Para Clemente Pedro Nunes, o mega projeto anunciado pelos Governos português, francês e espanhol não tem qualquer impacto positivo, em matéria de gás, lembrando que já houve um chumbo ambiental, na anterior proposta relativa ao troço Celorico/ Zamora que já tinha sido apresentada há cerca de cinco anos. “Normalmente, quando há um chumbo ambiental têm de se fazer mitigações e estas custam mais dinheiro”. E vê apenas como positivo a questão de acelerar a eletrificação. Ainda assim, lamenta que não sejam dados prazos, nem datas em relação ao projeto.
O especialista em energia lamenta ainda a falta de estratégia nesta matéria, considerando que “tem de se planear quanto vou produzir, consumir e a que preço, nos próximos 15 a 20 anos”.
O professor catedrático volta também a chamar a atenção para o erro de se ter fechado as duas centrais a carvão – Sines e Pego – o que está a obrigar o nosso país a aumentar as importações, em que há dias que chegam a atingir os 60%. “O fecho das duas centrais foi completamente prematuro e com graves consequências económicas para Portugal”, salienta.
Em relação ao aumento da chuva que tem existido nas últimas duas semanas considera que é positivo para a atividade agrícola, mas ainda insuficiente para as barragens. Mas acredita que “se continuar a chover ao ritmo dos últimos dias, isso terá efeitos significativos na produção de eletricidade”.
Na semana passada foi anunciado pelo Governo português, espanhol e francês, o gasoduto como megaprojeto. No próprio dia, em declarações ao i chamou a atenção para duas questões: se havia verbas europeias para financiar este investimento ou se isso se iria repercutir nas tarifas…
Como vê, em relação a estas questões que coloquei, o Governo ainda não disse nada de concreto.
Esta segunda-feira, o primeiro-ministro falou num custo estimado de 300 milhões de euros, mas não diz como vai ser pago…
Se não houver outras “fontes especiais de financiamento” vai à tarifa, desde que seja aprovado pela ERSE [Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos]. É claro que para fazer esse investimento tem de haver uma audição pública, nos quais têm de se pronunciar os vários industriais, nomeadamente a CIP que tem um maior peso nessas questões, assim como outras entidades.
A partir do momento em que for aprovado a REN investe…
O valor do investimento que foi indicado seriam os tais 300 e tal milhões de euros. Mas como sabe já houve um chumbo ambiental, na anterior proposta relativa a este troço Celorico/ Zamora que já tinha sido apresentada há cerca de cinco anos. Normalmente, quando há um chumbo ambiental têm de se fazer mitigações e estas custam mais dinheiro. Neste caso as questões levantadas tiveram nomeadamente a ver com a travessia do Alto Douro Vinhateiro.
São os famosos remédios…
Exatamente, é preciso ter cuidados redobrados tanto no projeto como na respetiva execução. Isso significa mais dinheiro e atrasos. Mas aí a pergunta que faço é: Vai-se gastar mais de 300 milhões de euros e acham que isso é um bom investimento? Em termos do consumo de gás em Portugal não vai adiantar nada. Isto numa altura em que se considera que o caminho é a eletrificação e, como tal, o consumo de gás natural deve-se vir a reduzir. Depois falam na hipótese de um futuro hidrogénio verde mas não há nenhuma previsão de viabilidade comercial do chamado hidrogénio verde. Portanto quem paga? Numa situação destas, com estes foguetórios todos estava-se à espera que a Europa pagasse… Até porque, na Cimeira de 2018, em Lisboa, realizada em julho de 2018 com o presidente Mácron, Sánchez e Costa – os mesmos que se reuniram agora – foi anunciado um cheque de 550 milhões de euros para uma nova interligação elétrica.
Então onde anda o cheque?
O cheque provavelmente é para acelerar agora o processo, mas ninguém falou sobre ele, nem ninguém anunciou uma data para a respetiva conclusão. A data que tenho neste momento, dada por fontes francesas, é 2027. Mas essa data não está no comunicado enviado, o que diz é que vão acelerar os esforços para finalizar esta nova interligação na Biscaia. O que querem dizer com “acelerar”? É 2025? É 2026? Alguém que esclareça.
