Costa dá posse a novos ministros. “Escolha está de acordo com época de saldos e promoções”

João Galamba foi o nome escolhido para liderar o Ministério das Infraestruturas e Marina Gonçalves para a Habitação. Costa afasta “sinal de esgotamento, mas aproveitamento de capacidades já testadas”. Oposição não poupa críticas

João Galamba foi o nome escolhido para liderar o Ministério das Infraestruturas e Marina Gonçalves para a Habitação, substituindo assim Pedro Nuno Santos que apresentou na semana passada a demissão do cargo devido à polémica em torno da indemnização de Alexandra Reis quando saiu da TAP. Estas escolhas não são “sinal de esgotamento, mas aproveitamento de capacidades já testadas”, defendeu António Costa em conferência de imprensa, referindo que “seria estranho que um Governo do PS não tivesse pessoas do PS ou da área do PS” e acenando por já terem “experiência governativa”.

Duas soluções que não surpreendem os politólogos contactados pelo i. Para José Filipe Pinto, “este é um Governo que está de acordo com a época, estamos numa época de saldos e de promoções e António Costa fez duas promoções. Promoveu João Galamba e a Secretaria de Estado da Habitação a Ministério, mantendo a titular. Não é uma remodelação”.

E lembra que Galamba é alguém muito próximo de Pedro Nuno Santos, juntamente com Duarte Cordeiro, e que formam uma espécie de tríade de oposição interna de decisões de António Costa. “João Galamba é promovido para que António Costa possa continuar a controlar a ala que tinha como principal rosto Pedro Nuno Santos. Mas tudo isto é um reflexo da formação, desde o início do Governo. António Costa rodeou-se das pessoas que no partido são apontadas como seus possíveis sucessores e aqueles que são mais críticos em relação à sua atuação”. 

Apesar de dar nota positiva em relação ao seu trabalho enquanto secretário de Estado do Ambiente, chama a atenção para o facto de ter à sua frente dossiês difíceis, como é o caso da privatização da TAP, mas que continua em mãos de uma pessoa que é associada à ala mais à esquerda. “Tem um dossiê extremamente difícil e depois tem um outro que poderia permitir visibilidade e notoriedade que é o da ferrovia, mas grande parte desse projeto já foi lançado por Pedro Nuno Santos que colheu os frutos por isso. Havia uma outra pasta importante, que era a habitação, mas com a carta de alforria para ministério próprio é evidente que isso limita o papel de João Galamba”.

Também Paula Espírito Santo não fica surpreendida com os novos nomes, pois já esperava uma solução interna, “até porque está a haver uma dificuldade em encontrar pessoas de confiança que não estejam próximas do primeiro-ministro e daí um dos caminhos mais viáveis não passaria pela apresentação de novos rostos”. No entanto, lembra que assenta numa estratégia distinta ao fazer uma subdivisão de uma pasta importante. “Com isso passa a haver uma partilha de responsabilidades em pelouros que já existiam e que, neste caso, agora até podem sair reforçados”.

Promoção de alguém polémico Em relação às polémicas de João Galamba (ver página 4), Paula Espírito Santo admite que “não é uma pessoa com grandes pergaminho políticos, no sentido de conseguir resolver as situações de uma forma politicamente correta”, o que poderá estar relacionado a alguma imaturidade política. “O assumir esta pasta poderá colocá-lo à prova e vai ter pastas muito importantes”. Ainda assim, reconhece que “não parece que seja uma aposta de peso ou que fosse expectável para a importância que esta pasta tem, com dossiês complicados, como a TAP e a reestruturação da CP, que em vários governos nunca tiveram soluções sólidas”. Também José Filipe Pinto admite que as polémicas em torno do novo ministro das Infraestruturas fazem parte da sua personalidade. “É muito jovem e reage muito no imediato. Ainda não se preocupa muito com a questão do politicamente correto, o que representa um ativo e um passivo. Um ativo porque pensa pela sua cabeça e um passivo porque pode ser inconveniente em determinados momentos”, refere ao nosso jornal.

