O primeiro-ministro afirmou, esta sexta-feira, após o conselho informal dos líderes da União Europeia, que Portugal e Espanha não vão desistir de convencer França a alinhar no projeto das interconexões, tanto de gás como elétricas, para abastecer os restantes países da Europa.
"Acho que é preciso persistir, além do mais porque o Presidente Macron que disse 'não' é o mesmo Presidente Macron que, em 2018, assinou em Lisboa uma declaração que previa quer o incremento das interconexões elétricas, quer o incremento das interconexões gasíferas", apontou António Costa, referindo-se à Cimeira das Interligações celebrada em Lisboa, em 2018, com a participação de Costa, Emanuel Macron e do chefe de Governo espanhol, Pedro Sánchez.
Esta afirmação surge depois de o Presidente francês ter voltado a manifestar, em Praga, na República Checa, a sua oposição a um gasoduto que liga a Península Ibérica à Europa a partir dos Pirenéus.
"Pronto, agora está na fase do 'não', esperemos que rapidamente volte à fase do 'sim'", afirmou o chefe do Governo português, que realçou novamente a importância deste projeto para a Europa, além de ser um tema que se arrasta há muitos anos na comunidade europeia, porém a realidade que vivemos é diferente e pode ditar o avanço das interconexões, sobretudo gasíferas devido à guerra na Ucrânia impulsionada pelas tropas russas.
Na ótica de António Costa, este tema é “crónico no quadro da União Europeia”, dado que antes de assumir o cargo de primeiro-ministro, foram fixadas metas para os projetos das interconexões na cimeira em Madrid, em 2015. Mais tarde, como chefe do Governo português, Costa acolheu em Lisboa uma cimeira com Mácron, Sánchez, a Comissão Europeia e o Banco Europeu de Investimento, “onde ficou definido qual era o quadro das interconexões do gás e da eletricidade", recordou.
Em 2019, as interconexões foram consideradas pelos reguladores espanhol e francês inviáveis economicamente, indicou Costa, ao sublinhar, por outro lado, que no atual cenário, o quadro “é completamente diferente”, porque “grande parte dos países do centro da Europa, como a Alemanha, que se forneciam habitualmente na Rússia, hoje deixaram de se fornecer na Rússia e, portanto, precisam de novas fontes de energia, por um lado, e também de novas rotas de abastecimento".
E também há “uma nova realidade geopolítica”. Segundo Costa, os países da Europa aprenderam uma lição: “é que não podemos estar tão dependentes de um ou dois fornecedores, porque isso obviamente limita muito a capacidade geopolítica da Europa. Portanto, a diversificação é fundamental", observou.
O primeiro-ministro insistiu que “a Península Ibérica é a região da Europa que tem uma maior capacidade de gasificação de gás natural líquido, em particular a Espanha", mas que também Portugal tem o porto de Sines, o que “é mais próximo de alguns dos principais fornecedores de gás natural, a começar pelos Estados Unidos, a Nigéria, Trinidade e Tobago".
Sines é o trunfo de Portugal, pois permite que o país tenha “vantagens comparativas muito grandes”, tanto no “desembarque do gás” como no “transporte para o norte e centro da Europa, ou por via naval ou diretamente por 'pipeline' quando ele existir”, indicou Costa.
“Se queremos ter uma Europa mais autónoma do ponto de vista energético, é absolutamente fundamental incrementar as interconexões do conjunto da Península Ibérica com a Europa", acentuou o chefe do Governo, ao frisar que "vários países” defenderam publicamente esta perspetiva, que também é apoiada pela própria Comissão Europeia.
Ainda assim, António Costa mostrou-se “solidário” com a França, que tem assinalado a importância de “preservar os valores ambientais dos Pirenéus”, no entanto advertiu que também é preciso encontrar um “bom equilíbrio” entre estes valores e “as necessidades de abastecimento de energia a toda a Europa”.
Mas houve um ponto que ficou “claramente entendido” entre os líderes dos países da comunidade europeia: o investimento no futuro do hidrogénio verde. "A infraestrutura a ser construída tem de ser preparada desde o início para hidrogénio verde, e o hidrogénio verde é também uma realidade nova relativamente àquela que tínhamos em cima da mesa em 2018", apontou Costa.