Mas não foi dada nenhuma data…
Não. E em que fase se encontra neste momento? Nada. Já está tudo aprovado do ponto de vista ambiental? Não se sabe. Esta cimeira versou sobre dois assuntos. Um é o reforço dos gasodutos. Da rede de gás que já existe na Península Ibérica, e da sua ligação com França falaram em dois novos troços. Um no noroeste da Península entre Celorico da Beira e Zamora e outro a Sudoeste, quase a mil quilómetros um do outro. E ambos muito longe de Sines …
Sines foi tão elogiado politicamente, mas acabou por ficar esquecido…
Sines não consta desta cimeira. Isto favorece Valência e Barcelona. Sempre fui defensor de maiores interligações das redes energéticas europeias, desde que sejam económica e energeticamente fundamentadas. Em especial entre a Península Ibérica e a França, e com o apoio da Comunidade Europeia. Pois isso favorece o conjunto da União Europeia. De gastar dinheiro mal gasto na União Europeia já estamos fartos. Agora temos que racionalizar e racionalizar é perceber se esse é um investimento realmente estruturante para a Europa e, nesse caso, se é pago por toda a Europa. E não é só por Portugal e Espanha. Aliás, na linha da Cimeira de 2018, que foi a mais importante, o aspeto positivo deste acordo é a questão da eletricidade, como já referi. E sem esquecer que no caso do hidrogénio há uma série de complicações tecnológicas ainda por avaliar devidamente. Desde logo, o dessalinizar a água do mar que já por si é caríssima e transportar o hidrogénio sob a forma de amoníaco, são tudo ainda meras hipóteses que podem levar a custos proibitivos.
Acha que o caso do gasoduto foi uma espécie de show off...
Foi um recuo completo, porque Sines caiu, não aparece no comunicado. E parece que os espanhóis meteram lá um troço que lhes interessava. Também tenho dúvidas em relação à obra entre Barcelona e Marselha, mas vamos ver como vai correr. Agora irão reunir-se de novo em Alicante, em dezembro. Vamos ver o que lá vão dizer. Se confirmam que vão acelerar a nova conexão da Biscaia, e como, Qual é a nova data para a respetiva conclusão?
Acredita que haja, nessa altura, alguma resposta?
Acredito que se os media fizerem alguma pressão mediática poderá haver alguma resposta, porque um político reage quando se sente pressionado pela opinião pública.
E essa aceleração é importante….
Se houver uma maior interligação elétrica, isso significa que quando tem excedentes de eletricidade na Península Ibérica – por ter picos de vento ou de sol – haverá mais alguém que os pode comprar. Não é como acontece agora, em que se pode pagar uma eletricidade de que não se precisa. Neste momento já temos interligações de 3700 megawatts, mas o projeto é mais do que duplicar este valor.
E no caso de se ter falta de vento, uma avaria ou um consumo maior poderemos ter acesso a um produtor mais barato que poderá ser de França. Estaríamos a falar de uns 7500 megawatts, quando as duas centrais de carvão que tínhamos em Portugal eram de 2100. O grande drama que temos em Portugal é que temos muitas potencias intermitentes, eólicas e solares, e só se pode “armazenar” eletricidade de forma indireta.
A eletricidade deve ser consumida no momento em que se produz. Em Portugal a única que está a ser usada para “armazenar indiretamente” eletricidade em grandes quantidades é a chamada bombagem/turbinagem. Quando se tem eletricidade a mais põe-se a turbina a funcionar ao contrário, ou seja, leva água de baixo para cima. Só que a bombagem/turbinagem não chega para tudo porque as oscilações de produção do vento e do sol são brutais.
O que obriga a arrancar as centrais a gás ou a carvão para compensar, caso contrário temos um apagão. Quando se aumentam as interligações elétricas entre a Península Ibérica e França aumenta a concorrência entre diferentes produtores e diminui-se o risco de apagões .
De uma forma geral, o projeto está a ser apresentado pelo Governo como se fosse uma salvação para Portugal, mas fica muito aquém do que precisamos?
Este projeto, no que diz respeito ao gás, não acrescenta quase nada para Portugal. É apenas a recuperação de um velho projeto de ligação de Celorico da Beira para Espanha que, em termos práticos para os consumidores portugueses, acrescenta zero. No caso da eletricidade retoma os resultados da Cimeira de 2018, em Lisboa, e aparentemente dá uma pista para acelerar a concretização da nova conexão da Biscaia.
