Depois de, na sexta-feira, o primeiro-ministro António Costa ter pedido desculpa, perante o Presidente da República de Moçambique, pelo massacre de Wiriyamu, que classificou como um “ato indesculpável que desonra” a História de Portugal, André Ventura, dirigente do Chega, expressou a sua revolta. “O pedido de desculpa de António Costa a Moçambique, pelos acontecimentos de Wiriyamu, envergonha Portugal”, afirma Ventura em declarações ao i.
Na ótica do líder político, o ato de contrição do primeiro-ministro lança “um inaceitável manto de suspeita sobre as forcas armadas portuguesas e a história das familias portuguesas no Ultramar, muitas das que viveram e testemunharam esses acontecimentos ainda vivas”, sendo que “o primeiro-ministro pede desculpa e ao mesmo tempo mancha de sangue a história das forças armadas portuguesas e da História recente de Portugal, desonrando os portugueses e violando os deveres do cargo que ocupa”.
“Neste ano de 2022, quase decorridos 50 anos sobre esse terrível dia de 16 de dezembro de 1972, não posso deixar aqui de evocar e de me curvar perante a memória das vítimas do massacre de Wiriyamu, ato indesculpável que desonra a nossa história”, disse Costa, em Maputo, há três dias, no discurso durante o jantar oferecido pelo primeiro-ministro ao Presidente da República daquele país, Filipe Nyusi. De seguida, o primeiro-ministro lembrou que “uma relação tão intensa e com tal longevidade”, como aquela que existe entre os dois países, “está inevitavelmente marcada pela diversidade, da diversidade dos encontros e dos desencontros, da escravatura e da libertação, do progresso e da pobreza, da guerra e da paz, por momentos que queremos seguramente recordar mas também por momentos e acontecimentos que temos o dever de nunca por nunca esquecer”.
“E sobre os massacres que os terroristas, em Moçambique e Angola, perpetraram sobre as famílias portuguesas? E as violações sistemáticas contra mulheres e crianças portuguesas pelos guerrilheiros, antes e depois da independência?”, questiona, por sua vez, Ventura. “E o massacre da UPA – União dos Povos Africanos – sobre as famílias portuguesas, que deu origem às guerras no Ultramar? Sobre isso não há uma palavra de António Costa?”, pergunta ainda.
Cerca de 400 civis desarmados mortos por portugueses “Uma declaração indigna e desonrosa do primeiro-ministro que se torna assim um traidor do país e da sua História. Não há outras palavras possíveis: António Costa tornou-se num traidor da Pátria e deve ser punido por isso, nos termos do art. 7 da Lei de Crimes da Responsabilidade de Titulares de Cargos Políticos (Lei 34/87 de 16 de Julho)”, declara Ventura, garantindo que o partido que dirige fez chegar, ontem, “a respetiva denúncia ao Ministério Público” e acrescentando que “um primeiro-ministro traidor não pode presidir aos destinos do país e deve pedir desculpa aos milhões de portugueses retornados pela ofensa e pelo desastroso processo de descolonização e pedir desculpa às forças armadas portuguesas por tal indignidade”.
Recorde-se que, no dia 16 de dezembro de 1972, em Wiriyamu, Moçambique – quando as forças lusitanas pretendiam acabar com a presença da FRELIMO perto da cidade de Tete e da Barragem de Cahora Bassa, que estava em construção -, aproximadamente 400 civis desarmados foram mortos por militares portugueses no decorrer do massacre que também é habitualmente denominado de Operação Marosca. “As relações entre amigos são feitas assim, são feitas da gentileza de quem é vítima e faz por não recordar, mas também por quem tem o dever de nunca deixar esquecer aquilo que praticou e perante a história se deve penitenciar”, assinalou Costa na sexta-feira, tendo realçado que Portugal, através da Revolução dos Cravos, reinventou a sua História e “abriu as portas à paz para que a conquistada independência de Moçambique definitivamente tenha consagrado as nossas relações como relações de amizade entre países soberanos, livres e iguais”.
“É a partir desta consciência que de coração aberto e com vontade todos os dias renovada olhamos e queremos construir um futuro em comum”, asseverou o socialista no dia em que terminou a visita oficial de dois dias a Moçambique, onde participou na V Cimeira Luso-Moçambicana, que englobou a assinatura de nove acordos, entre os quais o “Compacto Lusófono”, que corresponderá a 400 milhões de euros, do Estado português, para investimentos nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).