A última semana foi decisiva para o realinhamento de estratégias no interior do PS. A conclusão das audições na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP marca o fim do «troço mais perigoso da legislatura até agora», diz-nos uma fonte próxima da direção. Na análise do Largo do Rato, as prestações de Hugo Mendes e Pedro Nuno Santos não trouxeram problemas de maior, antes pelo contrário, e os maiores riscos do dossiê TAP e da polémica relacionada com o afastamento de Alexandra Reis, com o pagamento de uma indemnização de quinhentos mil euros, estão ultrapassados.
Mesmo entre os socialistas mais críticos da liderança de António Costa é reconhecido que «está tudo a favor dele». Os resultados económicos são bons muito à custa do turismo e «ainda não veio o verão nem o Papa», sublinham.
Do lado do Governo já se prepara o day after. Na última semana, e antecipando um final sem incidentes de maior para as audições desta semana, o Governo já colocou nos jornais as notícias felizes que aí vêm: mais apoios às famílias mais necessitadas, aumento de reformas, descida de impostos para famílias e empresas. A aposta está em aproveitar os cofres cheios para reconquistar o coração dos portugueses e tirar o máximo partido do facto de o PSDnão estar a conseguir descolar nas sondagens, mesmo com toda a agitação dos últimos tempos. Hoje mesmo o Expresso publica uma sondagem em que o PSvolta a surgir à frente do PSDcom a vantagem de um ponto. Números que os socialistas festejam e que caucionam a estratégia de respirar fundo e esperar que a tempestade acalme.
António Costa conta chegar ao Conselho de Estado do final de julho com boas notícias na economia e com a situação política estabilizada. Ainda que se espere alguma polémica com o relatório final da Comissão de Inquérito à TAP, havendo mesmo quem admita que, à semelhança do que já aconteceu no passado, a CPI possa vir a ter um relatório aprovado pela maioria socialista e um outro, oficioso, que resume as conclusões da oposição.
Galamba fica e remodelação só em 2024
O ‘ramo morto’ João Galamba vai manter-se agarrado à árvore durante mais alguns meses. É o que garantem fontes socialistas ao Nascer do SOL, que apostam tudo numa remodelação o mais próximo possível do congresso dos socialistas, agora adiado para março de 2024. António Costa não gosta de remodelar e, depois de ter esticado a corda com o Presidente da República, ao recusar demitir João Galamba, não vai agora fazer esse gosto a Marcelo Rebelo de Sousa. E a prova de que quer manter a sua posição é o facto de ter levado Galamba para as cerimónias de 10 de Junho no Peso da Régua, local onde era inevitável que Galamba e o Presidente estivessem juntos no mesmo palco.
A frase ‘é a economia, estúpido’, que serviu de guia para Bill Clinton conquistar a Casa Branca contra o incumbente George W Bush é agora a frase que conduz o PS no Governo. Os mais críticos de António Costa constatam mais uma vez a estrelinha da sorte que tem acompanhado o primeiro-ministro e notam que Portugal está a beneficiar com o facto de ser o porto de abrigo, numa altura em que a Europa e o mundo continuam a sofrer os efeitos da guerra na Ucrânia. «A Alemanha entrou em recessão e Portugal está bem e recomenda-se», afirma um socialista da ala mais crítica à atual liderança.
Tudo isto justifica que António Costa encare o futuro com otimismo e não sinta necessidade de mexer no Governo, numa altura em que está em perda, em que teria dificuldade em recrutar e dando um sinal de fraqueza perante o Presidente. Tudo razões que desaconselham a remodelação que terá chegado a equacionar. Agora, dizem-nos, o Conselho de Estado promete ser um passeio, até porque, por essa altura, os resultados da economia já estarão a chegar aos bolsos de alguns.
Mais próximo do congresso, o chefe do Governo julga que será mais fácil encontrar novas caras, refresca a equipa rumo às eleições europeias e ganha o fôlego necessário para prosseguir confortavelmente o caminho para um futuro que ainda tem em aberto. A hipótese de vir a ocupar um lugar europeu não está afastada, mas o cenário de levar o mandato até ao fim e deixar em aberto o seu futuro político (como se explica nas paginas 6/7), está também em cima da mesa.
