Israel ou Palestina?

Admiro a cultura hebraica e os judeus, e tenho uma admiração enorme pelos árabes de onde provém a maioria dos cristãos.

Nos últimos anos, tenho visitado a Terra Santa. Têm sido experiências maravilhosas de contactar diretamente com as fontes das Sagradas Escrituras – os locais, os edifícios, os ambientes, a cultura – mas também tenho procurado conhecer a cultura contemporânea: como vivem, hoje, os judeus? E os muçulmanos? Como vivem os judeus ateus (sim, que também os há e muitos)?

Os Lugares Santos que se encontram no lado da Palestina são absolutamente únicos: Belém (que fica a oito quilómetros de Jerusalém), o Rio Jordão, Jericó, o Monte das Tentações, Hortus Conclusus (onde o Rei Salomão escreveu o livro do Cântico dos Cânticos), a casa onde o Rei David nasceu (onde hoje é um convento Carmelita), o poço de Jacob (outrora Sicar e, hoje, Nablus), o túmulo dos três Patriarcas – Abraão, Isaac e Jacob – e das três Matriarcas (Sara, Rebeca e Lia). Tudo isto e muito mais ficam na zona que hoje chamamos Palestina.

Para mim, visitar Israel é uma experiência maravilhosa. Vivendo, como vivo, em Portugal, não consigo sequer compreender o que se passa naquela zona do globo na relação que existe entre aqueles povos. Em Portugal temos uma só língua, cultura e religião… e não conseguimos imaginar como vivem estes países estilhaçados pelas tribos, religiões, culturas, línguas, hábitos completamente diferentes.

Sei alguma coisa da História de Israel até à morte de Jesus e à queda do Templo (ano 70 d.C.). Porém, não tenho qualquer conhecimento da história posterior. Nos últimos dias comecei a ler a história dos judeus nos últimos dois séculos e tenho encontrado dados incríveis que nos envergonham a todos… todos… todos…

Não tinha a mínima ideia que no início do século XIX os judeus, no reino da Prússia, eram considerados apátridas, isto é, não tinham nenhuma identidade nacional. Eram uma espécie de nómadas. Imaginemos, pois: um judeu alemão, descendente de um judeu nascido na Alemanha e neto de um judeu também ele alemão, não lhe era concedida nacionalidade – não tinham Pátria, imagine-se. Um outro dado que me escandalizou é que qualquer judeu que vivesse naqueles Estados estava proibido de ocupar cargos públicos de representação ou de ensinar em escolas ou em universidades.

Eu sempre admirei o número de judeus que se converteu ao cristianismo no século XIX, mas o que eu não sabia é que muitos deles o fizeram por questões meramente financeiras e de integração cultural e não partia propriamente de uma adesão interior a Cristo.

Na primeira metade do século XIX houve milhares de revoltas e de perseguições públicas e populares aos judeus que exigiram da polícia uma força musculada para evitar um derramamento de sangue. Isto ainda me deixou mais perplexo… porque não estamos a falar na Idade Média, mas no século XIX – já depois das luzes terem iluminado a razão na Revolução Francesa. Realmente, fico sempre muitíssimo dividido. Admiro com todo o meu coração a cultura hebraica e os judeus – aliás, sou um judeu que acredita na vida do Messias prometido a tantos judeus. Porém, tenho uma admiração enorme pelos árabes de onde provém a maioria dos cristãos que habitam na Terra Santa. Isto faz-me muitas vezes encontrar entre a espada e a parede, entre Israel e a Palestina.