A economia portuguesa vai crescer 6,7% este ano, “continuando a beneficiar da recuperação do turismo e do consumo privado”. A previsão é do Banco de Portugal e está explícita no Boletim Económico de outubro, onde acrescenta que “a evolução da atividade ao longo do ano é marcada pela recuperação do nível pré-pandemia no primeiro trimestre e por um abrandamento posterior, que se traduz numa relativa estabilização do PIB”.
O banco central liderado por Mário Centeno revela ainda que o enquadramento externo e financeiro “tem vindo a deteriorar-se devido aos choques gerados pela invasão da Ucrânia, que resultaram no aumento da inflação e das taxas de juro”, acrescentando que “os efeitos adversos destes choques têm sido atenuados pelo bom desempenho do mercado de trabalho, pela poupança acumulada durante a crise pandémica e pelas medidas de apoio”.
E alerta ainda que a inflação vai aumentar para 7,8%, “refletindo as crescentes pressões externas sobre os preços”. E acrescenta que “a forte procura dos bens e serviços, cujo consumo foi condicionado durante a pandemia, também contribui para a trajetória ascendente da inflação, esperando-se uma inflexão no final do ano”.
As projeções para o PIB e para a inflação em 2022 são revistas em alta face ao Boletim Económico de junho. “No caso do PIB, o efeito da recuperação mais forte em 2021 e na primeira metade de 2022 supera a revisão em baixa no segundo semestre de 2022”, lê-se na nota divulgada esta quinta-feira.
Sobre a subida de preços, o Banco de Portugal deixa o alerta de que esta tendência “tem sido mais generalizada e persistente do que se esperava”, acrescentando que “as pressões externas fizeram subir muito os preços dos produtos energéticos e alimentares. A recuperação do turismo tem pressionado os preços dos serviços”. O banco central alerta ainda que “as famílias de menores rendimentos são mais penalizadas pelo aumento dos preços dos bens e serviços essenciais, cujo consumo é difícil de ajustar”.
Outros dados Ainda para este ano, prevê o BdP que o consumo privado cresça 5,5%, “beneficiando da eliminação das restrições associadas à pandemia e da realização de despesas adiadas”. Já o rendimento disponível real vai estagnar “condicionado pelo perfil da inflação, enquanto a taxa de poupança se reduz de 9,8% para 4,9%”.
Também o investimento vai abrandar, crescendo apenas 0,8%, “num ambiente de restrições de oferta, aumento dos custos de produção, agravamento das condições de financiamento, baixa execução dos fundos do PRR e elevada incerteza”.
E as exportações de bens e serviços “mantêm um dinamismo elevado”, crescendo 17,9%, acima da procura externa, “implicando ganhos adicionais de quota de mercado. Esta evolução é impulsionada pelas exportações de serviços, em particular os relacionados com o turismo”.
Os dados mostram ainda que o excedente da balança corrente e de capital permanece em 0,6% do PIB este ano e que o mercado de trabalho “apresenta um desempenho notável, mas com alguns sinais de moderação ao longo do ano”. Assim, o emprego cresce 2,3% e a taxa de desemprego volta a diminuir, situando-se em 5,8%, “valor historicamente baixo”.
E defende que o emprego vai aumentar este ano, principalmente no fim. “Algumas empresas têm sentido dificuldades em contratar pessoal”, diz o banco liderado por Mário Centeno que avança ainda que “o número de pessoas desempregadas continua muito baixo”.
E acrescenta: “Os salários por trabalhador sobem menos do que os preços em 2022. Contudo, a criação de empregos e as medidas de apoio atenuam o efeito da subida dos preços no poder de compra das famílias”.
Perspetivas e alertas O Banco de Portugal não tem dúvidas que as “perspetivas de curto prazo para a economia portuguesa deterioraram-se, refletindo as repercussões da invasão da Ucrânia. O impacto dos choques adversos que ocorreram ao longo do ano será mais notório em 2023, antecipando-se uma desaceleração significativa da atividade económica face a 2022”.
E deixa alguns alertas e sugestões: “Num enquadramento externo e financeiro mais desfavorável, é urgente acelerar a prossecução das reformas no âmbito do PRR e promover uma utilização efetiva e eficaz dos respetivos fundos, para sustentar o crescimento económico no curto e médio prazo”, acrescentando que “o choque negativo sobre os termos de troca implica uma perda de rendimento real da economia que deve ser partilhada por todos os agentes, evitando-se aumentos das margens das empresas e de salários que possam gerar pressões persistentes sobre os preços”.
Ainda sobre a inflação o banco central diz que “o efeito diferenciado do aumento da inflação sobre as famílias e empresas pode justificar a adoção de medidas temporárias e específicas, que permitam amortecer o impacto sobre os segmentos mais vulneráveis”.