O primeiro-ministro comentou, esta segunda-feira, as palavras que o Presidente da República dirigiu à ministra da Coesão Territorial sobre a execução de fundos estruturais. Segundo António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa tem "momentos de criatividade".
"Sou sincero, no sábado, desliguei para descansar. Portanto, não ouvi diretamente as palavras [do Presidente da República]", começou por responder António Costa, em Sharm el-Sheikh, no Egito, onde está para participar na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), e acrescentou:"Sim, sim, não riam, lá porque sou primeiro-ministro também tenho direito ao descanso”.
Sobre as declarações do chefe de Estado em si, o primeiro-ministro começou por lembrar que embora fosse Cavaco Silva o Presidente quando assumiu funções é com Marcelo Rebelo de Sousa que a experiência é mais “longa”.
“Cada um tem o seu estilo, cada um tem a sua forma de agir, cada um tem a sua forma de interpretar os poderes constitucionais, visto que a nossa Constituição é bastante clara, embora ajustável à personalidade de cada um que exerce essas funções", disse.
"Todos os portugueses têm apreciado a forma como o Presidente da República tem exercido as suas funções, que tem momentos de maior criatividade", continuou Costa, sublinhando que isso é “normal” e que “ninguém leva a mal”. “A senhora ministra [Ana Abrunhosa], aliás, disse que não tinha levado a mal, estava lá e compreendeu perfeitamente a intervenção no quadro da informalidade com que tudo decorria", acrescentou.
Recorde-se que Marcelo Rebelo de Sousa avisou Ana Abrunhosa que estará "muito atento" e que não a perdoará caso descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que acha que deve ser.
O Presidente da República deixou o recado à ministra no sábado, na Trofa, no dia em que foram inaugurados os Paços do Concelho, de um município criado há 24 anos, começando por anunciar que queria dizer “duas coisas” a Ana Abrunhosa.
"E como não tenho tido oportunidade de o dizer digo-lhe hoje. Quando aceitamos funções políticas sabemos que é para o bom e para o mal. Não somos obrigados a aceitar. Sabemos que são difíceis, são árduas, que estão sujeitas a um controlo e a um escrutínio crescente, a democracia é isso, e há dias bons e dias maus, dias felizes e dias infelizes. A proporção é dois dias felizes por 10 dias infelizes", afirmou.
"Este é um dia super feliz, mas há dias super infelizes. E verdadeiramente super infeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que eu acho que deve ser. Nesse caso não lhe perdoo. Espero que esse dia não chegue, mas estarei atento para o caso de chegar", acrescentou.