Quanto tempo acha que vai durar esta fase da guerra que se iniciou com a invasão terrestre a Gaza?
Vai durar muito tempo, não vão ser apenas alguns dias, e a razão por que vai ser longo é porque nós percebemos quão complexa é a área. É uma área complicada, porque vive lá muita gente e é preciso ter em conta como vamos mover a população que não está em guerra, para que não venha a ser atingida. Temos de ir passo a passo até atingir o nosso objetivo, que é o mais importante, mas também minimizando as vítimas civis. É por isso que vai levar muito tempo.
Falando de objetivos, o vosso objetivo é destruir o Hamas. Como é que isso é possível, sabendo nós que o Hamas está misturado com a população? Qual é o momento em que consideram que o objetivo está atingido?
Nós temos três objetivos com esta guerra. O primeiro é devolver a segurança ao povo de Israel, que o povo de Israel se sinta seguro nas suas casas – esta é a coisa mais importante. O segundo objetivo é eliminar as capacidades do Hamas. E o terceiro é trazer de volta todos os reféns. Temos quase duzentos e cinquenta reféns que estão nas mãos do Hamas, civis a maior parte deles – homens, mulheres e bebés -, temos que ter a certeza de que podem voltar para casa. É nossa obrigação como país assegurar que eles possam voltar para casa. Estes são os três objetivos da guerra. Quanto á eliminação das capacidades do Hamas, tem razão, o Hamas não é só uma organização terrorista, é também uma organização ideológica terrorista, vimo-lo com a Al Qaeda, vimo-lo com o Isis, é exatamente o mesmo. É por isso que precisamos de ir passo a passo, rua a rua, para matar todos esses terroristas que estão envolvidos com o Hamas, destruindo as suas capacidades. Mas nós não fazemos diferença entre o braço armado do Hamas e o braço político. Ninguém deve fazer essa diferença: uma organização terrorista é uma organização terrorista.
Mas não é possível distinguir entre quem vive em Gaza e quem é do Hamas. Sabem exatamente quem são uns e quem são outros?
Nós vemos quem está envolvido e a lutar e vemos quem está ligado ao Hamas, temos os nossos meios para saber. Mas tem razão, acho que quando ganharmos esta guerra e o Hamas for eliminado e nós retirarmos de Gaza, também o povo de Gaza estará livre, estarão livres do Hamas e serão capazes de ter um governo normal que possa governar a faixa de Gaza, um governo que se preocupe com o povo palestiniano. Esta guerra não é só dos israelitas, é também para os palestinianos em Gaza, para que tenham um governo que se preocupe com eles, porque, até agora, Gaza é um dos sítios mais pobres do mundo. Mas os líderes do Hamas têm biliões de dólares, vivem nas suas casas do Qatar e todo este dinheiro é dinheiro da ajuda que o mundo tem dado aos palestinianos para ajudar a Faixa de Gaza, e o Hamas fica com ele para os seus próprios objetivos. Portanto, é tempo também para o povo palestiniano de Gaza ter um regime que cuide deles. Por isso, esta guerra para eliminar o Hamas não é só para segurança de Israel, mas também para a segurança do povo palestiniano em Gaza.
É possível uma solução como a que aconteceu em 1984 no Líbano, quando os líderes da OLP foram obrigados a sair para Tunes? Esta é uma solução possível para a atual crise?
Não, porque temos de eliminar os líderes do Hamas, estejam eles onde estiverem. Esta organização terrorista precisa de ser eliminada desde o topo , por forma a deixar em paz o mundo livre.
Portanto, para si, a solução é matar os dirigentes do Hamas, não afastá-los de Israel?
Matar os terroristas, sim. Eu não mato pessoas, eu mato terroristas. Sim, essa é a solução. Nós não estamos a lutar contra o povo palestiniano, estamos a lutar contra uma organização terrorista. Com o povo palestiniano havemos de ser capazes de resolver os nossos problemas, mas esta guerra é contra uma organização terrorista, e a organização terrorista não quer saber de uma solução de dois Estados, não quer saber de palestinianos, importa-se com matar o maior número possível de judeus. Este é o primeiro passo, o segundo passo é ir atrás de todos os valores do mundo livre. O problema não está só nos limites do Estado de Israel, eles vão para lá disso e nós vemos isso a acontecer.
Mas com esta definição de objetivos, acha que é possível salvar os reféns?
Primeiro que tudo, salvar os reféns é, como disse antes, uma obrigação do país. Precisamos de fazer o que for preciso para os salvar. Acreditamos que criando pressão no Hamas, de forma militar, vamos conseguir libertá-los.
Mas, se eles não têm nada a ganhar com isso, por que é que vão libertá-los?
Porque eles têm muito a perder.
E acha que isso pode acontecer nos próximos tempos ou vai demorar tempo?
Não posso responder a isso, não sei, mas há muita gente envolvida no tema dos reféns. E espero também que a comunidade internacional levante a sua voz para termos a certeza de que essas pessoas sejam libertadas sem nenhuma condição, já.
Temos estado a falar nas reações no mundo, mas também em Israel vemos protestos, não só dos familiares dos reféns, mas também de outros setores da sociedade. Acha que o Governo tem a força necessária para levar por diante esta operação?
É espantoso ver o que está a acontecer agora em Israel. Tem razão, Israel é uma sociedade muito polarizada, gostamos de discutir e todas as pessoas levantam a voz, fazemos muitas manifestações, houve muitas no ano passado, mas desde que esta guerra começou a unidade que se vê em Israel é algo que nunca tinha visto.
Mas também vemos as sondagens dizendo que 70% da população não quer Netanyahu à frente do Governo?
Mas digo-lhe que agora não é sobre Netanyahu, não é relevante agora, o público israelita está comprometido em ganhar a guerra. Há 100% de consenso nisto, incluindo os árabes israelitas. Não são só os judeus, são judeus, muçulmanos e cristãos, estão todos unidos em ganhar esta guerra e devolver a segurança ao povo de Israel.
Esta guerra precisa de contar com muitos reservistas e com os mais jovens. Podemos prever que muitas destas vidas se vão perder no campo de batalha… também isto não deve ser fácil na sociedade.
Eu tenho uma filha a viver em Israel, eu quero que os meus filhos e os meus netos no futuro continuem a viver em Israel, não quero que vão para o exército, não quero que lutem em guerras, quero que vivam num ambiente pacífico e seguro, com os nossos vizinhos, todos eles, os palestinianos, os libaneses, os sírios, todos. Desde o dia em que Israel nasceu que fomos atacados pelos nossos vizinhos que não nos queriam, mas, por outro lado, nós sempre tentámos trilhar o caminho da paz e tivemos sucesso, com o Egito, com a Jordânia. Nos últimos anos com os acordos de Abraão, fomos mais longe com os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e Marrocos, e esperemos que com a Arábia Saudita seja a seguir, e com a Palestina também. Desde os anos 90 que estamos a procurar encontrar a forma de podermos viver juntos, com altos e baixos, mas essa é a direção, é o que nós tentamos alcançar, porque é do nosso interesse. O meu pai lutou na guerra do Yom Kippur, eu lutei na guerra do Líbano, não queremos continuar com isto, não quero que os meus filhos vão combater.
Mas a sua filha está nessa situação, de ir combater nesta guerra?
Não, ela não está ainda no exército, mas vai estar no próximo ano. Não quero estar nessa situação, infelizmente, mas temos de lutar agora para ter a certeza de que o nosso futuro vai ser mais pacífico.