Dos sonhos à realidade – a difícil tarefa do PSD

O PSD necessita trabalhar muito, e de forma inovadora, se quiser garantir um resultado eleitoral vitorioso

A caminho de mais um ato eleitoral não se vislumbra, por agora, nenhuma diferença substancial face aos resultados das eleições anteriores. Na sequência de uma gigantesca trapalhada socialista seria de esperar que o PSD estivesse capaz de aproveitar uma situação que Luís Montenegro, nem no melhor dos seus sonhos, poderia imaginar. Já me apelidaram, no PSD, o líder da oposição a Montenegro; não se trata de oposição a uma pessoa por quem tenho estima pessoal. No entanto serei sempre, em política e fora dela, oposição à incapacidade em fazer bem feito, e facto é que Luís Montenegro e a sua entourage não se apresentam ao país como seria de esperar que se apresentassem e, por isso, só por isso, não alavancam nas intenções de voto. Esta situação é deveras preocupante porque o país se arrisca a não ver mudanças na qualidade dos governantes na sequência das próximas eleições.

Considero altamente desnecessário e contraproducente o continuado ataque aos adversários políticos, de modo pessoalizado e por diversas vezes em tom exagerado e pouco credível; não vale a pena insistir em dizer que o céu está azul, quando é obvio para todos que o céu está azul. Tem pouco eco dizer o que não acrescenta nada de novo, desvalorizando o orador. Também as promessas eleitorais apresentadas aparecem avulso, pouco sustentadas, e em tom de aparente oportunismo eleitoral, o que, em minha opinião, as torna pouco atraentes.

Um partido que quer ser alternativa de governação tem de se apresentar com um modelo de funcionamento de país que dê aos portugueses o mote para uma nova etapa profundamente diferente da estagnação a que se remeteu nas ultimas décadas – é bom que a direção do PSD entenda que não está a fazer isso bem feito. Também as posições excessivamente vincadas quanto a futuros cenários eleitorais são prematuras, de algum modo desrespeitando a vontade popular que vier a resultar das eleições de 10 de março, e são alvo fácil da desconfiança e maledicência, nomeadamente à luz do que aconteceu em cenários anteriores nomeadamente nas regiões autónomas. É bom que Luís Montenegro enquanto líder do PSD entenda que cabe ao povo português decidir o modo como conjetura, num sistema parlamentar como o nosso, a formação do próximo governo. Cabe aos políticos interpretarem e adaptarem-se a essa vontade. As baias em excesso condicionam o eleitor e beneficiam as soluções de protesto preconizadas pelo Bloco de Esquerda e pelo Chega que se apresentam com líderes fortes e estrategicamente muito seguros.

É fundamental que o PSD se abra rapidamente à sociedade menos político dependente, que forme um governo sombra, que assuma compromissos de trabalho sério e profissional, refletido em reformas ao nível da educação, da justiça, do aparelho do estado e da burocracia, do modelo eleitoral e proximidade entre eleitos e eleitores, das relações laborais, partilha de responsabilidades decisões e resultados entre trabalho, gestão e capital, da meritocracia social democrata e civismo. É imprescindível um desígnio económico e estratégico para Portugal nas próximas 5 décadas. O PSD necessita trabalhar muito, e de forma inovadora, se quiser garantir um resultado eleitoral vitorioso. Esperar que uma fórmula antiga produza resultados novos e diferentes constitui ingenuidade que não servirá nem o PSD nem o país.

Faço votos para que construtivamente peçam ajuda a quem sabe fazer bem feito, de forma a garantir que Portugal muda para melhor. Dizer que o céu está azul, quando todos sabem que está azul, não serve os propósitos de um país necessitado de evolução reformista.