Terramoto na aprendizagem

Alunos portugueses perderam o equivalente a um ano de aprendizagem e desceram a níveis de 2006.

Um terramoto na matemática, descida vertiginosa a níveis apenas comparáveis aos de 2006, uma tendência descendente que já se vinha a adivinhar com os resultados do PISA 2018 e de outras avaliações internacionais. São os resultados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), o maior estudo sobre aprendizagem realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) a cerca de 690 mil estudantes de 15 anos em 81 países. Um estudo que avalia o grau de conhecimentos e competências essenciais nos domínios de leitura, matemática e ciências. Este ano o principal enfoque foi para a matemática e as várias análises mais detalhadas serão conhecidas durante os próximos meses. Ou seja, o retrato do terramoto ainda não está completo.

Quanto a Portugal: de 2000 até 2015, os nossos alunos registaram uma progressão das aprendizagens notável, na avaliação seguinte, de 2018, os números apontavam para uma estagnação e até regressão e, este ano, dá-se um verdadeiro «trambolhão». O PISA é também o resultado de sete anos de políticas educativas do governo do PS assim como as consequências da pandemia.

A frase que resume os resultados é uma queda ‘sem precedentes’ da média dos alunos. Mas Portugal está pior: a queda foi maior. Nas três áreas, o nosso país faz parte do grupo de países com descidas mais acentuadas. E na prática, representa a perda de um ano letivo de aprendizagem. Em matemática, o resultado foi de 472 pontos, igual à média da OCDE, também 472 pontos. No entanto, se a descida da pontuação da OCDE em relação aos resultados de 2018 foi de 15 pontos, a média portuguesa desceu 20. Nas avaliações da leitura, os alunos portugueses atingiram uma pontuação de 477, tendo descido 15 pontos por comparação a 2018, enquanto a média da OCDE foi 476, tendo caído 10 pontos. Por último, nas ciências, Portugal registou 484 de pontuação, um decréscimo de sete pontos, sendo a da OCDE mais um ponto de media e quatro pontos de queda. O ministro da Educação diz que este «É o PISA da pandemia», logo, os resultados eram os expectáveis. Mas a própria OCDE adverte que não, que só parte da responsabilidade pode ser atribuída ao encerramento das escolas durante o período covid. «Existem problemas antigos nos sistemas educativos que são também responsáveis pela queda de desempenho», lê-se no relatório. Entre eles, ou sobretudo, as políticas educativas.

No caso português, estes dados vieram dar uma nova interpretação aos relatórios da Direção-Geral de Estatísticas da Educação (DGEE), publicados o mês passado, que deram conta da subida das notas dos alunos portugueses durante a pandemia nas aprendizagens essenciais – altura em que as escolas estiveram fechadas. Como se justificam e o que representam afinal estas subidas? Por outro lado, o PISA vem confirmar a tendência descendente já apontada pelos dois estudos internacionais, TIMSS 2019 e o PIRLS 2021, nos quais o cenário de Portugal não era animador e já apontavam para uma inversão da tendência. Em relação ao TIMSS 2019, a avaliação internacional de referência que monitoriza as competências dos alunos do 4º ano a matemática, revelou que os alunos portugueses pioraram claramente. Entre 2015 e 2019, passaram de uma pontuação de 541 pontos para 525. Já o PIRLS, a avaliação internacional que afere competência leitora no 4º ano, denunciou que os desempenhos dos alunos portugueses pioraram durante os anos da pandemia. Obtiveram, 520 pontos, abaixo das avaliações anteriores: 528 no PIRLS 2016.

Quais os fatores que motivam verdadeiramente estes resultados? Qual a responsabilidade da política educativa dos últimos anos nesta tendência decrescente? O encerramento das escolas durante a pandemia justificam esta queda? Será necessário implementar um sistema de avaliação externa mais abrangente para voltarmos à curva ascendente? Relativizar politicamente estes resultados pode comprometer um debate sério sobre a aprendizagem dos nossos alunos? Os especialistas respondem.