Considera que o atual Sistema Elétrico Português está mal concebido ?
Desde 2006 que o Sistema Elétrico Português está baseado em potencias elétricas intermitentes, eólicas e solares. E para viabilizar os investimentos nestas potencias intermitentes, criaram-se as FIT-Feed In Tariffs que garantem que os respetivos produtores quando produzem eletricidade “eliminam a concorrência” e recebem sempre um preço garantido. E isto é válido durante 15 anos, e por isso as FIT concedidas pelo Governo de José Sócrates vão vigorar pelo menos até 2028. E até lá podem eliminar a concorrência de novos projetos solares, mesmo que estes sejam muito mais baratos !…
A partir daí só contam para a frente…
Quem tiver uma nova potência solar a entrar na rede até 2028, poderá ser expulsa da rede aos sábados, domingos e feriados, às horas a que haja muito sol e vento . Basta referir que já estão atribuídas FIT a 7000 MW de potências intermitentes, e que o consumo em vazio não chega a 4000 MW … E isto, mesmo que se esteja disposto a vender a um preço muitíssimo mais baixo do que o que está estipulado nas FIT !
Mas são decretos que vêm do tempo de José Sócrates…
E não se lembra que, na altura, se dizia que íamos ter os preços de eletricidade mais baixos do mundo ? E não ouve ainda hoje dizer que a foto voltaica está muito mais barata do que todas as outras fontes elétricas? Mas isso é quando há sol. E quando não há sol, como é que se evitam os apagões? E é por isso que as centrais a gás têm que andar num regime de pára e arranca. Mas é o que temos.
E corremos o risco destes projetos novos não garantirem este
género de situações?
Tem de haver um planeamento elétrico. Tem de se planear quanto vou produzir, consumir e a que preço, nos próximos 15 a 20 anos. E comparar estrategicamente as várias alternativas disponíveis para se poder escolher a mais favorável . Já viu algum planeamento elétrico? E por isso temos uma dívida tarifária no setor elétrico que está ainda hoje nos 2000 milhões de euros . E permanece às costas dos consumidores !
Acha que foi dinheiro deitado à rua?
Completamente.
E como vê a declaração do Governo ao garantir que é um acordo que serve os interesses nacionais?
A única linha positiva deste acordo é dizer que vai acelerar a concretização da nova interligação elétrica da Biscaia. Mas é uma declaração política genérica.
No entanto, em termos políticos, assistimos a uma mudança de discurso desde sexta-feira…
O que me mais me magoa é que estamos aqui a fazer esta entrevista junto ao Técnico, uma instituição que relançou nos meados do século XX, toda a economia e a indústria portuguesa e o que vejo é que nos últimos 20 anos andámos para trás. Quase não fazemos planeamento, não fazemos programação estratégica, e fazem-se declarações políticas sem a devida consistência técnica.
É problema deste Governo
ou já vem detrás?
Volto a dizer, como é possível estarmos a falar em investimentos de mais de 300 milhões de euros, sem ter um programa estratégico organizado, em termos de gás e de eletricidade, num horizonte de pelo menos 20 anos. Porque vamos gastar mais de 300 milhões de euros? Não seria melhor pagar nesses 300 milhões e dizer: ‘Em termos de desenvolvimento do país, no Nordeste Transmontano, as pessoas que lá vivem pagam IRS com 50% de desconto e para as empresas lá instaladas o IRC é grátis’.
Isto para todas as empresas que têm sede naqueles conselhos por onde passa o gasoduto Não é melhor? 300 milhões de euros é mais do que aqueles concelhos todos juntos tem a receber do PRR. E depois ainda aparecem algumas questões técnicas, porque se for para transportar só hidrogénio então os metais das tubagens têm de ser completamente diferentes, porque a molécula de hidrogénio é muito mais pequena do que as outras.
Ou seja, Portugal não se sabe onde é que se meteu?
Enquanto for conversa fiada, ainda não há problema… O problema é quando fazem um decreto de lei que depois tem consequências jurídicas. Por isso é que na questão do hidrogénio meter metas obrigatórias sem a devida fundamentação tecnológica e económica é muito grave. É que depois quem sofre são os consumidores e a economia nacional.
E os consumidores não têm qualquer palavra a dizer…
Por isso é que somos ultrapassados pela Roménia, Polónia, Eslováquia e Hungria. Estamos a caminho de sermos a lanterna vermelha da União Europeia.
