As ameaças vieram-se a concretizar. O Banco Central Europeu respondeu aos previsões do mercado e sempre aumentou os juros em 0,5%. Mas a ideia não é ficar por aqui. E com base na revisão em alta substancial das perspetivas quanto à inflação, a entidade liderada Christine Lagarde diz que «espera continuar a aumentá-las», referindo que «considera que as taxas de juro ainda terão de aumentar de forma significativa a um ritmo constante, no sentido de serem atingidos níveis que sejam suficientemente restritivos para assegurar um retorno atempado da inflação ao objetivo de 2% a médio prazo».
Uma garantia que já tinha sido avançada pelos analistas contactados pelo nosso jornal.
Ricardo Evangelista, analista da ActivTrades, acredita que o banco central deverá continuar a subir os juros em 2023 até chegar aos 3%: «Isto significa que depois dos 0,5% ainda teremos mais um ponto percentual durante o próximo ano». No entanto, acredita que no próximo ano, o ritmo da subida dos juros deverá abrandar: «Possivelmente teremos quatro subidas de 0,25%. Mas este é um cenário que não está garantido e poderá ter que ser ajustado se a inflação cair mais rapidamente do que o esperado, ou se persistir em níveis elevados apesar do apertar da política monetária».
Já Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, espera uma subida de igual dimensão de 50 pontos na primeira reunião de 2023, a 2 de fevereiro, mas prevê um abrandamento para 25 pontos base a 16 de março, «fixando-se nessa altura a taxa de juro dos depósitos do BCE nos 2,75%, muito perto da sua taxa terminal esperada atualmente, em que o mercado antecipa que essa mesma taxa terminal para os juros na Zona Euro ande à volta dos 2,8%. Ou seja, atualmente a taxa de juro de referência do BCE é de 1,5%. Um aumento de 50 pontos base no dia 15 de dezembro impulsionará essa taxa para 2%. Uma alta de mais 50 pontos a 2 de fevereiro levará a taxa até aos 2,5%, culminando nos 2,75% a 16 de março com um aumento de 25 pontos».
Também Eduardo Silva, da XTB Portugal, considera que «a política monetária de aperto terá de continuar para arrefecer o consumo e, consequentemente, a inflação” e, como tal, diz que “a médio prazo vamos continuar a assistir a aumentos, mais ou menos agressivos consoante a evolução da inflação».
O que esperar agora?
Para um imóvel avaliado no valor de 125 mil euros a pagar em 33 anos, se a prestação em janeiro fixava-se em 362,71 euros (com uma taxa de juro média de 0,81%), em outubro já subiu para 488 euros (taxa média de juro de 2,86%) e agora irá subir para 540,58 euros, aliando a taxa de juro ao acréscimo previsível de 0,5%. Isto é, uma subida de 52,53 euros por mês, mas mais 213,87 euros do que no início do ano, segundo simulações feitas pelo Comparajá.pt.
Já para um imóvel de 186 mil euros, a pagar no mesmo prazo (33 anos), se em janeiro pagava 535,42 euros, a prestação subiu para 726,23 euros em outubro. Com este aumento dos juros irá pagar em dezembro uma prestação de 804,38 euros. Ou seja, um aumento mensal de 78,15 euros e uma subida 268,96 euros face a janeiro.
O cenário repete-se para uma casa de 257 mil euros também a pagar a 33 anos. A prestação que em janeiro era de 791,65 euros subiu para 1073,72 euros em outubro deste ano. A concretizar-se esta subida de 075%, irá pagar em dezembro uma prestação mensal de 1189,27 euros. Feitas as contas, mais 115,55 euros por mês e um aumento de 397,62 euros em relação ao início do ano.
Para João Melo, diretor de crédito habitação da plataforma, «2022 ficou, sem sombra de dúvida, marcado pelo aumento exponencial e constante das taxas de juro no crédito habitação dado que assistimos às subidas mais acentuadas da história da banca. Apesar de os juros já terem tido percentagens mais superiores como em 2008 ou em 2012, a verdade é que as taxas sofreram oscilações a um nível que nunca tinham sofrido anteriormente», refere ao nosso jornal.
E acrescenta: «As principais consequências deste fenómeno já se têm vindo a notar e, aliado ao facto de o preço das casas não ter descido, o montante total disponibilizado pelos bancos associado ao crédito habitação tem diminuído mês após mês e em outubro assistiu-se a um dos piores registos dos últimos dois anos».