A crise política explicada aos mais novos

Como explicar aos nossos filhos o que se passa na política portuguesa? Tarefa difícil mas possível. É só encontrar os paralelismos certos.

Meninos, vamos ter eleições em Março. Aconteceu que o primeiro ministro demitiu-se porque os polícias andam a investigar negócios e contratos feitos por amigos dele e esbarraram com o nome de António Costa. Suspeitam que as coisas não foram feitas como a lei manda. Os investigadores andaram a ouvir os telefonemas que eles faziam uns aos outros e voilà. É assim como nós, pais, quando vamos às vossas contas no Instagram ler os palavrões que escrevem e os vídeos ou áudios que enviam uns aos outros. Às vezes, essa interferência nas vossas comunicações levanta suspeitas e ficam em casa de castigo. Foi o caso: vocês amuam e nós ficamos desconfiados de que andam a fazer asneiras. Entretanto, os polícias também descobriram milhares de euros em notas dentro de livros e de caixas de vinho no gabinete do chefe de gabinete do primeiro-ministro. Sabem quando os pais descobrem cigarros e isqueiros nas vossas gavetas das meias? Aconteceu o mesmo em versão de adultos. O dito chefe de gabinete e amigo do primeiro-ministro disse que o dinheiro não é dele. É igual ao que acontece com vocês: os cigarros nunca são vossos, são sempre “de um amigo que me pediu para os guardar”. Nós apertamos o cerco e vocês recorrem a outra defesa clássica que é negar o vosso amigo. “Eu já não me dou com ele. Ele só faz porcaria”, alegam em lágrimas e perante a ameaça do corte da semanada. Costa fez mais ou menos o mesmo, dizendo que um primeiro-ministro não tem amigos, só que não chorou.

Resultado: o Presidente da República aceitou a demissão do primeiro-ministro mas diz que ele só pode sair de São Bento depois da aprovação do orçamento. É o que nós, pais, fazemos quando vocês amuam. Vais para o quarto mas deixas aqui o telemóvel e vais arrumar a roupa e aspirar o quarto. Ir para o quarto com o telemóvel não é castigo, assim como o primeiro-ministro ir à vidinha dele e deixar o orçamento a meio também não é pedagógico.

Agora temos todos de eleger um novo primeiro-ministro e outros deputados. Mas há vários problemas: o PS ainda não tem líder e o PSD tem um líder que nem o PSD gosta muito. Por outro lado, os partidos mais pequenos estão radiantes porque podem ter mais votos, uma vez que os grandes não inspiram grande empatia. Ora, pode acontecer que as eleições resultem numa confusão tal que não se consiga escolher o primeiro-ministro ou que o primeiro que se escolha fique numa situação instável e tenha de haver eleições daqui a um ano e meio. Sabem quando se elege um delegado de turma mas ele não consegue calar a turma porque ninguém o respeita? É isso. Outro problema é que depois destas eleições, ali antes do Verão, vamos ter as eleições europeias, e ninguém vai querer saber delas. Vamos ter cartazes na rua durante seis meses e debates políticos nas televisões em vez de debates futebolístico.  Por outro lado, já ninguém vai querer saber das guerras e do fim do mundo que se avizinha. É mais ou menos como estudar inglês na véspera de um teste de matemática. É inevitável que este corra mal.

Por isso, meninos, aguentem-se um ano e meio e estudem muito para poderem emigrar quando forem grandes. E tenham cuidado com as vossas contas do Instagram.