Pedro Nuno toca a reunir e José Luís marca  posição

O ex-ministro deverá anunciar a sua candidatura à liderança na segunda-feira, no Altis. O ainda ministro da Administração Interna é o adversário e o candidato da continuidade.

A corrida à sucessão de António Costa pela liderança do PS já começou. Pedro Nuno Santos já está há muito no terreno a preparar uma candidatura que deverá materializar-se nos próximos dias. Mas o atual comentador televisivo da SIC Notícias poderá não estar estar sozinho em campo. José Luís Carneiro também está disponível para ir a jogo. O ministro da Administração Interna está na estrada já há algum tempo a preparar uma candidatura e nos últimos dias “recebeu vários contactos para não recuar e avançar”, garantem fontes próximas do governante ao Nascer do SOL.

Neste duelo, José Luís Carneiro protagonizaria uma  candidatura capaz de reunir as sensibilidades mais próximas do ‘costismo’, conseguindo congregar à sua volta os socialistas que não se reveem numa candidatura de Pedro Nuno, que representa a ala esquerda do PS.

Num cenário em que os outros delfins do PS, como Mariana Vieira da Silva ou Fernando Medina, não avancem, José Luís Carneiro tem caminho livre para disputar o lugar de secretário-geral do partido, com a vantagem de a sua experiência governativa não estar salpicada por ‘casos e casinhos’.

Além do capital acumulado como ministro da Administração Interna – pasta na qual raramente os seus responsáveis sobrevivem sem serem chamuscados – tem também a seu favor os contactos que fez pelo caminho, cultivando apoios junto dos autarcas do PS, após ter levado a cabo os maiores investimentos de sempre nas estruturas de bombeiros.

José Luís Carneiro tem ainda um trunfo valioso:  depois de ter sido presidente da Federação Distrital do Porto, entre 2012 e  2016, assumiu, entre 2019 e 2022, o posto de secretário-geral adjunto do PS, funcionando como uma espécie de número dois de António Costa. Nessa época teve oportunidade de correr o país e estreitar relações com as bases do partido.

Curiosamente, Carneiro é hoje fiel a António Costa, mas em tempos – mais precisamente nas primárias de 2014 – apoiou  a candidatura de António José Seguro, contra António Costa, o que para parte das estruturas do partido pode ser cadastro.

Já Pedro Nuno Santos parte em vantagem para esta corrida, concentrando mais força no aparelho do PS e o apoio da maioria dos presidentes das federações distritais do PS. 

O ex-ministro das Infraestruturas que saiu do Governo beliscado pelo caso TAP, nunca escondeu as intenções de um dia chegar à liderança do PS, mas viu o seu calendário ser apressado depois da demissão do primeiro-ministro.

O primeiro sinal de que já está em marcha com uma candidatura foi dado na quarta-feira, quando convidou Francisco Assis e Ascenso Simões para almoçar no restaurante Darwin, da Fundação Champalimaud, em Lisboa. Um encontro que está a ser entendido internamente como uma tentativa de federar mesmo os socialistas mais afastados da ala ‘pedro nunista’.

O almoço terá sido desencadeado  por um artigo que Ascenso Simões escreveu nas páginas do Expresso a desafiar Francisco Assis a concorrer à liderança socialista, ainda que o  atual presidente do Conselho Económico e Social já tenha afastado essa possibilidade.

Essa posição também não se alterou depois dos acontecimentos de terça-feira e Assis não será candidato, deixando caminho livre a Pedro Nuno Santos.

Nos últimos anos, os dois socialistas têm vindo a aproximar-se, depois de desalinhados a nível interno. Assis esteve contra a ‘geringonça’, já Pedro Nuno Santos foi um dos protagonistas da solução que elevou António Costa a primeiro-ministro em 2015.  

“Um almoço de amigos”, foi assim que tanto Pedro Nuno como Francisco Assis se referiram ao almoço desta quarta-feira em frente às câmaras da CNN. 

Francisco Assis também foi um dos vários socialistas que saiu em defesa de Pedro Nuno Santos aquando do caso TAP. Na altura, em entrevista ao Público, disse ter “as melhores relações” com o ex-ministro, referindo-se a Pedro Nuno como “uma figura do futuro do PS”. “Tem uma grande força interior, é um homem que tem ideias políticas – que não são as mesmas que eu tenho, como é sabido em muitos campos. Se quisermos falar de estar mais à esquerda ou mais à direita, ele seguramente está um pouco à minha esquerda, se quisermos usar essa terminologia. Tem mérito, tem qualidades”, admitiu.

Nas alianças que se jogam neste período de transição de liderança dentro do PS, nada impede Pedro Nuno Santos de também tentar uma aproximação com José Luís Carneiro, tendo na mira as autárquicas e a Câmara do Porto, que os socialistas pretendem ganhar em 2025.  Além da sua influência fundamentada nos tempos em que foi  presidente da Federação Distrital do Porto, Carneiro   também surgiu diversas vezes associado às guerras de poder locais com a fação dominante ligada a Manuel Pizarro, outro dos nomes que poderá estar na calha para a Câmara do Porto.

O Nascer do SOL sabe ainda que Pedro Nuno Santos não tem pressa e que pretende “respeitar os timings institucionais”. Segundo fontes próximas do ex-ministro, o mais certo é que se dirija ao partido na próxima segunda-feira a partir do Hotel Altis, conhecido como o quartel-general dos socialistas, onde os máximos dirigentes do partido costumam reunir em momentos decisivos.

Apesar de já ter recolhido o apoio de vários dirigentes do partido  e de estar a ser preparado um documento de apoio, que terá já dezenas de assinaturas de atuais e antigos dirigentes do PS, Pedro Nuno Santos não quis avançar sem antes ter lugar a comissão política do partido desta quinta-feira.

Já a pressa de José Luís Carneiro a colocar-se em campo antes da derradeira despedida de António Costa não foi vista com bons olhos internamente. 

 O congresso do partido está marcado para meio de março, mas a sua antecipação será agora inevitável com o Presidente da República a marcar as eleições legislativas antecipadas para dia 10 de março de 2024. O partido terá agora de aprovar nos próximos dias um novo calendário interno, para escolher o sucessor de António Costa.