por Carlos Carreiras e Carlos Moedas
A resposta do Governo à crise não alivia a austeridade que se abateu sobre os portugueses.
As pessoas vivem hoje pior do que ontem e o mais provável é que amanhã vivam pior do que hoje.
É urgente romper com o processo de empobrecimento em curso que se agravou nos últimos anos, e nos últimos meses de forma dramática.
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Esta dinâmica não é uma novidade histórica causada nem pela guerra, nem pela inflação, nem pelo desmantelamento do comércio livre. Portugal é, de ano para ano, um país mais pobre, mais desigual e mais dependente dos subsídios europeus.
As causas do nosso empobrecimento coletivo são profundas e duradouras. As circunstâncias só vieram sublinhar as nossas debilidades.
Por isso é justo perguntar: podia o primeiro-ministro ter sido mais consequente no tão propalado apoio às famílias? Podia, depois de tantas semanas de expectativa, ter sido mais ambicioso no combate à austeridade e no ataque às causas do empobrecimento das pessoas?
A resposta é: depende.
O Governo está bem quando preserva o primado da solidez das contas públicas na elaboração do seu plano. Mas se a prudência é uma virtude cardeal, a preguiça é um pecado mortal. E este plano é um plano preguiçoso. Em linha, aliás, com os sete anos de governação do PS – anos que foram omissos em progressos, parcos em mudança e abstémios em reformas.
A regra de ouro da gestão socialista – deitar dinheiro sobre os problemas em vez de os resolver – voltou a falhar em todo o seu esplendor.
Isso explica como chegamos a 2022, e à maior crise que gerações inteiras algum dia conheceram, numa posição de maior fragilidade do que no passado. Com o SNS em risco de vida, com a Escola Pública ao abandono e com as instituições do Estado paralisadas, falhando sistematicamente na proteção aos cidadãos.
Se os poderes públicos não derem uma resposta clara aos desafios dos portugueses perante uma crise desta magnitude, que ninguém se admire se os cidadãos desafiarem a existência do regime como o conhecemos.
A crise, esta crise, não é responsabilidade do Governo. Mas a preservação dos nossos valores comuns e a garantia de proteção das pessoas é. A responsabilidade é do Governo, mas também é das lideranças partidárias, dos servidores públicos e de todos os responsáveis políticos. Todos têm a obrigação de ajudar o governo a ultrapassar as dificuldades que são de todos os cidadãos que servimos.
As autarquias estarão, como sempre, do lado da solução.
Lisboa e Cascais estão a trabalhar numa solução conjunta, de âmbito supramunicipal, que proteja as famílias da crise e ampare as empresas perante os violentos choques económicos no horizonte.
Os dois municípios têm um histórico de políticas públicas inovadoras, radicalmente centradas nas pessoas. Inovámos na saúde, com serviços de teleassistência gratuitos, e na mobilidade, com viagens e passes gratuitos.
Mas os tempos exigem mais de nós. Mais ambição e mais coragem. Mais empatia para com a carestia de vida que bateu à porta de tantos.
A nossa resposta será robusta e abrangente. Garantirá dignidade na dificuldade e previsibilidade na incerteza.
Cascais e Lisboa apresentarão um plano conjunto para a educação, para o envelhecimento, para a infância e natalidade, para a saúde, para a habitação, para a economia local, para a cultura para a fiscalidade e até para a reinvenção da agricultura nos nossos municípios.
Mais do que medidas avulsas transformadoras da perceção, mas não da realidade, o nosso plano propõe-se fazer uma diferença positiva na vida das famílias e das empresas. Não responde nem a ideologias nem a coligações. Serve a causa do personalismo e o partido das pessoas.
O esforço de Lisboa e Cascais é novo.
Novo na vontade de fazer a ponte entre municípios ignorando fronteiras estéreis.
Novo na ambição de dar aos nossos cidadãos as armas para se protegerem da imprevisibilidade.
Novo no espírito de fazer Política Autárquica. Uma política à qual todos são bem-vindos. Porque é feita para o País, com o País e pelo País.
Carlos Carreiras e Carlos Moedas
Presidentes das Câmaras Municipais de Cascais e Lisboa