Paulo Rangel disse que este projeto era mau para Portugal, mas António Costa respondeu a dizer que não percebia nada de energia. Afinal, o PSD tem alguma razão nesta matéria?
Não me pronuncio sobre declarações políticas específicas. Apenas digo que sob o ponto de vista do gás, o comunicado da cimeira não traz nada de bom para Portugal. É uma mão cheia de nada. Já sob o ponto de vista da eletricidade há um vislumbre, que é o ponto três do press release, que aponta para que alguma coisa positiva poderá vir a ser feita. O mais grave que vejo no comunicado é que aparentemente, a ser feito a tal interligação entre Celorico da Beira e Zamora, o respetivo custo vá à tarifa. Ou seja, aos consumidores portugueses.
A fatura tem que ser paga…
Sem dúvida, até porque os estatutos da REN são claríssimos. Isto é, se é aprovado pela ERSE avança. Claro que depois pode haver um problema ambiental, mas isso é um problema operacional. E se tiver um problema ambiental que exija ações de remediação, os respetivos sobrecustos e lá vão outra vez ter à tarifa.
É um efeito bola de neve…
Estamos assim desde 2007. Mas penso que já há muitas pessoas que perceberam. A primeira vez que utilizei a expressão “capitalismo decretino” foi numa conferência no hotel Pestana Palace, em 2005 e já nessa altura tinha percebido o que se iria passar.
E porque é que Sines sai desta equação?
A geografia e a física valem muito. É como na geoestratégia. De Sines para França tem toda a Península Ibérica pelo meio…
No início do ano em relação ao hidrogénio chegou a dizer que era preciso mais planeamento e menos espetáculo. O episódio volta-se a repetir?
Completamente. Estamos na mesma. É preciso mais planeamento, mais estudos e mais análises fundamentadas, mas isto é um trabalho de engenheiros e de economistas. Aqui também é geoestratégia, mas quando chega aí diz que quer ir de Sines para França e depois se chega às Astúrias… Não parece ser o caminho mais direto ….
É importante o debate de urgência pedido pelo PSD sobre as interconexões?
Espero que esclareça alguma coisa agora. Mas também acho que a questão fundamental é desenvolver, concretizar a questão das interligações elétricas porque, aí sim, a eletricidade ou tem mais interligações ou estamos a desperdiçar produções a certas horas e a ficar muito fragilizados a outras horas.
Estes problemas de energia estão relacionados com a guerra, mas também com a política da descarbonização?
Não é só a descarbonização é o irrealismo disto tudo. O que é que adianta para a descarbonização ter potências intermitentes para depois ter de andar no pára arranca das centrais de backup para evitar os apagões? Não reduziu quase nada as emissões de carbono e gastou-se cerca de 15 mil milhões de euro.
Foi um erro crasso?
Completo. É preferível apostar mais na biomassa, porque a biomassa é renovável e é também armazenável. O vento e o sol não.
A biomassa foi considerada quase como se fosse uma espécie de demónio da carbonização.
Veja os países que têm eletricidade mais barata da Europa. A Suécia e a Finlândia. O que é têm? Biomassa e nuclear. São dos que emitem menos carbono e dos que têm a eletricidade mais barata da Europa.
Mas Portugal nem sequer quer discutir o nuclear…
O que interessa neste momento é ter uma situação em que a Península Ibérica continue a contar com o nuclear. É isso que está a aguentar a Espanha nos últimos dois anos porque, apesar de tudo, tem dirigentes que vão pensando estrategicamente. Em outubro de 2021quando percebeu que o carvão estava mais barato do que o gás, apostou na eletricidade a partir do carvão e reativa duas centrais. E tem as centrais nucleares a funcionar a 97%.
Portugal fechou a central do Pego
e de Sines…
Foi completamente prematuro, e com graves consequências económicas para Portugal.
Fomos mais papistas que o Papa?
Portugal está cada vez mais pobre porque, se os custos energéticos aumentam, para concorrer no mercado internacional, o que sobra? Reduzir salários e lucros. Se os salários se reduzem, não seguramos os melhores colaboradores. Se os lucros desaparecem, o investimento cai e a inovação tecnológica desaparece. E o país empobrece e não cria emprego .
