Montenegro pressionado a fazer coligação ‘à Moedas’

Montenegro vai a votos dois anos mais cedo. O PSD vê abrir-se uma oportunidade inesperada de voltar ao poder, mas, para isso, são cada vez mais os que defendem que é urgente uma coligação de direita

A alteração abruta que se deu no calendário eleitoral no início da semana foi sentida na São Caetano à Lapa como a grande oportunidade para Luís Montenegro chegar ao poder. Enquanto se esperava uma reação do maior partido da oposição, na sede do PSDfestejava-se e até há quem diga que com garrafas de champagne.

O PSD que nos últimos tempos começava a afiar as facas e a lançar os sucessores de Montenegro, Passos Coelho ou Carlos Moedas, teve que refazer contas e calendários, porque afinal a prova de fogo do líder é já daqui a quatro meses. E, de repente, o regresso de Passos ou a entrada em cena de Moedas deixaram de ter calendários compatíveis, aconteça o que acontecer nas próximas eleições. 

Se a vida correr mal a Montenegro, Moedas ainda tem meio mandato para cumprir na Câmara de Lisboa e Passos Coelho passa-lhe à frente, sobretudo se o cenário pós-eleitoral for instável e deixar entrever novas eleições em pouco tempo. Se, pelo contrário, as coisas correrem bem ao PSD, o regresso de Passos Coelho deixa de ser uma hipótese real e Carlos Moedas tem caminho aberto para a sucessão, seja ela quando for.

Com o fantasma da oposição interna adormecido, a direção preocupa-se agora em afinar a estratégia para não deixar escapar esta oportunidade. O objetivo é ganhar as eleições, nem que seja por um voto. Nestes dias,  a preocupação no núcleo duro de Montenegro foi evitar qualquer hipótese de os socialistas se poderem vitimizar com as circunstâncias em que vão a votos. Foi essa a razão por que o PSD não levou ao Presidente uma proposta de calendário apertado, nem se opôs à ideia de deixar que os timings sejam de forma a permitir a aprovação do Orçamento do Estado para 2024. “A última coisa que queremos é que o PS venha dizer que não lhe deram tempo para se reorganizar, ou que venha fazer o discurso de que a vida das pessoas não está melhor porque nos opusemos à aprovação do Orçamento”, diz-nos uma fonte da direção, justificando assim o assentimento dos sociais-democratas a um calendário que lhe pode ser desfavorável, tendo em conta que dá tempo e espaço aos socialistas para acomodar no Orçamento todas as promessas eleitorais.

Passos na reserva, Relvas dá a tática

“O Chega não é um partido antidemocrático e tem toda a legitimidade de existir” – com esta frase, Pedro Passos Coelho teve uma entrada de rompante na semana em que a política portuguesa teve mais uma reviravolta. Foi numa sessão com alunos do secundário, mas foi o suficiente para pôr meio mundo a falar outra vez sobre cordões sanitários na política nacional. 

Miguel Relvas considera que Passos Coelho se limitou a “constatar o óbvio e, se assim não fosse, o Tribunal Constitucional não teria autorizado a legalização do partido”. Relvas acha que o tempo não é para ter preocupações à direita, até porque os socialistas não estão a dormir. Para o antigo dirigente social-democrata, é um erro deixar passar o Orçamento antes da dissolução do Parlamento. “Pedro Nuno Santos é deputado e o Orçamento vai transformar-se num instrumento panfletário de campanha eleitoral dos socialistas”, afirma. Para sustentar o que diz, Relvas reforça que, neste momento, o que eram os planos do PS para “três anos, transformaram-se em três meses”.

O antigo braço direito de Passos Coelho deixa ainda um conselho a Luís Montenegro agora que o calendário levou esta surpreendente reviravolta: « O PSD deve transformar o congresso estatutário marcado para daqui a alguns dias numa convenção em que apresente propostas claras e uma plataforma mobilizadora que junte independentes». Segundo Miguel Relvas, é importante que o partido perceba que “o centro só se conquista depois de conquistar a direita, o centro é um ponto de chegada, não é um ponto de partido” – e remete para os exemplos de Sá Carneiro, Cavaco Silva e Passos Coelho. 

Senadores querem coligação pré-eleitoral 

São cada vez mais os que se têm manifestado, entretanto, na praça pública sobre a urgência de uma coligação pré- eleitoral à direita. E se esta já era uma ideia clara antes desta crise, agora tornou-se uma emergência. As principais figuras à direita, sobretudo ligadas ao PSD e ao CDS, consideram que essa é a única forma de garantir que depois das eleições possa haver uma alternativa à direita. “Não fazer uma coligação, pelo efeito simbólico e para tirar partido do método de Hondt, é uma loucura para o PSD”, disse-nos nas últimas horas um destes senadores, que prefere para já manter o recato.

Recato é, aliás, a palavra de ordem entre todas estas vozes. Em cima da mesa está a ideia de que muitas destas figuras se juntem para fazer chegar a sua influência junto da direção do PSD. Ao que o Nascer do SOL apurou nos últimos dias, os contactos entre personalidades estão a decorrer de forma intensa, até porque este grupo quer garantir que da parte do CDS, da Iniciativa Liberal e de outros movimentos ou personalidades há abertura para conversar. Ao que nos foi dito, o mais difícil é conseguir pôr no mesmo barco a Iniciativa Liberal, mas, face à reviravolta que a vida política teve nos últimos dias, o partido de Rui Rocha poderá ter abertura para ponderar a questão. 

Na sede do PSD, para já, a prioridade é  adaptar a agenda dos próximos dias às novas circunstâncias. O congresso vai manter-se mas com um outro formato, para dar palco a Montenegro e outras figuras, que aí darão o sinal de unidade que o partido quer dar neste momento. 

Quanto a coligações, “ainda é cedo para falar nisso”, diz-nos uma fonte da direção, numa declaração que é cuidadosa para não fechar nenhuma porta.