José Luís não aceita recusa de debates por Pedro Nuno

Ontem à noite, em Torres Vedras, o ainda ministro condenou o adversário na corrida à liderança do PS por recusar frente-a-frentes e lembrou a ‘tradição democrática’ de ‘debate interno’ no partido.

A campanha interna no PS segue a todo o vapor para escolher o sucessor de António Costa. E os candidatos à liderança socialista partiram esta semana para a estrada na conquista de mais apoios, sendo o tema dos debates uma questão que promete aquecer e endurecer o tom desta campanha. Numa deslocação a Torres Vedras para um encontro com militantes e simpatizantes, na quinta-feira à noite, José Luís Carneiro atirou-se a Pedro Nuno Santos, depois de este ter recusado participar num frente-a-frente na televisão. O desafio tinha sido lançado pelo ainda ministro da Administração Interna em entrevista, na quarta-feira, à TVI/CNN. Mas o adversário e ex-colega de Governo entende que isso significaria dar argumentos à oposição que possam ser usados contra os socialistas, durante a campanha para as legislativas.

Nesta ação de campanha em Torres Vedras, com o slogan «Por todos. Para todos», José Luís Carneiro disse não aceitar a recusa de Pedro Nuno Santos, lembrando a «tradição democrática» de «debate interno» no partido.

A reação do governante e candidato a líder do PS veio na sequência das declarações do seu adversário ainda esta quinta-feira. «Quando estivermos a discutir o país com os adversários do PS, seguramente [os debates] irão com certeza existir», antecipou Pedro Nuno Santos, sublinhando que, com a proximidade entre as diretas socialistas e as legislativas de 10 de março, realizar debates «nesta fase é dar argumentos à direita».

O antigo ministro das Infraestruturas ressalvou ainda que há alternativas para esclarecer os militantes do PS: «Temos muitos espaços para debater com os nossos camaradas. Temos entrevistas, participação em encontros de militantes onde a comunicação social está.» E foi exatamente isso que procurou fazer na quarta-feira, com uma deslocação à sua terra natal no arranque desta campanha para apresentar a sua candidatura.

A partir de S. João da Madeira, atirou farpas à direita, lembrou obra feita e traçou metas de futuro: resolver os problemas do SNS e da Educação, aumentar salários ou apostar na tecnologia, inovação e ciência. Na Casa da Criatividade e com o slogan «Portugal Inteiro», o candidato a secretário-geral do PS contou com casa cheia de militantes de vários pontos do distrito de Aveiro, dando nota que vai iniciar um périplo pelo país.

«Começa hoje a nossa campanha junto dos militantes do PS. Vamos todos os dias a cada um dos distritos e regiões do país, mas não podia começar em lado nenhum que não fosse a minha terra e o meu distrito», destacou.

Num discurso que está a ser entendido por alguns socialistas da ala moderada com a conotação de «populismo de esquerda», admitiu que há caminho a percorrer para resolver «problemas muito concretos», referindo-se aos casos dos médicos e professores e insistindo que é preciso aumentar salários «que não subiram o suficiente».

Pedro Nuno Santos defendeu ainda que é necessário promover uma economia mais competitiva que permita fixar jovens no país, apostando na «ciência, tecnologia e na investigação».

Em altura de reunir tropas, depois de ter contado com Francisco Assis no Largo do Rato, num claro esforço para unir diferentes sensibilidades no partido em torno da sua candidatura, Pedro Nuno Santos soma também agora o apoio do ‘segurista’ Álvaro Beleza . Tal como com Assis, o apoio de Beleza também foi selado com um almoço, esta quinta-feira, à margem de uma visita ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

«Eu e o Francisco somos da chamada esquerda liberal, entendemos que estar com o Pedro é também participar naquilo que o PS sempre foi: o PS das várias sensibilidades, das várias correntes», afirmou o dirigente socialista e presidente da Sedes – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social aos jornalistas, depois de concluída a refeição.

O membro da Comissão Política do PS ainda apontou que o atual ministro da Administração Interna «é um grande socialista», manifestando a convicção de que o partido poderá contar com o governante «qualquer que seja o resultado», mas afirmou que tanto ele como Francisco Assis consideram que Pedro Nuno Santos «tem energia, ambição, muita alma e muita coragem», sendo essas as razões pelas quais apoiam o ex-ministro na disputa contra José Luís Carneiro e Daniel Adrião.

«Portugal precisa de esperança, precisa de algumas mudanças e de algumas reformas. Precisa de alguém que decida e compete-nos a nós ajudar nesse processo», reforçou.

Beleza veio ainda em defesa da opção de Pedro Nuno Santos em não participar em debates televisivos com o seu principal adversário na disputa interna. «Debates, acho que não deve haver, isto não tem que ser um espetáculo televisivo. É uma questão interna entre socialistas. Temos de fazer política à moda antiga, entre cavalheiros com fair play. Há assuntos que têm de se falar dentro de portas, e outros no espaço mediático com transparência perante os portugueses», advertiu.

Foi também esse o argumento usado por Pedro Nuno Santos para justificar o porquê de, ao contrário da candidatura de José Luís Carneiro, não estar disponível para debates públicos entre candidatos à liderança do PS.

Num momento em que se contam espingardas, o terreno parece ser mais favorável a Pedro Nuno, que reúne ainda o apoio dos presidentes das quatro maiores federações distritais – Lisboa, Porto, Coimbra e Braga – e as declarações de apoio de vários governantes e ex-governantes socialistas, bem como outros nomes ilustres do partido.

 Mas José Luís Carneiro, que vai igualmente somando apoios de peso, também segue para a estrada em campanha esta sexta-feira, tendo na agenda um encontro com independentes e apoiantes das áreas de Relações Internacionais, Segurança e Defesa para recolha de contributos para a moção de orientação política que vai levar a votos. A iniciativa que irá decorrer no Hotel Altis, conhecido como o quartel general do PS, vai contar com a presença do ex-ministro da Administração Interna Nuno Severiano Teixeira, do embaixador Francisco Seixas da Costa, e dos investigadores Bruno Cardoso Reis, Carlos Gaspar, Luís Tomé e Sónia Sénica.

José Luís Carneiro segue depois para o Algarve para um encontro esta sexta-feira à tarde com militantes e simpatizantes da região no Auditório da Escola Tomás Cabreira, em Faro. No sábado à tarde, ruma ao norte para um encontro com militantes e simpatizantes da federação distrital de Bragança, onde conta com o apoio declarado da líder distrital, Berta Nunes, antiga secretária de Estado das Comunidades Portuguesas. Aqui, o encontro com os militantes poderá ser decisivo, uma vez que as bases do distrito são tendencialmente mais próximas a Pedro Nuno Santos. l

joana.carvalho@nascerdosol.pt