A poderosa ‘dama Negra’

O Toyota Hilux T1+ é uma máquina infernal, que esmaga a concorrência no todo-o-terreno. Percebemos isso depois de termos andado num carro idêntico ao que venceu o Dakar nos dois últimos anos. Os 400 cv são arrebatadores!

O convite da Toyota Gazoo Racing Caetano Portugal para o Nascer do SOL fazer um co-drive com o piloto João Ramos no Toyota Hilux T1+ era irrecusável. E aí fui eu até ao Outeiro Test Center, na região de Leiria. Começemos pelas apresentações: João Ramos é um dos melhores pilotos portugueses e foi campeão nacional de todo-o-terreno e o Toyota Hilux T1+ é ‘só’ o carro que venceu o Dakar nos dois últimos anos, e está avaliado em 700 mil euros. 
Foi construído na Hallspeed, na África do Sul, e a ‘musculada’ carroçaria em fibra de carbono – da pick up série resta apenas o emblema à frente e os farolins traseiros – esconde o motor biturbo V6 3.5 com 400 cv, tem tração integral e caixa sequencial de seis velocidades. Apesar das duas tonelas, o conjunto tem um ‘poder de fogo’ incrível. Desde que apareceu nas corridas não tem feito outra coisa que não seja vencer.

A expetativa foi largamente superada porque o piloto não se limitou a passear o jornalista, bem pelo contrário, e a pick up impressionou pela potência e eficácia nos estradões de terra. A atual geração de veículos de todo-o-terreno de competição é infernal, são verdadeiros protótipos.
À observação de que «de fora, isto, tem bom aspeto», João Ramos respondeu: «Tranquilo, isto vai ser giro». Foi giro e muito divertido. Motor ligado e o habitáculo foi invadido por um som potente e uma onda de vibrações. Nas primeiras centenas de metros a pick up andou algum tempo pelo ar… as lombas foram feitas com o acelerador a fundo e aí estamos nós a levantar voo. Esperava um forte impacto ao aterrar, mas a eficácia das sofisticadas suspensões absorveu tudo, até parecia que estava num sofá. 

Já com as rodas em terra, seguiu-se uma vertiginosa descida, com curvas encadeadas feitas a um ritmo impressionante,  haja coração para aguentar a ‘dança’ de precisão e talento do piloto com a sua ‘dama negra’, como é tratado o Hilux T1+. Seguiu-se uma parte mais técnica e trabalhosa, onde o desempenho do piloto/máquina estava mais próximo de um carro de rali do que de um veículo de todo-o-terreno. Na generalidade das situações é bastante equilibrado, mas nas mudanças de direção rápidas sente-se a traseira a escorregar, essa sobreviragem era facilmente controlada doseando o acelerador e com golpes precisos de volante. O piloto divertia-se e o navegador de ocasião ainda mais.

A forma equilibrada com o Hilux T1+ curva e a rapidez com que sai dessas mesmas curvas deve-se à tração às quatro rodas, sente-se pick up agarrada à estrada. Nas zonas mais degradadas a suspensão ‘limpava’ as irregularidades do terreno, o que permitia passar por cima de qualquer folha sem desconforto para os ocupantes. Isso é muito importante em etapas com centenas de quilómetros, onde os pilotos passam mais de seis horas ao volante. Fiquei a pensar no gozo que será conduzir este carro nas longas e difíceis etapas do mítico Dakar. Nasser Al-Attiyah, vencedor das duas últimas edições, tem o melhor carro e emprego do mundo. 

A prova de que João Ramos estava a desempenhar o seu papel muito a sério foram as duas ou três ocasiões em que teve de fazer correções e aliviar o acelerador para manter a ‘dama negra’ no bom caminho. A sensação de segurança foi máxima para quem não está habituado a estes andamentos. 
À medida que os quilómetros passavam ia percebendo que ser piloto de topo é algo que não está ao alcance de qualquer um. A facilidade com que João Ramos ‘lê’ o terreno e sabe a velocidade a que deve saltar e abordar qualquer curva são impressionantes. É para quem sabe.

O passeio acabou com mais um enorme salto (de consagração) que espantou os presentes e provocou (disseram-me) um sonoro «ohhh». A experiência foi incrível, no final agradeci ao João Ramos e deixei a dica: «Um dia ainda vou fazer uma Baja contigo». Ele riu-se, e não disse que não. Talvez me aceite…