Serão Guterres e Barroso presidenciáveis?

Guterres ‘agradaria ao próprio Marcelo Rebelo de Sousa que não teria melhor forma para largar o cargo do que passar o testemunho a alguém que acaba de sair das Nações Unidas’.

por Raquel Abecasis

Embora as presidenciais de 2026 sejam ainda longínquas, as empresas de sondagens começam a testar nomes para a sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa. Uma lista na qual seria normal que constassem em lugar de destaque os nomes dos dois políticos portugueses que mais longe chegaram no seu percurso político. Por estranho que pareça isso não acontece. Apenas uma sondagem, das mais recentes, testou o nome de Durão Barroso. Foi em julho de 2022, uma sondagem da Pitagórica para a TVI/CNN.

O que leva o país a não fazer contas com estes dois nomes para ocuparem o Palácio de Belém foi o que o Nascer do SOL procurou perceber junto de responsáveis pelas empresas de sondagens que fazem estes estudos para a comunicação social e para os partidos políticos.

«Neste momento nenhuma sondagem sobre presidenciais tem grande adesão à realidade», é o que diz Ricardo Reis, responsável pelo centro de sondagens da Universidade Católica (UCP). O que se passa é que a esta distância a panóplia de nomes que teriam que ser testados era de tal forma grande que a dispersão de respostas acabaria por desvirtuar os resultados. De qualquer forma, Ricardo Reis admite que «se tivesse que fazer agora uma sondagem, não teria incluído esses nomes porque me teria esquecido».

Quem não se esqueceu, pelo menos de Durão Barroso, foi a Pitagórica, dirigida por Alexandre Picoto, que diz que na sondagem que fez em julho para a TVI/CNN só não incluiu também o nome de Guterres, porque este estava a candidatar-se na altura a um segundo mandato como Secretário-Geral da ONU. Nesse estudo publicado há menos de um ano e com um leque muito alargado de nomes à esquerda e à direita, Durão Barroso aparece atrás de nomes como Gouveia e Melo, António Costa e Pedro Passos Coelho. O antigo Presidente da Comissão Europeia surge empatado com Marques Mendes, em quarto lugar com uma percentagem de 26% de votos. Alexandre Picoto sublinha que a pergunta formulada neste estudo era sobre a competência para a função e não em quem votaria.

Seja como for os dois técnicos dividem-se quanto à oportunidade de testar os nomes de Guterres e Barroso. Pelo menos neste momento político. Enquanto o responsável pela Pitagórica considera que não há razão para testar estes nomes, Ricardo Reis da UCP observa que quem se está a lançar nestes estudos com tanta antecedência, «está a fazê-lo para aproveitar a espuma do debate» e nenhum dos dois políticos portugueses mais internacionais conta, neste momento, para este campeonato.

E porque é que isso acontece? Porque estão ocupados com outras atividades e pelo menos na aparência estão fora da corrida. António Guterres já o terá afirmado numa entrevista à Euronews em 2016, mas nessa altura falava-se das presidenciais de 2021 e Guterres ainda nem sequer tinha chegado a Secretário-Geral das Nações Unidas, era apenas Alto-Comissário para os Refugiados. Agora o tema é outro, Guterres acaba o segundo e último mandato à frente dos destinos da ONU mesmo em cima da data das eleições presidenciais de 2026. O que faz com que bastava que antecipasse apenas alguns meses o fim do mandato para poder concorrer. Até porque o seu sucessor em Nova Iorque por essa altura já estará nomeado. Já a perceção em relação a Durão Barroso é outra. Há uma aparência de afastamento da atividade política que o deixa de fora das especulações presidenciais.

O facto é que, os especialistas em sondagens consultados pelo Nascer do SOL, acreditam que, a esta distância, qualquer um dos dois pode ainda surgir com força na corrida presidencial. Basta para isso que manifestem vontade de avançar, ou pelo menos que perguntados, não afastem a hipótese. Se Guterres abrir uma brecha «será seguramente testado», diz Alexandre Picoto e Ricardo Reis acredita que «começa a fazer mais sentido falar de Guterres». O responsável pelo centro de sondagens da Católica considera mesmo que essa hipótese «agradaria ao próprio Marcelo Rebelo de Sousa que não teria melhor forma para abandonar o cargo do que passar o testemunho a alguém que acaba de sair das Nações Unidas». Já a hipótese Barroso terá mais dificuldades, porque entretanto o antigo presidente da Comissão Europeia fez um caminho na finança e seria o candidato que sai da Goldman Sachs para se candidatar a Belém.

Como se diz no futebol e cada vez mais na vida política: ‘prognósticos só no fim do jogo’. E o jogo das presidenciais ainda está só a começar. Guterres e Barroso são ativos na reserva com quem outros hipotéticos candidatos terão de contar, caso algum dos dois ou os dois queiram voltar à arena política nacional.