O sinal dado por Luís Marques Mendes de que está disponível para uma eventual candidatura à Presidência da República fez agitar as águas à direita. Duas semanas depois de ter estado ao lado de Luís Montenegro na Festa do Pontal e a cerca de dois anos e meio das eleições que vão escolher o sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa, o conselheiro de Estado e antigo líder do PSD quis posicionar-se na corrida presidencial.
«Se um dia achar que, com uma candidatura à Presidência da República, posso ser útil ao país, tomarei essa decisão», declarou, no passado domingo, no seu habitual espaço de comentário na SIC.
Pedro Santana Lopes, que também tem deixado em aberto a hipótese de participar nesta corrida, foi rápido a reagir, afirmando que Marques Mendes está a seguir as pisadas de Marcelo para Belém.
«Era algo já esperado, todos nós já esperávamos, aquelas tentativas dominicais de uma receita que já se conhece: sugerir livros, enviar saudações para todo o país e para todo o mundo», referiu em declarações à Renascença, na segunda-feira. Dois dias depois, em entrevista à SIC Notícias, o autarca da Figueira da Foz voltou a sinalizar a «possibilidade» de ser candidato às presidenciais de 2026, mas atirou uma decisão para junho ou julho do próximo ano.
Contudo, os seus planos de futuro poderão andar muito distantes do Palácio de Belém. Segundo fontes ouvidas pelo Nascer do SOL, Santana Lopes estará a equacionar encabeçar uma candidatura do PSD à Câmara da Figueira da Foz, para um terceiro mandato à frente da autarquia, nas eleições autárquicas de 2025.
A confirmar-se esse cenário, não seria a primeira vez que Santana Lopes trocaria as voltas, desistindo de uma candidatura à Presidência da República para abraçar outros destinos. Há precisamente oito anos, a 27 de agosto de 2015, Santana Lopes anunciava que estava de fora da corrida, após Marcelo entrar a jogo. Na altura, justificou a desistência com os «deveres» na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, onde era provedor, mas, tal como escreveu o i, os riscos financeiros de uma candidatura sem apoio de uma estrutura partidária também pesaram na decisão. «Era muito difícil avançar por conta própria não tendo dinheiro nem o apoio do PSD», fundamentava uma fonte próxima de Santana Lopes em declarações ao i.
Afastado desde 2018 da família social-democrata, a hipótese de Santana voltar a ser militante do partido tem sido alimentada por Luís Montenegro que, no último mês, já se pronunciou sobre o tema por duas ocasiões. Primeiro, no Pontal, onde referiu que o antigo líder social-democrata estava «a caminho» do partido. Depois, em Mogadouro, distrito de Bragança, no âmbito da iniciativa Sentir Portugal, disse estar «convencido» de que Pedro Santana Lopes «vai regressar a casa».
O próprio tem vindo a admitir essa possibilidade desde que Luís Montenegro assumiu os comandos do partido. Aliás, uma das primeiras iniciativas do presidente do PSD, um dia depois de ter sido empossado líder, foi reunir com Santana Lopes na Figueira da Foz.
Desde então, a aproximação aos sociais-democratas também já se fez sentir na autarquia. Em junho, o autarca independente fez um acordo com Ricardo Silva, único vereador social-democrata na Câmara da Figueira da Foz, para garantir a maioria ao executivo camarário.
De resto, a direção social-democrata também considera ser extemporâneo falar das presidenciais a dois anos e meio de distância, até porque o partido está mais empenhado em duas lutas eleitorais com maior importância de afirmação política para o partido: as europeias e as autárquicas.
Esta quarta-feira, minutos antes de receber o Presidente da República na Universidade de Verão do PSD, que decorre em Castelo de Vide, Luís Montenegro reiterou que o partido tratará das eleições presidenciais «mais ou menos daqui a dois anos» e não comentou eventuais candidatos.
No dia anterior, Paulo Portas, outro dos nomes apontados para a corrida a Belém, também aproveitou a intervenção na Universidade de Verão do PSD para deixar recados a Marques Mendes e ao centro-direita: «A mim parece-me que, para o espaço não socialista, a prioridade é construir uma alternativa que suceda a António Costa, não é encontrar um sucessor para o professor Rebelo de Sousa», afirmou o antigo líder do CDS-PP, mantendo o tabu quanto a uma eventual candidatura às presidenciais.
