Em democracia não há vitórias antecipadas e alguns exemplos recentes mostram como as surpresas às vezes acontecem, por mais que os apoios de peso estejam assegurados. O caso das diretas no PSD, antes das últimas eleições legislativas, em que Paulo Rangel desafiou a liderança a Rui Rio, anunciando o apoio de praticamente todo o aparelho do partido, tem sido muito citado nos últimos dias em vários ambientes políticos. No dia 26 de novembro de 2021 ninguém esperava que Rui Rio saísse vencedor, o partido estava com Rangel. Apesar de Rangel ter a festa preparada, a verdade é que a noite acabou com Rui Rio a valorizar o peso do voto livre dos militantes que lhe deram a vitória contra todas as expectativas.
Agora a disputa interna é no Partido Socialista. Minutos depois do anúncio de demissão de António Costa, no dia 7 de novembro, o país e o PS pré anunciaram o nome do sucessor do primeiro-ministro demissionário. Tinha chegado a hora de Pedro Nuno Santos, o homem que nos últimos anos trabalhou no país inteiro os apoios do aparelho socialista. Poucos dias depois de desencadeada a crise política, Pedro Nuno Santos, sem surpresa, entrou no Largo do Rato onde o esperava uma multidão de apoiantes socialistas. Por essa altura já estava no terreno um outro candidato, o discreto mas eficiente ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro.
Parece que foi há uma eternidade, mas foi apenas há poucas semanas. Nas hostes de Pedro Nuno Santos, a candidatura de Carneiro foi vista com complacência, considerada útil para não haver uma eleição coreana, sobretudo porque José Luís Carneiro era um candidato inofensivo. Três semanas depois tudo parece estar a mudar, ao ponto de já haver quem admita que o ainda ministro da Administração Interna possa protagonizar uma surpresa eleitoral. «Não é provável, mas pode acontecer» diz-nos um socialista que considera que o tempo está a jogar a favor de José Luís Carneiro, «se as eleições fossem este fim de semana não havia hipótese, mas para a semana não se sabe», afirma. O que muitos têm observado com surpresa é que José Luís Carneiro está a conseguir ser muito mais abrangente nos apoios e simpatias do que inicialmente se previa.
Sondagens e apoios estão a baralhar as opções socialistas
As recentes sondagens publicadas, muitas delas a indicar que José Luís Carneiro é o preferido dos portugueses para o lugar de primeiro-ministro, podem estar a baralhar os equilíbrios de forças do interior do Partido Socialista. A par das sondagens, também os apoios de peso que o candidato tem vindo a obter, nomeadamente dos senadores e pesos pesados do partido, começam a produzir efeitos no terreno. A tudo isto junta-se a campanha moderada que José Luís Carneiro tem estado a fazer, mostrando-se avesso a extremismos e a traçar linhas vermelhas com o PSD. São argumentos de peso que, acreditam alguns observadores, podem fazer a diferença nos dias 15 e 16 de dezembro, quando cerca de 60 mil militantes socialistas forem chamados a escolher.
Para já o ambiente é de expectativa e os sinais estão à vista. Novos apoios de dentro e de fora do partido chegam todos os dias, como foi o caso esta semana com a publicitação dos apoios de Manuela Eanes e Fernando Tordo. Mas como quem vota são mesmo os militantes, é esse o barómetro a que é preciso estar mais atento.
Nos últimos dias, a organização da campanha de Carneiro ficou agradavelmente surpreendida com a receção obtida nalguns distritos tidos como bastiões de Pedro Nuno Santos. A primeira surpresa aconteceu em Leiria onde a organização da campanha teve que mudar o encontro com militantes de uma sala reduzida para uma maior, por ter percebido que o número de pessoas seria muito superior ao inicialmente previsto. E foi de tal forma que a sala não chegou para todos os que quiseram dar apoio a Carneiro. Casos semelhantes aconteceram na Guarda, em Aveiro (distrito de Pedro Nuno Santos) e Guimarães.
Neste momento ninguém arrisca apostar numa vitória do ministro da Administração Interna nas eleições do próximo fim de semana. Os apoios de Pedro Nuno Santos são muito fortes, particularmente entre os jovens (a JS é considerada a 22.ª Federação ), mas o facto de a maioria dos eleitores ser mais velha pode trazer surpresas.