro».
E que, num contexto «de evidente esgotamento do Aeroporto Internacional Humberto Delgado em Lisboa para a procura e as necessidades do país, é inaceitável a ausência de uma estratégia para a valorização da infraestrutura de Beja».
No Governo socialista, a solução de Beja como alternativa ao Montijo também já foi defendida pela ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa.