Por Raquel Abecasis
Não foi uma liderança fácil desde que assumiu os destinos do PAN em 2021 e o próximo congresso do partido promete ser muito difícil para Inês Sousa Real. Deputada única do partido no Parlamento, Sousa Real tem sido muito criticada neste dois anos, a começar pelo rombo eleitoral que o partido levou nas eleições do ano passado que o deixou ligado às máquinas (de um grupo parlamentar de quatro deputados o PAN voltou à condição de deputado único), passando por críticas à forma como está a «asfixiar» o partido e acabando na acusação de que está a descaracterizar uma força política que se apresentou como «uma lufada de ar fresco» no panorama político nacional.
Nelson Silva, ex-deputado do PAN e ex-membro da direção de Inês Sousa Real é o homem que promete dificultar a vida à atual líder no próximo congresso. Ao seu lado estão muitos descontentes deste jovem partido que já padece dos mesmos problemas dos velhos partidos.
Os críticos de Sousa Real lamentam o caminho que o partido tem seguido desde 2021 e temem que a continuar assim o PAN possa sair do Parlamento numas próximas eleições que muitos acreditam que podem ser antecipadas. «Isso é o que pode acontecer se as coisas não se alterarem radicalmente». Em declarações ao Nascer do SOL, Nelson Silva lamenta que o partido tenha perdido a «irreverência e a capacidade de marcar a agenda com novas bandeiras».
A tudo isto Inês Sousa Real responde com os ganhos assegurados neste ano de legislatura em que «o contexto de maioria absoluta dificulta o trabalho à oposição». A seu favor, a deputada única do PAN enumera as principais conquistas obtidas: o aumento para os 30 anos na prescrição dos crimes de abusos sexuais de menores, o fim dos estágios profissionais não remunerados e uma verba adicional de 30 milhões para a proteção animal.
Mas se as conquistas são grandes porquê as críticas?
Sousa Real garante que as críticas são infundadas e diz que tudo tem sido feito para reganhar o peso eleitoral do partido.
Já os críticos, na moção ‘Mais PAN, agir para renovar’ que a oposição vai levar ao congresso, afirmam que é preciso recuperar a «credibilidade perdida» e recentrar o partido na sua vertente ecologista, trazendo para o debate político «prioridades atuais».
A tudo isto a líder do PAN responde com números e com as iniciativas legislativas apresentadas em sede parlamentar, acusando a oposição de desconhecimento do trabalho feito. E acrescenta que «é preciso ter consciência que um partido com deputado único não tem poder de agendamento», pelo que, dadas as circunstâncias, não seria possível fazer mais e melhor.
«Não estamos na política para proteger o Governo», contra-ataca Nelson Silva numa crítica à forma como a atual líder tem gerido o posicionamento do PAN no Parlamento. Os críticos defendem que o partido tem que se afirmar pela sua capacidade de fazer pontes à direita e à esquerda, não fechando portas que poderão vir a ser importantes para obter conquistas políticas no futuro.
O regresso às origens
É um ponto em que direção e oposição concordam, embora divirjam nas soluções. Enquanto Nelson Silva acha que é possível fazê-lo recuperando a forma irreverente como o partido se apresentou aos eleitores no passado. Sousa Real diz que os tempos são outros e que o contexto nacional e internacional têm colocado novas questões na agenda política. Por isso mesmo a líder e recandidata à liderança do PAN aposta tudo na integração do partido na formação European Green, contando que este passo seja determinante para recuperar um deputado em Bruxelas. Francisco Guerreiro foi o deputado eleito nas últimas europeias, mas desvinculou-se do partido no final de 2020, ficando o partido sem representação em Bruxelas.
Com dois candidatos à liderança num partido com apenas um deputado em São Bento, o congresso do PAN que se realiza em Maio em Matosinhos promete ser palco de muita discussão e talvez algumas cisões.