Do ponto de vista socialista, seja qual for a sensibilidade, “a guerra ainda vai ser longa e está tudo a favor do Costa”. Do lado dos pedronunistas o calendário é visto de forma positiva, porque o tempo que falta é precioso para Pedro Nuno ganhar estatura para a sucessão.
Pedro Nuno opta por pedalar a sua própria bicicleta
Mais uma vez, esta semana, Pedro Nuno Santos surgiu na Comissão de Inquérito, bem preparado, seguro e sem muitos papeis, tendo optado por fazer a sua intervenção inicial de improviso, apenas com o recurso a alguns tópicos de apoio.Valorizou a sua tutela da companhia aérea e desvalorizou os factos que conduziram à CPI.
A estratégia do ex-ministro e previsível candidato à sucessão de António Costa, foi a de não hostilizar o primeiro-ministro, tendo optado por evitar afirmações que possam ser lidas como ataques internos. Mesmo no momento em que foi interrogado sobre o episódio Frederico Pinheiro, o ex-ministro distanciou-se dos episódios e só muito discretamente mostrou simpatia pelo ex adjunto e garantiu que no seu tempo, os documentos da reestruturação da TAPnão estavam só no seu computador, desmentindo a tese da chefe de gabinete de João Galamba, de que não havia arquivo destes documentos na gestão do anterior titular da pasta das infraestruturas.
Focado no seu papel enquanto ministro e deixando para trás ajustes de contas, Pedro Nuno Santos está apostado em reconstituir o seu perfil político, afastando qualquer acusação de causar divisões entre os socialistas. «Ele vai esperar transquilamente pela sua hora e até lá quer afirmar-se no país e manter as tropas unidas para o futuro», diz-nos um apoiante do ex-ministro das Infraestruturas. Pedro Nuno mantém os seus apoios praticamente intactos e ao longo destes meses foi trabalhando as bases do partido que o apoiam. O principal candidato a uma futura liderança no PS sabe que o trabalho de manter os apoios e até de os fazer crescer, fica facilitado pelo facto de já não ter funções governativas e, portanto, de não estar sujeito às regras do primeiro-ministro na sua permanente tentativa de influenciar a sua sucessão. Os seus mais sérios concorrentes fazem neste momento parte do Governo e, por isso, estão mais limitados na tarefa de se afirmarem como candidatos. Ao mesmo tempo que Pedro Nuno Santos é reconhecido, dentro e fora do partido, como o mais sério candidato à sucessão. A este respeito, os seus apoiantes sublinham como muito importantes as declarações de Marques Mendes no último fim de semana, garantindo não ter dúvidas sobre a futura liderança do ex-ministro. E também declarações recentes de Francisco Assis, conotado com a ala mais à direita dos socialistas, não passaram indiferentes aos pedronunistas. Numa entrevista recente, o presidente do Conselho Económico e Social elogiou Pedro Nuno Santos e adivinhou-lhe um grande futuro no partido. É nisso que o candidato a líder do PS está focado e para tal conta com o espaço de comentário político que tem já garantido na SIC, depois do verão, e com o lugar no Parlamento que ocupará também na mesma altura.
«O tempo dele há de chegar» e o que é importante, quando chegar a sua hora, é que o nome de Pedro Nuno Santos seja incontestável no PS. Por isso, a estratégia é deixar que António Costa cumpra «com dignidade o seu mandato» e guardar-se para o pós-costismo que ninguém prevê que esteja para breve.
Uma coisa é certa, para Pedro Nuno Santos é muito claro que o adversário não é António Costa e vai evitar o mais possível esse confronto. Isso mesmo ficou claro quando, perguntado sobre as decisões políticas em relação à TAP, que foram tomadas depois da sua saída, o anterior ministro recusou sempre tecer opiniões.
Tal como na semana passada, Pedro Nuno Santos não quis ajudar a oposição a desgastar o Governo.
E no PSficou claro: a reaparição de Pedro Nuno Santos provou ao país que o ex ministro está vivo e recomenda-se.