Medina fica O primeiro-ministro garantiu ainda que a permanência de Fernando Medina no Ministério das Finanças “não está de modo algum em causa” na sequência da polémica indemnização de Alexandra Reis, mesmo depois de Luís Montenegro o ter considerado um “peso morto”. “O ministro das Finanças, quando tomou conhecimento de uma situação que tinha que ver com a atribuição de uma indemnização que, independentemente da sua legalidade, chocou o país, fez o que devia fazer, que foi convidar a secretária de Estado a demitir-se”, afirmou António Costa. José Filipe Pinto considera esta permanência “normal dentro do que foi a formação do Governo”. E acrescenta: “Fernando Medina está para António Costa como Fernando Haddad está para Lula da Silva, perdem eleições que são fundamentais para o partido, mas são apontados como grandes candidatos à sucessão do atual líder”.

Já Paula Espírito Santo acredita que o primeiro-ministro vai “aguentar” o ministro das Finanças até ao limite possível, dado que é uma pasta estratégica. “Na visão de António Costa ainda não se atingiu o limite de dificuldade de gestão para que possa ser remodelado. Mexer na pasta das Finanças seria um sinal de incapacidade política. Até porque já o foi promovendo a partir da Câmara Municipal de Lisboa”. 

PSD afasta eleições Ainda antes do discurso de António Costa, o líder social-democrata reconheceu que o país não deve enfrentar eleições antecipadas, associando-se aos recados de Marcelo, defendendo que “este não é tempo de abrirmos uma crise política em cima de uma crise social”. Ainda assim, Montenegro garante que, se houver eleições antecipadas, o PSD estará pronto. “Se essa hora chegar, estaremos preparados e não faltaremos à chamada. Não nos resignamos a pântanos, a bancarrotas e ao empobrecimento”.

Paula Espírito Santo interpreta este discurso como o momento em que o partido “ainda se está a organizar e a criar mais estofo político”, lembrando que “as sondagens também não permitem que o PSD possa ir a eleições sozinho com vista a garantir uma maioria estável para poder governar”. E acrescenta: “Ainda é preciso fazer um caminho e o tempo poderá ajudar a que o partido consolide melhor as suas posições e a sua capacidade de atingir mais eleitorado ou reconquistar eleitores que foram para os novos partidos, daí não ter grande interesse em ir a eleições neste momento”.

José Filipe Pinto, depois de Luís Montenegro ter saído muito fragilizado no último discurso do Presidente da República, que disse não haver uma alternativa credível, elogia o seu comportamento por não ter reagido. “Antecipou-se para fazer a sua leitura e explicou que não tem pressa para chegar ao Governo mas que o país tem pressa de estabilidade. E que é importante para conquistar o eleitorado, porque reconheceu que quem provoca crises institucionais corre o risco de vir a ser penalizado”. 

Reações André Ventura considerou a nomeação de João Galamba “uma afronta ao país e à justiça”, lembrando que o novo ministro está a ser investigado por causa do lítio e do hidrogénio. “Sabemos de fonte segura que João Galamba tem no seu currículo ter sido quem avisou José Sócrates da Operação Marquês, sendo outra afronta à justiça”, acusa.

E defende que Fernando Medina não tem condições para se manter no Governo, por ”falta de autoridade”.
Também a Iniciativa Liberal diz entender as razões que levam António Costa a insistir na apresentação de pessoas de dentro do partido e sugere que as escolhas de João Galamba e Marina Gonçalves apenas surgiram para “equilíbrios internos”. “Estas duas pessoas são de uma fação muito particular dentro do PS, são da fação de Pedro Nuno Santos. A ideia que dá é que foi o próprio Pedro Nuno Santos a escolher estas pessoas”, disse Carlos Guimarães Pinto ao Observador.

Já o CDS-PP considera que as opções de António Costa mostram um “Governo absolutamente esgotado e a funcionar em circuito fechado”, com Nuno Melo a reiterar a “necessidade de dissolução do Parlamento e de eleições antecipadas”. As escolhas, disse, são feitas “dentro de um núcleo cada vez mais restrito do PS de José Sócrates ou das áreas de influência de Pedro Nuno Santos, de que António Costa está refém, optando por pessoas sem qualquer currículo ou experiência”.