Agora sim, cheira a vitória, ouviu o Nascer do SOL a um grupo de militantes à saída do Complexo Municipal dos Desportos, em Almada, passava das nove da noite. No grupo ainda se comentavam com entusiasmo os acontecimentos do dia e a surpresa com a presença do convidado de honra, Cavaco Silva, foi a cereja em cima do bolo. Quem viu os congressistas entrar de manhã e os viu sair já noite escura percebeu o efeito regenerador que o Congresso produziu na alma laranja.
A oportunidade não podia ser desperdiçada. A coincidência de o 41º Congresso do PSD estar já marcado para o último sábado de novembro foi vista, assim que se soube da crise política, como a ocasião perfeita para mostrar ao partido e ao país que o PSD tem argumentos para vencer as eleições de 10 de março.
A garantia de cobertura em contínuo e em direto das televisões, rádios e jornais online era a circunstância perfeita para alcançar o objetivo pretendido: mostrar um partido unido, com um líder pronto e com ideias para vencer as legislativas que aí vêm.
As expetativas baixas para o que se iria passar naquele sábado e o efeito surpresa fizeram o resto.
À porta do pavilhão naquela manhã de sábado, Hugo Soares sorridente e conversador, já sabia o que aí vinha e a sua melhor arma foi ter conseguido manter tudo em segredo até ao dia do Congresso.
Lá dentro, no plateau montado para as televisões, os comentadores desdobravam-se em previsões sobre um Congresso que não teria história. Enganaram-se. Teve.
À hora marcada, Montenegro entrou na sala que já estava cheia, embora a receção ao líder não tenha sido apoteótica. Aplausos ‘q.b.’ e braços no ar com o ‘v’ de vitória que àquela hora ainda não era vigoroso.
A sala começou a aquecer com a intervenção de abertura do líder. Montenegro apresentou-se com um discurso assertivo, posicionando o partido ao centro e assumindo Pedro Nuno Santos como o adversário que vai enfrentar nas eleições. Lapso? Não, para o PSD Pedro Nuno é o adversário desejado, e a prova ficou clara nesse discurso inicial. Um após o outro, Luís Montenegro desfiou todos os pontos fracos do ex-ministro de António Costa: adepto da ‘geringonça’, imaturo, irresponsável. Das ‘pernas dos banqueiros alemães’, à decisão do aeroporto, passando pela gestão da TAP, no discurso de abertura nada ficou de fora. Montenegro empurrou o PS para a extrema-esquerda e instalou-se no centro moderado. O ‘palmódromo’ mostrou que os congressistas gostaram e o comentariado das televisões viu no discurso razões para prestar mais atenção ao que estava para vir.
Do regresso dos ‘barões’ ao ‘pin’ de Sá Carneiro
O Congresso que era para ser estatutário foi o palco escolhido para mostrar que o PSD ainda tem argumentos de peso. A questão estatutária foi rapidamente resolvida sem discussão nem polémicas. À hora de almoço, já lá iam os estatutos e os congressistas prepararam-se para uma tarde que já previam, àquela hora, que ia ser bem mais quente do que imaginaram ao início, quando se deslocaram de todo o país para o Municipal dos Desportos de Almada.
As intervenções estavam minuciosamente distribuídas, ao longo da tarde, para provocar um crescendo de entusiasmo até ao discurso final. Numa estratégia de dar um salto na história do PSD que passasse por cima do passismo, a direção de Montenegro arregimentou oradores e convidados dos tempos gloriosos das maiorias absolutas de Cavaco e do Governo de Durão Barroso e nem a memória de Sá Carneiro ficou esquecida.
Num dos discursos mais aplaudidos da tarde, Nuno Morais Sarmento regressou às lides políticas (depois de uma longa ausência por motivos de saúde). O ex-vice-presidente do partido (de Rui Rio) fez uma intervenção muito aclamada, desmontando a estratégia de vitimização de António Costa e traçando a estratégia para um regresso do PSD ao poder. Para tanto, foi claro: é importante fazer uma coligação pré-eleitoral que agregue todos os que querem o PS fora do Governo. Antes do discurso, num momento simbólico, Sarmento chamou Montenegro ao microfone para lhe entregar um presente de uma das mais antigas funcionárias do partido. Leonor encarregou Morais Sarmento de colocar ao peito do líder um ‘pin’ do partido que, assegura, foi usado por Francisco Sá Carneiro.
Das inéditas comemorações do 25 de Novembro na Câmara de Lisboa, Carlos Moedas rumou a Almada para apoiar o líder do PSD com um discurso que arrasou o poder socialista, e em que usou o seu exemplo à frente dos destinos da capital para mostrar como se pode fazer diferente.
“O primeiro-ministro diz que foi à farmácia e os idosos lhe falaram da pensão, eu vou à farmácia todos os dias e o que as pessoas me dizem não é sobre a pensão, é que não têm médico de família nem acesso aos serviços de saúde, em Lisboa são cem mil sem médico de família, mas em Lisboa os que têm mais de 65 anos, graças à CML,podem ter acesso a consultas gratuitas”. Num discurso que galvanizou a sala, Moedas continuou a enumerar os seus trunfos: “Entre 2010 e 2020 o PS construia 17 casas por ano e agora enchem a boca a falar de habitação, mas como? Nós, nos últimos dois anos, batemos o recorde, entregámos 1480 chaves aos lisboetas, ajudámos 1000 pessoas a pagar a renda, fomos das primeiras cidades do mundo a ter transportes gratuitos para os mais novos e para os mais velhos e devolvemos IRS”.
Passava já do meio da tarde quando foi anunciada a chegada daquela que tinha sido anunciada como a convidada de honra de Montenegro neste Congresso, Manuela Ferreira Leite, ex-presidente do partido, que assim também evidenciava o seu apoio ao líder. Mas o que os congressistas não sabiam é que, depois de Ferreira Leite, viria Leonor Beleza (que se atrasaria) e, mesmo a tempo do discurso de encerramento, Cavaco Silva.
Com tudo pronto para a apoteose final, Montenegro agradeceu os apoios que lhe chegaram ao longo do dia e largou as propostas do PSD para ganhar eleições. Entre elas, a promessa de até 2028 garantir que os pensionistas que têm Rendimento Mínimo Garantido receberão a pensão mínima de 820€. Montenegro sabe que os pensionistas são o calcanhar de Aquiles do PSD desde os tempos da troika e de Passos Coelho. E tratou de tentar sarar feridas.
Até ver, a aposta parece estar ganha. Tanto Pedro Nuno Santos como José Luís Carneiro preferiram colocar dúvidas em vez de se pronunciarem sobre a medida em concreto.