Avançar para condicionar também pode ser um risco
As eleições só vão realizar-se em janeiro de 2026, mas quem joga por antecipação pode ganhar pontos na corrida. Mas também há riscos associados às sinalizações precoces.
O que terá levado Marques Mendes a avançar não se sabe ao certo, mas há quem entenda que é uma forma de condicionar os avanços de outros candidatos na mesma área política.
«Estes candidatos que estão a aparecer à direita, estão a seguir um pouco a moda do Dr. Jorge Sampaio, que em 1995 quis avançar primeiro que qualquer um outro, para poder condicionar a escolha do próprio partido. Agora, esta comparação não faz muito sentido, porque o Dr. Jorge Sampaio não avançou com três anos de distância. Quando se avança com esta distância, a questão aqui não passa por saber se se condiciona os outros, mas se não acabamos nós por nos queimar», aponta João Pereira Coutinho ao Nascer do SOL.
Na análise do politólogo, a multiplicação de protocandidatos à direita como Marques Mendes ou Santana Lopes é um «sintoma de que ainda não há um candidato forte» à direita para as presidenciais de 2026 e pode levantar um problema de dispersão de votos, à imagem do que tem sucedido com a esquerda.
«Era muito o que acontecia no Partido Socialista. Ou seja, a multiplicação de candidatos devia-se ao facto de não haver um candidato que fosse incontestável, consensual, forte, para capitanear uma candidatura do espaço socialista», explica.
Por oposição a Marques Mendes e a Santana Lopes, Pereira Coutinho assinala que as reservas de Paulo Portas em abordar a questão podem ser lidas como uma forma de se proteger, caso queira avançar com uma candidatura mais à frente.
«[O discurso na Universidade de Verão do PSD] só mostra a inteligência do Dr. Paulo Portas, porque estas presidenciais vão ser decididas num espaço não socialista pelos retardatários, ou seja, não por aqueles que avançam primeiro, mas por aqueles que vão aparecer numa fase já mais avançada», avalia.
Nesse sentido, nomes como Gouveia e Melo, Pedro Passos Coelho, Paulo Portas ou mesmo como Paulo Rangel, têm de poupar-se para uma fase posterior, impedindo aquilo que normalmente acontece quando se avança demasiado cedo que é os nomes acabarem por se queimarem nesse longo percurso até às presidenciais de 2026.
Pereira Coutinho também insere neste leque de putativos candidatos o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, lembrando que também foi esse o percurso de Jorge Sampaio, que trocou a a autarquia lisboeta pelo Palácio de Belém.
«Se à direita surgir um nome mais consensual, mais agregador, mais forte, capaz de vencer umas próximas eleições presidenciais, todos estes candidatos que se têm multiplicado provavelmente vão pensar duas vezes antes de avançarem», vaticina.
Os Antónios à esquerda
Confrontado com as possibilidades à esquerda, Pereira Coutinho diz que há dois nomes no PS que parecem mais ou menos incontestáveis: António Costa e António Guterres.
«Se António Costa não conseguir uma carreira internacional, estou convencido de que será ele o candidato do PS às eleições presidenciais», vaticina. E aponta outro dado importante: a desvalorização que os socialistas têm concedido ao tema das presidenciais.
«Falta muito tempo, sem dúvida, mas para um partido que já está, e que estará em 2026 creio que quase 30 anos, fora do Palácio de Belém, esta despreocupação com as presidenciais é no mínimo singular», indica.
Na perspetiva de Pereira Coutinho, este comportamento pode evidenciar apenas uma de duas situações: «Ou os socialistas ainda não encontraram um nome que seja capaz de agregar não só os eleitores do PS, mas também os votos ao centro e também à esquerda da esquerda, ou então estão bastante confiantes que na hora decisiva aparecerá um nome que seja capaz de representar uma candidatura e esse nome pode vir a ser António Costa».
De fora da corrida deixa Augusto Santos Silva, pela «incapacidade de descolar nas sondagens», e Mário Centeno, que tem dúvidas que ultrapasse Costa ou Guterres nas intenções de voto.