Taxas de juro devem ficar inalteradas até ao segundo trimestre de 2024

BCE voltou a manter as taxas de juro inalteradas pela segunda vez consecutiva. Analistas ouvidos pelo Nascer do SOL consideram a opção mais acertada e defendem que não deverão existir novas subidas… para já.

Taxas de juro devem ficar inalteradas até ao segundo trimestre de 2024

O esperado aconteceu: o Banco Central Europeu manteve as taxas de juro inalteradas. É a segunda vez consecutiva que o BCE toma esta decisão, depois de uma sequência de dez subidas que somaram 450 pontos base desde julho de 2022. Para Ricardo Evangelista, diretor executivo da ActivTrades Europe, esta decisão não é uma surpresa e parece “acertada”. “A inflação, apesar de ter abrandado significativamente para os atuais 2,9%, mantém-se acima do nível ideal e no setor dos serviços está ainda mais alta, nos 4%”, diz ao Nascer do SOL. Por outro lado, “a economia da zona euro tem vindo a aguentar razoavelmente bem o apertar da política monetária, com o desemprego a manter-se num nível historicamente baixo, nos 6.5%, e os salários têm crescido ao ritmo mais alto de sempre”. Face a este cenário, o analista atira: “Não seria de esperar um desfecho diferente”.

Também Henrique Tomé, analista da XTB, diz que “não houve surpresas com a decisão, mas foi anotado que a inflação é suscetível de aumentar temporariamente no curto prazo e as taxas precisam de ser mantidas por um período suficientemente longo”. O analista diz concordar com a decisão do BCE, “tendo em conta que a atividade económica em vários países da zona euro tem abrandado significativamente, nomeadamente a economia alemã”. Questionado sobre o que esperar daqui para a frente, Ricardo Evangelista diz acreditar que o BCE vai manter as taxas de juro inalteradas “até pelo menos ao segundo trimestre de 2024” e que “o mais provável será que o primeiro corte seja anunciado aquando da reunião de junho”. Já Henrique Tomé adianta que “daqui para a frente esperamos que as taxas de juro se mantenham altas até que a inflação atinja os níveis próximos dos 2% estabelecidos pelo BCE”, defendendo que poderão existir descidas “entre os 25pb – 75 pbs ao longo do próximo ano”, mas ressalvando: “Tudo vai depender dos dados macroeconómicos”. Sobre o que será possível fazer para que a inflação desça, o diretor executivo da ActivTrades Europe defende que manter as taxas de juro altas “é a principal ferramenta à disposição do BCE para controlar a inflação, daí a relutância do banco central em baixá-las até acreditar que os aumentos dos preços estão completamente sob controle”.

Por sua vez, Henrique Tomé considera que, neste momento, “os reguladores já estão a usar os mecanismos de política monetária para fazer face às escaladas de preços”. É preciso ter em conta que o BCE ainda não pretende começar com a redução das taxas de juro. “Somos dependentes dos dados [da economia] e não dependentes do tempo”, disse a presidente do BCE, Christine Lagarde, acrescentando que “não foi discutido qualquer corte de taxas de juro”. “Não achamos que seja altura de ‘baixar a guarda’”, disse a responsável, defendendo que “ainda há trabalho a fazer”. E atirou: “Estamos a assistir uma elevada transmissão da política monetária para a economia”. E o BCE não hesitará “em usar outras ferramentas para preservar esta transmissão”. O problema das famílias

Ainda este mês, o governador do Banco de Portugal (BdP) alertou que a rapidez com que a subida das taxas de juro ocorreu criou um problema de ajustamento às empresas e famílias, que tiveram dificuldades em reagir. Ricardo Evangelista defende que «já teremos atingido o pico» deste ciclo de subidas dos juros das taxas de referência do BCE. E acrescenta: “Com as perspetivas mais otimistas a apontarem para um primeiro corte ainda durante o primeiro semestre de 2024, o panorama deverá em breve começar a melhorar para aqueles que têm que pagar crédito contraído a taxas variáveis, como é o caso das hipotecas para compra de casa”.

Já o analista da XTB diz que “as dificuldades deverão aumentar, já que o aumento das taxas de juro ainda não foi refletido na prestação dos créditos habitação na sua totalidade”. Contudo, acrescenta Henrique Tomé, “os aumentos daqui para a frente serão muito menores e tenderão a diminuir a partir de março de 2024”. Sobre as consequências, o analista destaca “a perda de poder de compra dos agregados familiares, perda de competitividade e de investimento por parte das empresas”. Em última instância, “poderá causar problemas de incumprimento das obrigações de crédito por parte das famílias e empresas”.