Angola. MPLA segura maioria absoluta

O partido de João Lourenço tem a vitória mais curta de sempre. E a UNITA teve vitória esmagadora em Luanda.

Apesar da vitória do MPLA nas eleições de Angola, permitindo que o partido que está no poder desde 1975 continue a liderar o país por mais cinco anos, as razões para celebrar parecem ser poucas, uma vez que conseguiu a vitória pela margem mais curta de sempre e a capital, Luanda, votou esmagadoramente na UNITA.

Segundo os resultados provisórios da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), o partido de João Lourenço conquistou a maioria dos votos, com 52%, que segue a tendência das eleições anteriores com uma progressiva descida nas urnas. Se em 2012 conseguiu 71,84% dos votos, em 2017 ficou-se pelos 61,05% e, agora, mal conseguiu ultrapassar os 50%.

A surpresa maior aconteceu em Luanda, onde o partido da oposição obteve uma vitória histórica: a UNITA conseguiu quase o dobro do partido governamental e obteve 1,23 milhões de votos, mais 500 milhões do que em 2017, enquanto o MPLA, com 650 mil votos, tem menos 360 mil boletins.

Fora do país, cujos votos contam apenas para o círculo nacional, o MPLA ganhou à UNITA com 50,6% dos votos, mas a CNE não faz a discriminação por consulado.

No que respeita aos votos brancos e nulos, houve um total de 173.791 casos, metade do que em 2017.

Apesar de desapontado com a queda do MPLA, João Lourenço, que se prepara para entrar no seu segundo mandato (de cinco anos) enquanto líder da Angola, gravou uma mensagem de agradecimento a todos os angolanos. «Obrigado, é uma palavra fundamental para todos os angolanos», disse o Presidente, num vídeo publicado esta sexta-feira pelo MPLA. «Obrigado a todos os angolanos por estarem a construir este país».

Estas foram as eleições mais disputadas da história de Angola, desde que se tornou independente de Portugal em 1975, sendo mesmo descritas por especialistas internacionais como «um momento existencial».

A oposição chegou a reclamar  vitória, o que aumentou as tensões e receios de possíveis manifestações e confrontos violentos quando os resultados foram sendo revelados.

A UNITA, liderada por Adalberto Costa Junior, que ainda não comentou os primeiros resultados eleitorais, descartou estes números iniciais anunciados pela comissão na quinta-feira, afirmando que não são confiáveis.

Analistas políticos acreditam que esta foi a melhor hipótese que o partido da oposição teve para alcançar a vitória em todo o seu período de existência, uma vez que milhões de jovens deixados de fora dos lucros gerados pelo petróleo expressariam a sua frustração com o Governo de quase cinco décadas do MPLA, escreveu o Al Jazeera.

O candidato a vice-presidente pela UNITA, Abel Chivukuvuku (ex-CASA), rejeitou os resultados provisórios e disse que o partido vai publicar os seus próprios com base numa contagem paralela e usando os mesmos dados da CNE. «Amanhã de manhã teremos indicadores mais claros e concretos e quem quiser comemorar… espero que sejamos nós», disse Chivukuvuku, citado pelo Médio Oriente.

Apesar de observadores alertarem que o descontentamento com o Governo do MPLA chegou a um ponto em que o partido só agora pode garantir mais cinco anos no poder através de uma repressão generalizada, analistas dizem que a oposição enfrentará um dilema se rejeitar os resultados oficiais. 

«Instigar uma campanha de protestos na rua deixaria a UNITA aberta a acusações de fomentar deliberadamente a desordem, mas é improvável que a busca de reparação através de canais legais ou constitucionais seja bem-sucedida», escreve o Guardian.

A legitimidade deste processo democrático foi uma das questões mais insistentemente colocadas por parte da oposição, com receio das ilegalidades que o MPLA pudesse estar a preparar. A UNITA incentivou os seus eleitores a ficarem perto das assembleias de voto depois de votarem, um apelo que muitos atenderam quando as eleições foram encerradas na quarta-feira à noite.

«A Polícia disse para votar e ir para casa. Disse-lhes que iria votar e sentar-me», revelou ao jornal inglês Severano Manuel, 28 anos, em Cacuano, nos arredores de Luanda.

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