Temos estado a falar de projetos a médio prazo, mas Bruxelas tem estado reunida para apresentar medidas para atenuar o impacto da subida da energia já este inverno….
Vamos ver o que acontece em relação à evolução da temperatura, porque o período crítico vai ser entre 1 de novembro e 31 de março. Vai ser o período das temperaturas mais baixas e o que conseguiram até agora foi aumentar a armazenagem de gás. Agora, a curto prazo, não se pode fazer muito mais. Ou se acaba com a guerra ou os riscos económicos vão continuar a crescer .
Portugal não é um país tão frio como os outros países da Europa, apesar de poupar muito na eletricidade por causa da conta de eletricidade…
Depende das regiões. As mais frias do interior lá serão outra vez as mais prejudicadas. É evidente que uma situação dessas vai depender muito das temperaturas em Portugal. Se tivéssemos ainda as centrais a carvão íamos ao mercado e perguntávamos a quanto custava o gás natural para o mês que vem e quanto é que custava o carvão? E em função do preço comprávamos mais gás ou mais carvão. Agora só se compra gás natural ou então importamos eletricidade de Espanha. Estamos a importar muita eletricidade desde que fechou a central do carvão de Sines, Em julho do ano passado o ano passado. O número ronda os dois mil milhões de euros em importações .
Ficámos muito mais dependentes.
Muito mais. Na eletricidade estamos a importar em média cerca de 26% ou 27% do que consumimos. E temos horas, em que chegamos a importar 60%.
Mas isso é um assunto que nem sequer é abordado no Orçamento do Estado…
A energia é uma das componentes que fez disparar as contas externas, que estão pela primeira vez desde 2013, a ficar altamente desequilibradas. Vamos ver o que aconteceu no mês de agosto e setembro por causa do turismo, mas este ano parece que vamos ter défice externo, que é uma coisa que não temos tido. É uma situação que evidentemente preocupa o ministro das Finanças, porque um país altamente endividado como o nosso se não tem contas externas equilibradas está no mau caminho.
Que aconselha ao Governo nesta matéria?
Há uma questão importante relativamente à biomassa e à questão dos fogos florestais. É uma coisa extremamente importante para viabilizar a limpeza das florestas e para que uma produção elétrica seja firme, ou seja, fiável e controlada. Por exemplo, em vez de gastarmos 300 milhões a fazer um gasoduto que não interessa, então porque é que não aumentam os sistemas logísticos de recolha e armazenagem dos resíduos de biomassa ligado às limpezas das florestas? E assim evitar a propagação dos incêndios rurais.
Para ser usado para produção de eletricidade?
Claro e já há centrais para isso. Só que há poucas e depois andam a massacrar os pequenos proprietários do interior porque não limpam as florestas. Então porque é que não vão lá buscar a madeira? Tem em Castanheira de Pera, onde foram os incêndios de 2017, milhares de toneladas de madeira queimada. Ninguém vai lá buscar e está à entrada da vila. A madeira já está um bocado ressequida, mas é melhor do que nada para produzir calor.
Deve-se a falta de estratégia?
Completamente. Não se compreende que, em Castanheira de Pera, ao lado da estrada da morte, haja milhares de toneladas de madeira queimada há mais de cinco anos. Agora há uma oportunidade excelente para juntar as duas coisas: o útil ao agradável. Tem o preço de energia a subir, e têm a madeira às toneladas à entrada de uma vila.
E em relação ao PRR nesta matéria? O que considera?
É praticamente inexistente para o interior rural. Tem outro exemplo de um outro investimento que faz todo o sentido, que é a hipótese de instalar nas barragens do Zêzere sistemas de bombagem / turbinagem para a água continuar em circuito fechado. Mantem-se a reserva estratégica de água e produz-se eletricidade .
A seca estava a níveis dramáticos. Esta chuva nos últimos dias mudou este cenário?
Até agora, esta chuva para as barragens não é significativa. Tem de ter algum efeito, mas ainda não é significativo. É significativo para os campos e penso que, neste momento, já não deve haver seca severa e extrema.
Então para a produção de energia é insuficiente?
É melhor do que nada. Vi há 15 dias que 50% das barragens estavam abaixo de 40% da respetiva capacidade. Julgo que a melhoria ainda é curta, mas se continuar a chover ao ritmo dos últimos dias, isso terá efeitos significativos na produção de eletricidade.